A advogada americana Jodie Kelley lembra com saudosismo da primeira vez em que pisou em um tribunal. Ela havia acabado de se formar na faculdade de direito de Harvard e estava defendendo, gratuitamente, uma adolescente. A jovem trabalhava em um clube de piscinas e seus chefes haviam colocado câmeras no banheiro para filmá-la trocando de roupa. Era um caso ganho. “Fiquei surpresa que a empresa não tenha aceitado minha proposta de acordo antes de irmos para os tribunais’, afirma Jodie. “Minha primeira vitória foi fácil.” Atualmente, Jodie tem um trabalho mais difícil.

Ela é diretora jurídica e vice-presidente sênior de combate à pirataria da Business Software Alliance (BSA), instituição que representa interesses de empresas como Apple, Microsoft, IBM, Adobe e Oracle, entre outras gigantes de um setor que movimentou US$ 398 bilhões, no ano passado. Seu objetivo é convencer as empresas a não usar software pirata. A primeira abordagem é o diálogo. Se não der certo, Jodie entra em ação e processa as empresas que insistem em rodar cópias ilegais em seus computadores. Jodie, no entanto, não frequenta mais os tribunais – ela conta com uma equipe para fazer esse trabalho.

Sua atuação está restrita aos bastidores, gerenciando os vários escritórios da BSA, espalhados por 60 países. Por conta da fiscalização, a pirataria de software está se reduzindo no mundo. No Brasil, 50% dos programas instalados nos computadores são piratas, o que correspondente a US$ 2,8 bilhões em licenças não pagas, segundo estudo encomendado pela BSA para a consultoria IDC. Mas já foi pior: há dez anos, eram 90%. Os EUA são o país com melhor desempenho nesse quesito: na terra de Jodie, a pirataria é de apenas 18%.

Uma estratégia utilizada para convencer as empresas a descartar os softwares piratas é mostrar os prejuízos que podem causar. No ano passado, segundo o estudo da IDC, foram gastos US$ 5 bilhões para reparar danos causados por programas ilegais nos computadores. “Meu trabalho não é impossível”, diz Jodie, em tom de brincadeira. “Para completar, eu ainda viajo o mundo e conheço lugares como o Brasil.” Precavida, a advogada procura cercar-se de cuidados em seu cotidiano, para não fazer jus ao velho ditado “casa de ferreiro, espeto de pau.” Seu filho mais velho, diz ela, que acaba de se formar, abriu um negócio de música. “Fui pessoalmente garantir que todo programa que ele estava usando era original.”