O ano de 2012 pode ser considerado um divisor de águas no mercado de private banking no Brasil. O motivo é simples. A queda consistente das taxas de juros vem estimulando os abonados clientes desse segmento a diversificar suas aplicações. “Não é mais possível oferecer ao cliente títulos imobiliários isentos de imposto como a alternativa mais sofisticada”, diz Maria Eugênia López, presidente do private bank do Santander. Nesse quadro, os investimentos no mercado internacional de moedas vêm ganhando popularidade. “Essas aplicações já representam uma boa fatia dos ativos”, diz ela, sem divulgar números.

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Tradicionalmente alheios às flutuações internacionais das moedas, por causa da regulamentação extremamente rígida do mercado cambial por aqui, os investidores brasileiros mais sofisticados vêm aproveitando cada vez mais as vastas oportunidades lá fora. O mercado é amplo. As operações cambiais giram, todos os dias, cerca de US$ 4 trilhões no mundo, segundo o Banco de Compensações Internacionais, o banco central dos bancos centrais. O número é tão grande que requer uma comparação. Esse volume representa 1,2 mil vezes o giro diário da bolsa de valores.

 

As transações mais comuns são as que envolvem as principais moedas, como apostas de queda ou alta do dólar em relação ao euro, ou transações envolvendo a moeda única europeia e os ienes do Japão, por exemplo. “Esse é um mercado sofisticado e para profissionais”, diz João Albino Winkelmann, gerente do private bank do Bradesco. Para quem tem sangue-frio, os bancos oferecem várias opções (veja quadro). As emoções são fortes. Nos seis meses até 26 de janeiro, quem saiu do euro e migrou para o dólar ganhou 7,59%. Já quem saiu da moeda americana e foi para o iene japonês perdeu cerca de 2%. 

 

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Um banco que estuda oferecer esses produtos a seus clientes mais abonados é o HSBC. O diretor de investimentos Marcelo Muradian diz que a área de private banking está preparando um fundo de câmbio internacional, que vai fazer apostas na alta e na baixa de diferentes grupos de moeda. Um deles contaria apenas com as unidades monetárias dos países desenvolvidos, como o dólar americano e o euro. O outro grupo seria formado por moedas de BRICs ou de países emergentes, como o real brasileiro, os pesos do México e da Colômbia, os dólares de Cingapura e da Malásia e a lira turca. O lucro virá da diferença entre as cotações. 

 

Esse é um ponto importante para quem quer arriscar nesse mercado. Investir em uma moeda não rende juros, e o ganho só existe ao comprar barato e vender mais caro. Cada dólar que entra no bolso de um investidor sai do bolso de outro. “O fundo terá de montar posições protegidas, de maneira a não causar perdas ao investidor”, diz Muradian. Ele informou que o HSBC estuda também montar fundos e operações estruturadas com lastro em commodities e ouro. “O objetivo é ir além dos tradicionais investimentos em renda fixa, multimercado e bolsa”, diz. A maneira menos arriscada de começar nesse mercado é procurar fundos de investimento cambiais listados no Exterior. 

 

Eles funcionam de maneira muito parecida com os fundos cambiais em dólar e em euro negociados por aqui. A diferença é que eles podem fazer apostas em diversos mercados ao mesmo tempo. Para investir nesses fundos, é preciso enviar recursos para fora do Brasil e abrir contas nas instituições que os oferecem. Todos esses investimentos têm de ser informados detalhadamente na declaração de imposto de renda. À medida que o investidor ficar familiarizado com essas operações é possível partir para apostas mais sofisticadas, que envolvem a compra e a venda de moeda nos mercados à vista e a termo, operações no mercado futuro e notas estruturadas. 

 

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Cotações do iene em tóquio: investidor deve ficar atento aos fluxos comerciais, que influenciam

muito as taxas de câmbio.

 

Estas são estratégias complexas que envolvem a compra e a venda de opções e contratos futuros de várias moedas e permitem ao investidor reduzir o risco de movimentos inesperados do mercado. Vale a pena? Oswaldo Cervi, gerente-geral do private bank do Banco do Brasil, enxerga oportunidade de ganhos com as cestas de moedas. Para ele, o euro e o dólar estão desvalorizados em relação a moedas de outros países, e há espaço para corrigir essas distorções. “É preciso levar em conta o fluxo de comércio entre os países antes de investir, pois a balança comercial influencia muito as cotações”, diz.

 

O investidor também precisa ficar atento à tributação dessas aplicações, que pode chegar a 35% do lucro. Apesar do atrativo de apostas sofisticadas em moedas asiáticas e do Oriente Médio, o investidor brasileiro deve seguir um caminho menos exótico. “O dólar ainda é um porto seguro”, diz João Albino Winkelmann, diretor do private bank do Bradesco. “Por mais que o mundo esteja em crise, a procura por dólar sempre será alta.” Segundo ele, 90% dos clientes do private bank do Bradesco migraram do euro para o dólar. Ele adverte que é preciso ter paciência. “Os solavancos nas cotações podem obrigar o investidor a ter de esperar meses, até anos, para ter lucro”, diz Albino.