23/05/2012 - 21:00
O mundo desabou sobre a cabeça do americano Scott Thompson, que assumiu o posto de CEO do Yahoo! em janeiro, depois de vir à tona a notícia de que havia fornecido informação falsa em seu currículo – ele jamais cursou ciências da computação, diferentemente do que registrara seu CV. Nem mesmo o pedido de desculpas feito em memorando aos funcionários o livrou da demissão, consumada no domingo 13. Quem assumiu o comando da empresa, interinamente, foi o vice-presidente de mídia global, Ross Levinsohn, que já trabalhou na News Corp., o império de comunicação de Rupert Murdoch. O episódio se tornou ainda mais dramático quando Thompson revelou, logo após a confirmação de sua saída, que sofre de câncer na glândula tireoide.
Caçador de CEO: Daniel Loeb , gestor do fundo Third Point, pressiona os executivos
que atrapalham seu caminho.
O modo como se deu a demissão do executivo é um duro golpe para o portal, que confiava nele para sair do marasmo. Revela também a disputa de poder dentro do Yahoo!. A queda de Thompson, que antes tinha trabalhado no serviço de pagamento digital Pay Pal, foi provocada diretamente por um homem influente nos bastidores e que tem como característica derrubar CEOs que se interpõem aos seus interesses: Daniel Loeb, gestor do Third Point, fundo de US$ 8 bilhões, que detém 5,8% do portal. Dono de uma fortuna pessoal de US$ 1,2 bilhão, em 2011, segundo a Forbes, Loeb exibe um longo histórico de pressões públicas contra as empresas nas quais investe. Um dos executivos que caíram na antipatia dele foi Leonhard Dreimann, que comandava a Salton, empresa americana de eletrodomésticos.
Em 2005, a companhia registrou queda nos resultados, mas o que deixou Loeb mais furioso foi ver que Dreimann decidiu comprar publicidade de um torneio de tênis ao qual assistiu à final de camarote, enquanto “bebericava e comia petiscos de camarão”. Loeb mandou uma carta para a SEC, o equivalente à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) nos EUA, pedindo sua cabeça. É possível colocar na lista também as pancadas verbais contra Irik Sevin, ex-CEO da fornecedora de gás residencial dos Estados Unidos Star Gas Partners. Ele foi qualificado pelo gestor como “um dos executivos mais perigosos e incompetentes da América”. Um dos pretextos para o vitupério foi o histórico escolar de Sevin, considerado pífio por Loeb. Sevin aceitou a “recomendação” do investidor e pediu para sair.
Não esquentou a cadeira: Scott Thompson pediu desculpas
por mentir no CV, mas caiu mesmo assim.
No caso do Yahoo!, a investida de Loeb para derrubar Thompson foi uma reação ao fato de a companhia ter negado seu pedido de três cadeiras no conselho de administração – uma delas para ele próprio. A alegação do Yahoo! foi de que “faltava qualificação” aos indicados pelo gestor. É aí que Thompson entra na história: seu calcanhar de aquiles foi justamente ter mentido sobre sua formação. A descoberta da mancada curricular, aliás, não foi fruto do acaso. A notícia veio à tona porque Loeb xeretou o histórico profissional do executivo e constatou que Thompson exibia em seu CV a graduação em ciências da computação no Stonehill College, faculdade católica perto de Boston, o que não ocorreu. Loeb exigiu, então, a demissão do executivo. E conseguiu.
Com a saída de Thompson, o Yahoo! aceitou o ingresso de Loeb no conselho, assim como o de seus indicados, o ex-COO e presidente da MTV Networks, Michael Wolf, e o especialista em recuperação de empresas Harry Wilson. Embora tenha vencido essa batalha, a vida não deverá ser fácil para Loeb. A jogada contra Thompson não pegou bem perante alguns integrantes do conselho, especialmente depois do anúncio da doença de Thompson. Manter boas relações dentro do conselho será fundamental para Loeb influenciar na questão que mais o interessa: a participação que o Yahoo! detém no grupo chinês Alibaba, um dos maiores sites de comércio eletrônico entre empresas do mundo. Thompson, por sua vez, não estava preocupado com esse assunto. A receita dele para fazer o Yahoo! — cujas ações, que já valeram US$ 108 e hoje estão cotadas a US$ 15 — voltar a brilhar era focar no conteúdo e na publicidade online.
Nesta área, a empresa perde terreno. Segundo a consultoria EMarketer, a participação da companhia no setor de propaganda digital nos Estados Unidos caiu de 15,4% para 10,8%. Para recolocar o portal nos eixos, Thompson demitiu dois mil funcionários — 14% do quadro — e anunciou o fechamento de cerca de 50 departamentos que traziam prejuízos. Pode ser que agora, porém, o rumo mude. Em um comunicado, Levinsohn disse que o Yahoo! deve aprender a acolher mudanças na “velocidade da luz”. Resta saber se a convivência com Loeb será boa. Levinsohn foi contratado por Carol Bartz, a antecessora de Thompson. Segundo o Wall Street Journal, Carol abandonou repentinamente o cargo por causa da pressão de um certo investidor, que atende pelo nome de Daniel Loeb.