Nas tardes de primavera, moradores e turistas que visitam Lausane, Vevey, Montreux e outras cidades da Riviera Suíça, encravada no Cantão de Vaud, de fala francesa, reservam ao menos meia hora do dia para dar um passeio pelas alamedas que margeiam o lago Léman, mais conhecido como lago Genebra. Nessa época, as montanhas, que acabaram de perder boa parte de sua cobertura de gelo, encontram um rival à altura em beleza, graças ao efeito gerado pela incidência dos raios de sol sobre espelho d’água. É nessa atmosfera bucólica que muitos visitantes aproveitam para bebericar uma taça de vinho na varanda de dezenas de bares e restaurantes espalhados pela região. A bebida ocupa o topo da preferência dos suíços. Contudo, apesar de o país figurar entre os 20 maiores produtores mundiais – são cerca de 100 milhões de litros por ano –, dificilmente suas marcas conseguem ir além da fronteira. 

 

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Vista privilegiada: área de 12 hectares da vinícola, ao lado do lago Genebra,

é um dos locais mais charmosos e visitados do país.

 

É que o consumo interno é duas vezes maior que a capacidade de produção das empresas locais, em geral de pequeno porte e comandadas por famílias que, ao longo de gerações, cultivam seus parreirais em vários cantos do pequeno país. Uma dessas verdadeiras butiques de vinho é a Domaine du Daley. Com uma produção de 80 mil garrafas por ano, e receita anual em torno de US$ 2 milhões, a empresa fundada em 1392 começa a se aventurar no Exterior. Hoje, 20% dos vinhos elaborados em sua adega são enviados para restaurantes e delicatessen de países como França, Reino Unido, Japão, China e Rússia. E o Brasil? “Temos interesse em atuar no País”, disse à DINHEIRO Cyril Séverin, herdeiro e principal gestor da Domaine Du Daley. 

 

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Lote limitado: com produção de 80 mil garrafas por ano,

a vinícola já planeja exportar.

 

A produção da empresa acontece nas “franjas” das montanhas em uma área de 12 hectares que margeia o lago, no lado oposto aos Alpes. A região vinícola, espalhada por 574 hectares de terraços escarpados, ganhou um novo impulso em 2007, quando a Unesco, agência das Nações Unidas para a educação e cultura, concedeu-lhe o título de patrimônio da humanidade por ter recebido a primeira parreira plantada no país, em meados do século XII, por monges alemães e austríacos. Com isso, as propriedades também se tornaram uma das importantes rotas para turistas interessados em vinicultura. A Domaine du Daley é uma das que têm programas nessa linha. Ao longo da semana, abre as portas para interessados em degustação. Também aluga parte da estrutura para eventos como banquetes e casamentos. Ao contrário de boa parte dos concorrentes, Séverin só atua com produção própria. 

 

As variedades de uvas escolhidas são as autóctones, como a robert plant. Em 2003, quando a família Séverin assumiu o negócio, o empresário começou a fazer experiências com cabernet franc, merlot, syrah e pinot noir usadas na fabricação de vinhos tintos. Mas sua maior aposta está nas derivadas da cepa chassellas, típica das regiões sul e leste da França e mais adaptadas ao clima da Suíça. “Não é uma uva considerada nobre”, afirma Maurice Bibas, professor dos cursos de harmonização de vinho do Senac, de São Paulo. “Mas, se bem trabalhada, pode render vinhos corretos.” É nisso que Séverin aposta. Adepto do sistema artesanal, ele já conseguiu algumas vitórias. Seus vinhos chegam a custar até US$ 34, valor alto para a média do país. A trajetória mundial do vinho suíço é prejudicada pela baixa produção, fruto da mistura de um clima marcado por inverno rigoroso, pouca terra disponível e pela topografia. 

 

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Cyril Séverin, herdeiro da Domaine du Daley, com seu cão Mitcho: além do vinho,

empresário explora o turismo.

 

Na região da Domaine du Daley o plantio é feito em encostas com inclinação que variam de 13 a 43 graus. A única vantagem dos vinhedos da Riviera Suíça é o elevado nível de insolação, que ajuda no processo de maturação das uvas. Essas características levaram o governo do país a criar regras rígidas de produção. A irrigação é proibida, pois o excesso de água pode provocar erosão. Além disso, técnicos do governo controlam a acidez e a produtividade. Ela tem de ficar em um quilo por m². Séverin trabalha com números mais restritos: 600 gramas por m², no caso dos brancos, e 400 gramas por m², no caso dos tintos. “Usamos um sistema mais rigoroso porque nosso objetivo é fazer um produto diferenciado e competitivo em escala global”, afirma o empresário. 

 

Enviado especial a Lavaux (Suíça)