Quem circular pelas redondezas do polo industrial de Camaçari, a cerca de 40 quilômetros de Salvador, facilmente enxergará algo que lembra Ludwigshafen, cidade alemã de 160 mil habitantes, situada às margens do rio Reno. A semelhança, evidentemente, não está na paisagem, mas na vocação industrial. Ludwigshafen é globalmente conhecida por sediar a multinacional Basf, maior empresa química do mundo, dona de um faturamento de R$ 258 bilhões, no ano passado. Já o município baiano se tornou mais um endereço da companhia com a inauguração, na última sexta-feira 19, do Complexo Acrílico de Camaçari.

A construção da unidade, a mais moderna do grupo em equipamentos e processos produtivos, custou R$ 1,7 bilhão e será o alicerce das estratégias da Basf na América do Sul, onde 40% do faturamento é proveniente de insumos agrícolas. Globalmente, o agronegócio responde por apenas 7% das vendas da companhia. Por essa razão, sem negligenciar o potencial do campo brasileiro, a Basf pretende equilibrar as receitas, ampliando as vendas de matérias-primas acrílicas, utilizadas na produção de tintas, vernizes, adesivos e até fraldas.

“Colocar essa estratégia em prática ajudará a balancear o portfólio no Brasil, já que a participação dos químicos na América do Sul não é tão forte como deve ser”, afirma Ralph Schweens, presidente da Basf, na América do Sul. “Essa fábrica será fundamental para atingirmos a meta de manter o crescimento de 10% ao ano”, diz Rui Goerck, vice-presidente de químicos e produtos da Basf, na América Latina. A unidade será também base de exportações para os Estados Unidos, o maior mercado da companhia, ao menos nos primeiros anos. “Como a produção em Camaçari excederá a demanda regional, exportaremos cerca de 30% da produção do acrílico para o mercado americano”, afirma o vice-presidente.

O esforço para ampliar a participação dos produtos químicos no Brasil não é recente. Desde os anos de 1980, a companhia, que é dona da Suvinil, líder do mercado nacional de tintas, estuda caminhos para fortalecer suas operações para além das fronteiras do agronegócio. Alguns obstáculos, no entanto, como o custo da energia, a volatilidade da economia e a instabilidade do câmbio, prejudicaram o amadurecimento desses planos. A ofensiva, desta vez, se sustentará no bom desempenho do Complexo de Camaçari, que tem capacidade tanto para suprir a demanda do mercado interno, quanto para abastecer o exterior.

A balança comercial do setor fechou o trimestre com déficit de US$ 6 bilhões, valor 6% inferior ao registrado no ano passado. Com a nova fábrica, a Basf ajudará a atenuar o rombo. A expectativa é de que a companhia reduza em US$ 200 milhões as importações de matérias-primas em 2015. Ao mesmo tempo, o grupo deve adicionar US$ 100 milhões a suas exportações. “Não existe segredo na indústria química”, diz Fernando Figueiredo, presidente da Abiquim. “Se os segmentos que vendemos não vão bem, caímos automaticamente.”

A decisão da Basf de investir pesado no País, na contramão do período de vacas magras que a indústria atravessa, foi bem recebida não só por entidades do setor, como, também, por companhias que consomem suas matérias-primas. Exemplo disso é a multinacional americana Kimberly-Clark. Parceira mundial da gigante alemã, a empresa instalou uma fábrica ao lado da nova unidade baiana, onde são produzidas as fraldas Huggies e o papel higiênico Neve – ambos com um material superabsorvente desenvolvido pela Basf. Segundo Marcelo Zenni, gerente da fábrica da Kimberly, em Camaçari, além da redução de custo com logística, agora os produtos não precisarão mais ser importados. “Teremos mais velocidade e benefícios”, diz o executivo.