26/08/2016 - 20:00
A cúpula do Banco Original torceu para que o velocista Usain Bolt fosse rápido na Olimpíada do Rio de Janeiro. Rápido, mas não demais. O atleta jamaicano é o garoto propaganda do banco virtual desde seu lançamento em abril, e a expectativa dos executivos era que Bolt subisse ao pódio, mas nada além disso. Por trás desse aparente paradoxo está o cartão de crédito 9.58, lançado pelo banco. O número marca o tempo de Bolt nos 100 metros rasos no Mundial de Atletismo em Berlim, em 2009, quando o jamaicano quebrou seu próprio recorde de 2008 em Pequim, e venceu seu principal rival, o americano Tyson Gray. “Torcemos muito pelo Bolt, mas, no fundo, esperávamos que ele não quebrasse o recorde de novo”, diz Marcos Lacerda, diretor de Marketing do Original. Por isso, quando o atleta completou os 100 metros em 9,81 segundos, garantindo uma de suas três medalhas de ouro, o alívio foi geral.
Associar sua imagem ao carismático atleta jamaicano ajudou o Original a antecipar metas. Lançada em abril, a plataforma virtual do banco ligado à holding J&F, que também controla o frigorífico JBS, pretendia conquistar 100 mil clientes até abril de 2017. Graças à arrancada de Bolt, esse tempo foi reduzido para outubro deste ano. A campanha com Bolt foi veiculada de 27 de março até o fim de junho. O banco não informa quanto pagou ao atleta, cujo contrato vai até julho de 2017, nem quanto investiu na campanha, revelando apenas os gastos totais, de R$ 600 milhões.
O Original aposta em uma tendência que vem ganhando corpo no mercado, a dos bancos 100% virtuais. Durante muitos anos, as iniciativas do sistema financeiro nesse sentido fracassaram, principalmente devido às deficiências tecnológicas e de comunicação. Agora, a popularização dos smartphones e o aumento da cobertura das redes sem fio oferecem uma nova oportunidade aos bancos, diz Guilhermo Bressane, diretor responsável pela área de finanças do Google Brasil. O Original quer aproveitar esse vento a favor para arrancar.
Outro pilar é uma estratégia de marketing agressiva. Um dos exemplos é o programa de milhagem do cartão 9.58. “Nosso diferencial é que os pontos do programa de milhagem são transformados em dinheiro, que podem ser creditados na fatura do cartão, para serem gastos como o cliente quiser, ou podem ainda abater parte do valor da fatura a ser paga”, diz Lacerda. Em geral, os programas de milhagens dos bancos restringem a troca de pontos a produtos de seus catálogos ou para a compra de passagens aéreas e diárias de hotel ou de locação de carros.
A arrancada do Original foi muito facilitada por uma mudança na legislação. Tradicionalmente, as instituições precisam comprovar que os clientes são quem afirmam ser, que estão vivos, e que as informações que fornecem são verdadeiras. Isso destina-se a evitar, por exemplo, crimes como fraudes e lavagem de dinheiro. No entanto, para ampliar o acesso da população de renda mais baixa aos bancos, em abril, o Conselho Monetário Nacional (CMN) autorizou a abertura de contas de maneira totalmente virtual. O cliente pode fotografar seus documentos e mandar os arquivos para o banco de maneira digital, sem a necessidade de ir à agência ou de receber a visita de um gerente. Para evitar as fraudes, o Original investiu em uma plataforma específica para a validação de dados, com confirmações baseadas em recursos de Big Data e informações obtidas das redes sociais. Softwares com detectores de imagem, por exemplo, analisam se a imagem do vídeo corresponde a dos documentos enviados pelos clientes. “Ajudamos o Banco Central a permitir a abertura de contas por meio de aplicativos em celulares, algo que não estava previsto com a criação da norma do BC em 1992, porque não havia essa tecnologia”, afirma Lacerda. “Em breve, vamos lançar mais duas novidades que não existem ainda no mercado brasileiro.” Perguntado se poderia dar detalhes, Lacerda despista. Afinal, o banco pode ser inovador, mas o segredo ainda é a alma do negócio.