22/07/2016 - 20:00
O escritor americano Mark Twain (1935-1910), um dos mais polêmicos pensadores de sua época, ganhou notoriedade ao descrever, com precisão, as diferenças mais marcantes entre os “idiotas” e os “sábios”. Ele se tornou um crítico agudo da sociedade americana, que tomava – e ainda toma – as decisões mais importantes do país movida pela emoção, pela irracionalidade. “As pessoas que merecem respeito nunca cometem os mesmos erros duas vezes. Descobrem sempre novos erros para cometer”, disse Twain, indignado com a segunda invasão dos Estados Unidos em Cuba, em 1906.
Se estivesse vivo, Twain talvez teria motivos muito maiores para se revoltar. Ao dar espaço para que Donald Trump avance na corrida eleitoral dos Estados Unidos, a nação mais poderosa do planeta – poder que não reflete, nem de longe, o coeficiente de inteligência de sua população – repete o equívoco que levou, por exemplo, George W. Bush à Casa Branca por dois mandatos. Na quarta-feira 20, o bilionário de 70 anos foi oficializado como candidato pelo Partido Republicano, contrariando os prognósticos daqueles que acreditavam que o bom-senso venceria. “Estamos vivendo uma perigosa escalada do nacionalismo”, definiu o governador de Ohio, John Kasich, o último dos 16 concorrentes a deixar a disputa pela candidatura.
A ascensão de Trump revela que, mais do que apenas um movimento nacionalista, a sociedade americana está regredindo em suas posições – algo semelhante ao que ocorreu, guardadas as devidas proporções, na Alemanha pré-Hitler. E todos sabem como essa história terminou. O bilionário falastrão está arrebatando multidões com seu discurso de fechamento das fronteiras, construção de muro na divisa com o México, proibição de entrada de muçulmanos no país, expulsão de imigrantes (mesmo os que já são legalizados), entre outros absurdos racistas e xenofóbicos.
Em tese, em uma democracia consolidada pode se falar o que bem entender. O problema é que o sucesso de Trump mostra também a vontade e o pensamento de grande parte dos americanos. Isso assusta. Mesmo que não vença Hillary Clinton, ele será o porta-voz de um sentimento geral de insatisfação com a política migratória, uma intolerância que poderá levar os Estados Unidos a um caminho realmente perigoso. A ameaça Trump não é um risco apenas aos seus eleitores, é um perigo em escala global.
O retrocesso social observado nos Estados Unidos não é uma exclusividade, evidentemente, dos americanos. Ondas nacionalistas e isolacionistas já tiraram o Reino Unido da União Europeia, empurraram a Argentina e a Venezuela às piores condições econômicas de suas histórias, além de ter causado estragos incalculáveis a dezenas, talvez centenas, de países em todo o mundo nos últimos anos. Por aqui, o populismo também prosperou. Sob o argumento de união contra o imperialismo, o ex-presidente Lula tirou fotos dando tapinha nas costas do maluco iraniano Mahmoud Ahmadinejad, que defendia o extermínio do estado de Israel, patrocinou ditaduras africanas – em nome da origem afro de parte da sociedade brasileira – e abandonou as negociações bilaterais com os países mais desenvolvidos, entre muitas outras trapalhadas. Em todos os lugares em que o nacionalismo radical emergiu nas últimas décadas, o resultado foi devastador. As economias encolheram, a população sofreu, o desemprego e a miséria ganharam força. Por estas razões, Donald Trump é, sim, uma ameaça a todos.
*Hugo Cilo é editor de Negócios da DINHEIRO