O dinheiro secou. Após anos de bonança com o boom das commodities e de Estado inchado, os gestores públicos brasileiros passaram a buscar novas alternativas para financiar os seus projetos. Não por acaso, muitos dos candidatos a prefeito espalhados pelo Brasil prometeram desde privatizações integrais até as parcerias público-privadas (PPP). É nesse contexto, se aproximando do setor público, que a holandesa Philips, dona de um faturamento global de € 24,2 bilhões, planeja impulsionar seus negócios no Brasil. O plano é ganhar espaço nas áreas e iluminação e saúde. A estratégia já está dando frutos.

Em outubro do ano passado, a empresa firmou com o Estado da Bahia sua primeira PPP na área médica, em parceira com a rede de diagnósticos Alliar e a gestora de hospitais FIDI, para a implementação de centros de imagens em 12 hospitais. “A indústria pode e deve trabalhar com o governo para melhorar os serviços do País”, diz o holandês Henk de Jong, CEO da Philips para a América Latina. “É uma ótima alternativa para a crise.” Em tempos de Lava Jato, muitos empresários se tornaram receosos em negociar com o governo. A Philips faz o caminho inverso.

Na parceria baiana, segundo o CEO, tudo caminha muito bem. O negócio, do qual a empresa possui 19,9% de participação, tem a duração de 11 anos e o investimento do Estado deve somar R$ 1 bilhão no período. Cabe às empresas reformarem, equiparem e administrarem os locais: mais de 40 aparelhos de ressonância magnética, tomógrafos, mamógrafos, entre outros, estarão à disposição da população por meio da parceria. “É uma forma de melhorarmos a qualidade e a produtividade não só da saúde, mas de outros setores também”, diz Jong. No Paraná, por exemplo, uma parceria nos mesmos moldes vem sendo discutida desde 2015.

A Philips não divulga o investimento realizado na Bahia e nem quanto representa a PPPs seu balanço, mas segue em busca de novos negócios, especialmente junto às prefeituras. Equipes internas foram criadas para acelerarem os processos junto aos governos. A procura por essas oportunidades faz sentido. Segundo a consultoria Radar PPP, o número de Procedimentos de Manifestação de Interesse (PMI), etapa que antecede a parceria, cresceu 185% somente em 2015. Para especialistas, deveremos ter um aumento ainda maior no curto prazo, tendo em vista o resultado das eleições pelo Brasil, que elegeu uma série de administradores ligados ao setor privado.

Bruno Pereira, coordenador do Observatório PPP Brasil, destaca a vitória do tucano João Doria em São Paulo como exemplo desse movimento (leia matéria aqui). “As eleições de São Paulo validaram uma visão política que em nenhum momento escondeu sua premissa sobre a importância da iniciativa privada”, afirma Pereira. O setor de iluminação pública também aparece como um filão para a Philips. No balanço, o segmento representa 30% das vendas (saúde corresponde à maior fatia, cerca de 45%). No ano passado, a empresa já havia demonstrado interesse em concorrer para a PPP que visava modernizar as luzes da capital paulista.

A empresa, porém, desistiu do negócio, que deve movimentar mais de R$ 7 bilhões, por conta da falta de garantias vinculadas ao processo. Com a mudança de gestão no ano que vem, no entanto, a Philips pode voltar ao páreo. “Aguardamos as definições dos próximos passos e da forma de continuidade do processo”, afirma Daniel Tatini, presidente da Philips Lighting Brasil, braço de iluminação da companhia. Segundo o executivo, as maiores inspirações para grandes projetos no Brasil vêm da capital argentina Buenos Aires, onde a Philips foi contratada para equipar toda a cidade, e o município americano de Los Angeles, em que é responsável pela telegestão da iluminação.

De acordo com estudos da Universidade Federal Fluminense, somente em iluminação, mais de 1,2 mil municípios brasileiros possuem viabilidade econômica-financeira para PPPs. No Rio de Janeiro, por exemplo, o candidato Marcelo Crivella (PRB) já prometeu que, caso seja eleito, irá abrir uma licitação para implantar lâmpadas LED nos postes cariocas. Em Belo Horizonte, os dois postulantes ao cargo, João Leite (PSDB) e Alexandre Kalil (PHS), têm as PPPs como metas de gestão. “Estamos falando em uma mudança de paradigma que torna a cidade mais eficiente”, diz Tatini. “É o resultado de uma maior preocupação em melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e tornar as cidades cada vez mais sustentáveis.” E, por que não, uma oportunidade de negócios rentáveis.