No final da entrevista para esta reportagem, o presidente da Suzano SA, Walter Schalka, fez apenas um pedido. Que a foto, produzida especialmente para ilustrar a Empresa do Ano de AS MELHORES DA DINHEIRO 2022 mostrasse o máximo possível de colaboradores. Por isso a imagem que você vê tem tanta gente. Para Schalka, seus rostos e expressões traduzem os pilares da cultura da companhia. Um deles está expresso na seguinte frase: Pessoas que inspiram e transformam. O capital humano da empresa, de acordo com seu relatório de 2021, é formado por 16.679 colaboradores(as) próprios(as) e 20.375 colaboradores(as) terceiros(as). Mais de 37 mil pessoas engajadas em um proposto que vai além de produzir resultados financeiros robustos. “Não queremos metas que sejam atingidas para que possamos celebrar e sim metas que sejam capazes de transformar as relações”, afirmou o presidente, antes de enunciar o segundo pilar da Suzano que se relaciona com a foto desta reportagem: Criar e compartilhar valor com todas as partes interessadas. “Sem criar valor, você não tem o que distribuir. Por isso é preciso ter uma estratégia e uma operação adequadas para criar valor”, disse Schalka. Para ele, a arte de distribuir valor faz parte dessa estratégia. “A gente tem que distribuir valor para acionista, colaborador, fornecedor, credor e para as comunidades em que nós atuamos. É genuíno que todas essas partes queiram receber mais. A nossa atribuição é saber gerir esse recurso para distribuir de forma adequada.” Em 2021, a Suzano teve uma receita líquida recorde de R$ 41 bilhões e realizou mais de R$ 65 milhões em investimentos sociais.

O terceiro pilar da cultura da empresa, contudo, vai além de seus colaboradores, fornecedores, credores e comunidades. Afeta até quem não tem nada a ver com a Suzano. E está resumido da seguinte forma: Só é bom para nós se for bom para o planeta.”Entendemos que a nossa responsabilidade excede a nossa cerca. Não podemos simplesmente maximizar valor através de eficiência, produtividade, business model. Precisamos pensar em como a gente impacta a sociedade e o mundo”, disse Schalka. “É isso que nos move.”

Para colocar isso em prática no dia a dia, a Suzano dividiu seus compromissos em dois grandes blocos. Um diz respeito ao âmbito das pessoas e traz os seguintes desafios: diminuir a pobreza, impulsionar a educação, promover diversidade e inclusão. O outro bloco se refere ao planeta e tem seis princípios gerais: combater a crise climática, oferecer produtos renováveis, cuidar da água, reduzir os resíduos, gerar energia limpa e conservar a biodiversidade. “Ao colocar metas tão ambiciosas, de vez em quando você não chega nelas. Mas quando chega, coloca outra. Isso é que dá a energia da transformação. Por isso a companhia está se transformando e tempo todo”, afirmou o presidente.

ECONOMIA VERDE Área de floresta da Suzano, empresa que tem a meta de remover 40 milhões de toneladas de carbono da atmosfera até 2025. (Crédito:Sérgio Zacchi)

Com o intuito de zelar para que essa transformação permanente não tire a Suzano de seu foco e nem desperdice energia em iniciativas infrutíferas, a empresa estabeleceu um propósito organizacional: “Renovar a vida a partir da árvore”. Em seu Relatório Anual 2021, documento que reúne os principais destaques do período e as metas de longo prazo da empresa, mereceu especial atenção o lançamento do Projeto Cerrado, iniciativa que irá ampliar em mais de 20% a capacidade anual instalada de produção de celulose a partir de 2024. Segundo a empresa, isso será possível com a construção de uma nova unidade fabril em Ribas do Rio Pardo (MS), com capacidade de 2,55 milhões de toneladas anuais de celulose. Trata-se de um dos maiores investimentos privados no País, com recursos estimados em R$ 19,3 bilhões. “Com a nova unidade, teremos a maior planta de celulose em linha única do mundo”, disse Schalka. Ele conta que a unidade terá como característica a alta competitividade e a ecoeficiência. “Buscamos o estado da arte em tecnologia para garantir estabilidade e performance ao menor custo e impacto socioambiental possíveis.”

100 PAÍSES Com 11 fábricas em operação no Brasil, além da joint operation Veracel Celulose (empresa que tem como acionista também a sueco-finlandesa Stora Enso), a Suzano produz anualmente 10,9 milhões de toneladas de celulose, o que faz dela a maior do mundo no setor. Com 1,4 milhão de toneladas de papéis para diferentes usos e aplicações, ela é também uma das líderes do segmento. Segundo a empresa, seus produtos chegam a um mercado estimado em
2 bilhões de pessoas, em 100 países.

Para qualquer companhia que tenha esse gigantismo, a preocupação com o impacto socioambiental tende a ser um tema prioritário. Na Suzano, a sustentabilidade é mensurada em mais de 450 indicadores com dados sobre consumo de água, manejo florestal, desenvolvimento social, emissões e cadeia de valor. Os principais indicadores relacionados à gestão e ao desempenho da Suzano se referem aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), instituídos pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2012. No combate à crise climática, para citar um exemplo, a meta da empresa é remover 40 milhões de toneladas de carbono na atmosfera até 2025. Em 2021, 60,2% da meta foi alcançada. E além de agir dentro do seu próprio segmento, a empresa atua no combate do desmatamento ilegal da Amazônia, que representa, segundo Schalka, 97% do desmatamento total da floresta. “Nós fazemos isso não apenas por uma melhor inserção do Brasil na geopolítica internacional mas por defendermos que seja regulado o mercado de carbono global.” Segundo ele, os países do hemisfério norte deveriam ter a obrigação de pagar pelas florestas preservadas no Brasil. Esse pagamento não seria feito ao governo e sim às comunidades que se tornariam responsáveis pelo carbono retido na natureza. “Aí nós conseguiríamos estimular as pessoas a regenerar áreas degradadas e trazer para o Brasil US$ 10 bilhões anuais. Isso é muitas vezes mais do que o governo tem de recurso para investir nas 25 milhões de pessoas amazônicas.”

A Suzano, segundo Schalka, tem sido muito vocal na busca de soluções para o que ele entende por “desafios geracionais”. O primeiro é a questão climática. “Eu fico muito incomodado com o discurso que todo mundo faz de ser mais verde e, na prática, emite mais carbono”, disse o presidente da Suzano. Isso ocorre, segundo ele, porque a população mundial cresce todos os dias e as pessoas estão consumindo mais produtos, aumentando a intensidade de carbono. “A Suzano quer trabalhar para ser parte da solução da crise climática.” A estratégia para isso é agir: emitir menos e sequestrar mais carbono com a regeneração de áreas de florestas nativas. Mas só isso, segundo ele, não basta. É preciso educar. “Não existe bioeconomia sem bioconsumidor”, afirmou.

O segundo desafio que Schalka entende como geracional é a desigualdade de oportunidades. “Não dá para uma pessoa sair de uma comunidade com baixíssima renda e conseguir ascender de forma expressiva. Temos que encontrar uma solução para ser mais inclusivos, permitir que a sociedade e a Suzano se movam na direção correta.” Nesse sentido, gerar oportunidades também exige investimento em educação, que para ele é a “única coisa que transforma a sociedade”. Por entender que essa não pode ser uma responsabilidade exclusiva do Estado, mesmo que seja sua obrigação constitucional, a Suzano tem um programa social voltado para a melhoria do ensino, de forma a habilitar os jovens a ter empregos melhores, com renda sustentável e autodesenvolvimento. “Queremos melhorar a qualidade da educação de 100 mil crianças nas comunidades em que atuamos”, disse o presidente. A meta é aumentar em 40% a nota do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, criado pelo governo federal para medir a qualidade do ensino nas escolas públicas) desses alunos até 2030.

Essa meta se soma a outra, de tirar 200 mil pessoas da pobreza gerando renda sustentável para as comunidades em que a empresa atua. Pouca gente sabe que a Suzano é o maior produtor de mel do Brasil. Ainda assim, a renda gerada por essa produção é zero para a empresa. “Nós ajudamos a produzir e a vender, mas 100% da receita vai para as comunidades. Eu sei que isso é uma gota d’água no oceano dos problemas que temos, mas é algo estrutural.” Para a Suzano, o papel das empresas não se resume a buscar crescimento. Elas devem ser agentes de mobilidade social. Essa é uma das formas de renovar a vida, a sociedade e o planeta.