No domingo 27, uma propaganda estrelada pelo atleta jamaicano Usain Bolt, o homem mais rápido do mundo, anunciava a chegada de mais uma instituição financeira ao mercado de varejo. O banco Original anunciava o lançamento de uma plataforma 100% digital. Controlado pela holding J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, do frigorífico JBS, o Original investiu R$ 600 milhões no negócio, buscando conquistar 100 mil clientes com uma imagem do velocista e a mensagem “ser original é fazer o mesmo que os outros, mas como nenhum outro faz”. “O avanço da tecnologia, de um lado, e do comércio eletrônico, de outro, nos permitem hoje oferecer um banco 100% digital”, disse Henrique Meirelles, presidente do conselho da J&F e ex-presidente do Banco Central (BC), em uma entrevista ao Valor Econômico na segunda-feira 28. 

A propaganda com temática olímpica não é coincidência. Ao deixar o BC, no fim de 2010, Meirelles comandou o Conselho Público Olímpico, a instância máxima da Autoridade Pública Olímpica, entre março de 2011 e maio de 2015. Não é a primeira vez que um banco tenta queimar etapas usando a tecnologia para substituir as redes de agências. No início do Plano Real, em 1995, o Unibanco lançou o Banco Um, oferecendo atendimento por internet, telefone, fax e mensageiros em vez de agências.

Inovadora, a ideia tropeçou na falta de cultura da clientela e na precária estrutura de telecomunicações de então. Cinco anos mais tarde, na virada do milênio, o espanhol BBVA apostaria no Uno-E, com a mesma proposta. Desta vez, apesar da maior facilidade nas telecomunicações, a falta de fôlego financeiro dos espanhóis fez o projeto ser abandonado em poucos meses. O Original aposta que a maior disseminação das tecnologias móveis permitirá virar esse jogo. O Original, um banco com R$ 6,66 bilhões em ativos e um patrimônio líquido de R$ 2,17 bilhões, não está sozinho na pista. Nos últimos tempos, os grandes bancos têm estado menos reticentes em digitalizar seus serviços. Em meados de 2015, ao apresentar seus resultados do primeiro semestre, Roberto Setubal, presidente-executivo do Itaú Unibanco, disse que a meta do banco é fechar as portas de cerca de duas mil agências nos próximos dois anos.

Ao longo do segundo semestre do ano passado, o banco transformou alguns clientes do segmento Personnalité em digitais. Discretamente, eles têm sido incentivados a usar apenas o telefone e a internet, deixando de estar vinculados a uma agência específica. Santander e Bradesco anunciaram iniciativas semelhantes neste ano. Em meados de março, o Bradesco passou a incentivar seus clientes a não aparecer na agência, algo revolucionário para o banco, que sempre privilegiou o contato pessoal.

Josué Augusto Pancini, vice-presidente do Bradesco responsável pelo varejo, avalia que o campo é vasto. “Identifica-mos mais de 3,1 milhões de clientes com este perfil, dos quais 800 mil são do segmento Exclusive e 200 mil do Prime”, diz ele. O cliente com comportamento digital é o que realiza mais de 90% de suas transações com o banco por meio da internet ou do celular. “Na maioria dos casos, são clientes que quase não usam as agências tradicionais”, diz Pancini. No entanto, o Bradesco adotou uma abordagem suave.

“O cliente é convidado a mudar, mas respeitamos a opção daqueles que preferem permanecer na agência”, afirma o executivo. No mês passado, o Santander divulgou uma iniciativa semelhante. No início do 2015, o banco espanhol havia adquirido 50% da ContaSuper, uma plataforma digital de pagamentos. No dia 14 de março, Ezequiel Archipretre, superintendente executivo de produtos de varejo do Santander anunciou a aquisição dos 50% restantes.

“Fizemos um investimento para testar o mercado e o resultado nos supreendeu”, diz ele. “Nós esperávamos conquistar 200 mil clientes no primeiro ano, mas superamos essa meta em 50 mil clientes sem grandes esforços de divulgação.” Archipretre avalia que há um milhão de clientes em potencial à disposição do Santander. hoje em sua maioria não atendidos pela atividade bancária tradicional. “Trabalhadores temporários e empregados domésticos são todos usuários em potencial de um banco lastreado em transações digitais.”