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A sequência de quedas dos juros diminuiu ainda mais o já restrito ganho da renda fixa e está estimulando o surgimento de novos alquimistas. Na Idade Média, esses estudiosos, meio místicos e meio cientistas, tentavam transformar chumbo em ouro. É isso que os investidores mais conservadores estão buscando nos dias de hoje: alternativas de investimentos que possibilitem ganhos mesmo com os juros cada vez mais baixos. Para isso, não há outra saída a não ser correr mais riscos. Uma das opções são os Exchange Traded Funds (ETF), também conhecidos como fundos de índice. Esses fundos reproduzem algum indicador do mercado e suas cotas são negociadas em bolsa, da mesma forma que as ações. 

 

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Para Tatiana Grecco, superintendente de fundos indexados do Itaú Asset Management, os ETFs, mesmo sendo um investimento de renda variável, são menos arriscados devido à diversificação de suas carteiras. “O fundo diminui o risco de investir em ações de uma única empresa, já que a carteira é composta por diferentes papéis, como o índice que ela acompanha”, afirma. Os investidores já têm percebido as vantagens da modalidade. Em 2012, até setembro, a média diária de negociações foi de R$ 121,5 milhões em ETFs, um crescimento de quase três vezes em relação a 2011. O patrimônio líquido já soma R$ 3,6 bilhões, montante quase nove vezes maior que os R$ 412 milhões registrados em 2004, quando foi lançado o primeiro fundo de índice no Brasil: o PIBB11, que partiu de ações da empresa de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e é administrado pelo Itaú Unibanco. 

 

Hoje são negociados 15 ETFs na BM&FBovespa e a tendência é de que esse número aumente. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está prestes a permitir que os bancos lancem fundos de índice de renda fixa e analisa, também, a possibilidade de ETFs de índices estrangeiros, o que poderia ampliar ainda mais o mercado. “Essa permissão vai elevar a oferta de produtos, o que pode atrair ainda mais investidores, tanto pessoas físicas que focam no longo prazo como fundos de pensão que querem diversificar a carteira”, diz Julio Ziegelmann, diretor de renda variável da BM&FBovespa. Para Ziegelmann, uma das vantagens do produto é que ele torna alternativas sofisticadas disponíveis a mais aplicadores. 

 

Outros diferenciais colocam os ETFs na lista das preferências do investidor. Um deles são os custos. Antes negociados em lotes de 100 cotas, atualmente esses fundos são negociados em lotes mínimos de dez cotas, tornando-se mais acessíveis aos investidores. Com menos de R$ 600 é possível investir no BOVA11 e nas mais de 60 empresas que compõem o índice Bovespa. “Se o investidor optasse por comprar todas as ações individualmente, teria a mesma variedade de papéis, mas arcaria com um custo muito maior”, diz Tatiana, do Itaú. Além disso, na comparação com os fundos de investimentos tradicionais, a taxa de administração é muito baixa, variando de 0,06% a 0,7%, de acordo com a BM&FBovespa. 

 

Mesmo com as reduções das taxas promovidas pelos gestores de fundos, com o objetivo de manter a atratividade da aplicação, os valores cobrados nos ETFs ainda são competitivos. Outro ponto que chama a atenção são as operações diferenciadas que os ETFs permitem. Elas atraem, sobretudo, os investidores mais experientes. “Diferentemente dos fundos tradicionais, no ETF é possível operar comprado ou vendido, como acontece com as ações”, afirma Ricardo Cavalheiro, diretor de mercado de capitais da BlackRock no Brasil. Outra vantagem, segundo Cavalheiro, é o reinvestimento automático dos dividendos, uma facilidade para o investidor. No entanto, como investimento não é mágica, é preciso ficar de olho nos riscos. 

 

“A decisão de investir em ETF deve ser ponderada, pois, apesar da diversificação, essas cotas têm a volatilidade das ações”, avalia Ziegelmann, da BM&FBovespa. “Por isso, são recomendados para aplicações de longo prazo.” Há também o risco de o administrador do fundo não conseguir acompanhar exatamente o desempenho do respectivo índice. Isso pode ocorrer porque as proporções das ações que compõem a carteira da aplicação podem não ser idênticas. Para diminuir essas incertezas e não transformar ouro (seu dinheiro) em chumbo, é fundamental seguir uma das regras de qualquer alquimista: ler atentamente o regulamento do produto antes de aplicar. “Com essa análise, e com os devidos cuidados tomados, o investidor que apostar em ETFs pode reunir, numa única aplicação, a combinação do baixo custo com o bom desempenho a longo prazo”, diz Cavalheiro. 

 

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