10/06/2016 - 20:00
PMDB, PTB, PDT, PT, DEM, PCdoB, PSB, PSDB, PTC, PSC, PMN, PRP, PPS, PV, PTdoB, PP, PSTU, PCB, PRTB, PHS, PSDC, PCO, PTN, PSL, PRB, PSOL, PR, PSD, PPL, PEN, PROS, SD, NOVO, REDE e PMB. Ganha uma passagem de ida para a Síria quem conseguir recitar todas essas siglas, sem a necessidade de uma cola, de forma límpida, clara e sem gaguejar. E ganha o bilhete de retorno quem for capaz de saber o significado desse amontoado de letras do alfabeto. De A a Z, esse é o emaranhado de partidos políticos brasileiros. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, o Brasil conta com nada menos do que 35 siglas legalmente registradas. Na Câmara dos Deputados, há representantes de 27 legendas.
Não fosse o suficiente, o Brasil pode ganhar mais um partido em breve. Trata-se do Partido Nacional Corinthiano (PNC), que conseguiu seu registro estadual pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo. A aprovação estadual é uma das etapas que todo partido deve cumprir para obter o registro em âmbito nacional. Em sua página no Facebook, descobre-se que o PNC “é inspirado no Dr. Sócrates e seu movimento da Democracia Corinthiana, que ajudou a derrubar a ditadura militar”. No site na internet, os links para o estatuto e aos manifestos da agremiação estão quebrados. “O Partido Nacional Corinthiano não se encaixa em uma definição prévia de partido de centro, de direita ou de esquerda, pois não segue os ‘ismos´ de ideologias que não deram certo ao longo da nossa República, como o socialismo, o neoliberalismo, o comunismo, o evangelismo etc”, diz um texto assinado por um certo Juan Antonio Moreno Grangeiro, presidente do PNC e ex-secretário de Meio Ambiente do Município de Ubatuba, no litoral norte paulista.
Não consigo enxergar nenhuma razão lógica para a existência de um partido apoiado na paixão irracional do futebol. Como também não há nenhum motivo para que existam 35 partidos políticos no Brasil. Eis a raiz do fisiologismo, do qual todos os presidentes, independentemente da coloração ideológica, são reféns. É impossível, repito, impossível governar o País com tantas siglas assim. Quem sentar-se na cadeira presidencial terá inevitavelmente de formar uma base parlamentar negociando com uma boa parte deles, cedendo nacos do poder a homens públicos que, na maioria das vezes, defendem apenas os seus interesses privados. Muitos, na verdade, apenas estão de olho no Fundo Partidário, cujo orçamento prevê a distribuição de R$ 819 milhões em 2016.
Nada é mais urgente do que uma reforma política, que restrinja o número de partidos, estabelecendo cláusulas de barreira mais efetivas. Cabe também discutir mais a fundo a questão da fidelidade partidária para evitar a indecente troca de siglas que costuma ocorrer a cada legislatura. Atualmente, acredito, apenas cinco legendas seriam suficientes para representar todo o espectro político: esquerda, centro-esquerda, centro, centro-direita e direita. Essas cinco agremiações seriam capazes de abranger os mais diferentes interesses da sociedade, inclusive os dos corinthianos. Caso contrário, sem mudarmos a organização partidária brasileira, estaremos eternamente mergulhados na crise. Só nos restaria, então, parafrasear um cântico de guerra, que faz sucesso entre os torcedores da Fiel: “Ali (no Congresso) tem um bando de loucos/loucos pelo fisiologismo.”