[posts-relacionados]O senhor foi apontado como CEO da Uber no momento mais conturbado da história da empresa. Como resgatar a imagem da Uber depois dos escândalos envolvendo o fundador Travis Kalanick?
Uma das principais coisas que fiz foi me encontrar com os funcionários, principalmente com quem estava no “chão de fábrica” e com nossos motoristas parceiros. Um dos grandes problemas dos CEOs atuais é que eles tendem a se isolar. Então, quanto mais alto você está em uma empresa, menos você sabe o que está acontecendo.

E o que o senhor ouviu deles?
Que precisávamos melhorar. Nossa empresa tinha uma cultura de crescimento a qualquer custo. Só que esse custo chegou. Então, era preciso mudar isso para uma cultura de crescimento responsável. Crescer em parceria com o mundo e não contra ele.

Como mudar essa cultura?
Criamos valores que representavam o que nossos funcionários queriam que fôssemos. Apesar dessas diferenças, todos podem contribuir para o futuro da Uber. Também introduzimos uma norma que eu repito todos os dias para mim mesmo. “Nós fazemos a coisa certa e ponto final.” Isso pode significar algo diferente para cada pessoa, mas é um princípio que nos guia e nos permite crescer.

Durante a apresentação no Elevate Summit, houve um certo momento em que foi mostrada uma tela com o rosto de 10 executivos considerados chave para o projeto. Havia somente uma mulher entre eles. Não é pouco?
Acredito que precisamos trazer mais mulheres para a Uber. Eu também acredito que esse é um problema do mercado de tecnologia em geral. É preciso encorajar as mulheres a quererem trabalhar em campos técnicos, seja em áreas de programação ou no desenvolvimento e design de produtos.

Como a Uber está tentando fazer isso?
É preciso garantir que o nosso processo de recrutamento inclua homens, mulheres e também minorias subrepresentadas. Isso pode fazer com que o processo de seleção seja mais lento, mas é preciso lutar para que tenhamos um ambiente diversificado. Esse é um investimento que vale a pena ser feito, mas que não resolve todos os problemas.

Por que o senhor acha que foi escolhido para comandar a Uber?
Sobre isso, você tem que perguntar para o conselho de diretores que me nomeou (risos). Acredito que eu fiz uma boa caminhada na Expedia. Eu tinha um time que não apenas construiu uma empresa de sucesso, mas que teve sucesso da maneira certa. Eu também tenho grande afinidade com produtos e com tecnologia, mas tenho uma afinidade ainda maior por pessoas. Existe uma conexão entre a humanidade e a tecnologia. Eu acho que as pessoas podem salvar o mundo.

Por que esse casamento entre o senhor e a Uber deu certo?
Ainda é cedo. Estamos vivendo uma fase de lua de mel em que nós dois gostamos do que temos visto até agora. Para mim, essa era a oportunidade da minha vida.

Nos últimos meses, a Uber vem apostando em outras formas de transporte além dos carros, como bicicletas elétricas e aeronaves elétricas. Como integrar tudo isso em uma única plataforma?
É muito mais fácil falar do que fazer. Queremos fazer as pessoas irem do ponto A ao ponto B da melhor maneira possível. É preciso reunir dados sobre a localização em tempo real do usuário, um mecanismo de transporte que cria rotas com preços dinâmicos e uma ótima maneira de usar tudo isso apenas pressionando um botão.

O transporte aéreo de passageiros parece uma ideia bem futurista…
É futurista, mas eu também acredito que seja algo prático. Há uma tendência que aponta que, cada vez mais, pessoas estão indo para as grandes cidades do planeta, que só vão ficar maiores e mais densas.Isso é futurista e envolve um pensamento a longo prazo, mas é parte da solução que nós precisamos para as metrópoles mundiais.

A Uber enfrenta muitas críticas em relação a segurança. O que tem sido feito para mudar isso?
Definimos que a segurança seria a prioridade em 2018. Quando você constrói uma plataforma como a Uber, com 50 milhões de corridas por dia, você vai construir uma plataforma que tem boas e más pessoas nela. Criamos mecanismos que permitem que os usuários possam compartilhar seus trajetos em tempo real enquanto estão em um Uber. Há uma série de outras coisas que estamos fazendo, visíveis ou não aos usuários, para criar o sistema de transporte mais seguro do mundo.

Motoristas costumam reclamar que a Uber tem taxas altas e não paga o suficiente. Como o senhor lida com essa questão?
O mercado certamente sugere que nós pagamos o suficiente. Os nossos preços permitem que nós tenhamos uma grande demanda e que os nossos motoristas possam trabalhar bastante. Caso contrário, não teríamos mais de 500 mil motoristas no Brasil, por exemplo. Acredito que nós somos altamente competitivos.

O senhor esteve no País em novembro para acompanhar a votação que criaria uma regulamentação aos aplicativos de transporte. Como foi essa visita?
Foi um pouco alarmante. O Brasil é tão importante para nós e sentíamos que esse mercado poderia ficar distante. Me encontrei com uma boa quantidade de motoristas parceiros e também com membros do governo. Não era porque não queríamos estar regulamentados, mas pensávamos que era preciso criar uma regulação apropriada.

Quais os seus planos para a expansão da Uber no Brasil?
O investimento de US$ 60 milhões em São Paulo é bem significativo e será usado no desenvolvimento de nosso suporte aos consumidores e no suporte das operações no Brasil, que será um centro para todas as operações da América Latina. Nós queremos crescer no Brasil e acho que estamos fazendo isso bem. Saber que nós estamos alinhados com as políticas do País nos permite investir agressivamente para criar empregos.

O Brasil pode se tornar o principal mercado para a Uber no mundo?
Certamente é um dos nossos três principais mercados e que tem potencial para liderar. Isso depende de nós e do Brasil.

Para o futuro, qual o maior obstáculo que a Uber precisa superar?
Precisamos recuperar a confiança dos nossos consumidores, dos nossos motoristas parceiros e dos muitos órgãos reguladores com os quais trabalhamos. Estamos em um caminho positivo para fazer isso. Assim como essa confiança não foi perdida da noite para o dia, vai levar anos para recuperá-la. E não se pode ter expectativas em relação a isso, é algo que vai vir com o tempo. Você simplesmente tem de fazer a coisa certa, trabalhar duro e ter fé que as coisas boas virão com isso.