Se você investe dinheiro, é muito provável que alguns ou muitos de seus reais estejam aplicados nos fundos de investimento. Eles são a aplicação financeira mais importante para os bancos. Seu patrimônio no fim de setembro era de R$ 3,3 trilhões, e havia cerca de 14.800 fundos registrados nos computadores da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), associação que representa o setor. É um setor em transformação. No fim de outubro completou-se um ano da nova classificação desses produtos.

Passada a fase de transição, o investidor hoje pode escolher onde investir entre 46 tipos diferentes de fundos, sendo 16 de renda fixa, 12 de ações e 11 multimercados, aqueles que investem em vários tipos de ativos. Se parece difícil, não se sinta um apedeuta em finanças: mesmo os especialistas têm tido dificuldade em navegar. “A nova classificação melhorou muito a transparência, está mais fácil saber no que o fundo investe, mas há tantas categorias que o investidor pode ficar perdido”, diz Sérgio Garibian, diretor responsável pelo sistema financeiro da agência de classificação de risco Standard & Poor’s do Brasil.

Mesmo com a mudança, os fundos permanecem uma aplicação popular. Segundo dados da Anbima, no fim de setembro havia cerca de nove milhões de investidores, tanto individuais quanto institucionais, aplicando recursos nesses produtos. É fácil entender o porquê. Eles oferecem vantagens para quem quer investir, pois permitem que o cliente sem conhecimento técnico ou paciência para administrar dinheiro delegue essa função para um especialista. Mas os fundos também são um bom negócio para quem os vende. Eles respondem por uma fatia larga dos lucros polpudos dos banqueiros.

Quando empresta dinheiro, um banco corre riscos, pois tem de esperar o devedor pagar para contabilizar seus ganhos. No caso dos fundos, o ganho é seguro. A taxa de administração, que é a comissão cobrada pelo gestor para administrar os recursos, é descontada do investidor todos os dias, independentemente de o fundo ganhar ou perder dinheiro. E, no caso de alguns produtos mais sofisticados, o gestor ainda pode cobrar um prêmio por desempenho. Conhecida como taxa de performance, essa comissão é cobrada no caso de a rentabilidade do fundo superar algum indicador de mercado.

Em tempos de juros ameaçando começar a cair, sua rentabilidade, em especial a das carteiras de renda fixa, deve começar a minguar. Por isso, será cada vez mais essencial tomar cuidado com pormenores como as taxas de administração e de performance, e prestar atenção ao que o gestor pode ou não fazer. “Aquele velho ditado de que é o olho do dono que engorda o gado continua valendo”, diz o consultor Mauro Calil, fundador da Academia do Dinheiro, projeto de educação financeira. “Quando você entregar seu dinheiro para o gestor, é preciso ter certeza de que ele está cumprindo o que está definido no estatuto.”

A mudança criou outro ponto que precisa ser observado pelo investidor. Para se adaptarem à nova classificação, os gestores tiveram de alterar os estatutos de quase todos os fundos e também aproveitaram para arrumar as prateleiras das respectivas lojinhas. “Unificar dois ou mais fundos faz sentido para racionalizar a oferta para o cliente”, diz João Carlos Guimarães Seara de Morais, superintendente de produtos da Santander Asset Management. No caso do banco, foram unificados dois fundos de capital protegido que eram bastante parecidos. “Isso reduz custos e melhora a eficiência”, diz Morais. “Fundos muito pequenos limitam as oportunidades de investimento.”

A Anbima não tem dados disponíveis e se recusou a comentar o assunto, mas os profissionais de mercado avaliam que houve um amplo movimento de fusão e incorporação. Ao ser informado da fusão ou incorporação pelo gestor, diz Morais, o investidor deve consultar a proposta de incorporação, para ver quais serão as características do fundo que vai resultar da incorporação. As regras para a fusão são definidas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Obviamente, pressupõem lobos de um lado, ovelhas de outro. Fundos com a mesma estratégia podem ser fundidos imediatamente, desde que isso seja aprovado por uma assembleia dos cotistas.

No caso de fundos de estratégias diferentes, é preciso alterar os estatutos de investimento e esperar 45 dias após a assembleia de cotistas. Isso ocorreu no fim de agosto, quando o Itaú Unibanco incorporou um fundo multimercado (com moedas globais e crédito privado) de capital protegido a um fundo DI. Mesmo sendo de baixo risco, esses fundos apresentam estratégias diferentes. Os DI investem em papéis de renda fixa, principalmente títulos públicos, ao passo que os fundos de capital protegido recorrem a operações com derivativos na bolsa, entre outras, para obter ganhos enquanto preservam o capital inicial. Como são diferentes, foi preciso alterar os estatutos. Procurado, o Itaú Unibanco não comentou.