31/05/2016 - 18:25
As viúvas têm amargado um luto cerrado. Ao menos as da Bolsa. Os detentores das tradicionais “ações de viúva” – papéis recomendados para investidores que precisam de um fluxo previsível de dividendos – têm visto muitos retornos seguros desaparecerem. O caso mais emblemático é o da mineradora Vale. Em 2015, seus acionistas receberam R$ 5,1 bilhões em dividendos e juros sobre capital próprio. Parece um número pujante, mas representa uma queda de quase 50% em relação aos R$ 9,9 bilhões pagos em 2014.
E esse total deve cair mais. “A Vale costumava antecipar o valor os dividendos para o ano em janeiro ou em fevereiro e pagar uma parte no primeiro e outra no segundo semestre”, diz o analista independente Pedro Galdi. Agora, essa metodologia mudou. Em uma assembleia no dia 26 de abril passado, os controladores da mineradora aprovaram que a Vale passará a definir a remuneração a partir do desempenho financeiro, como as demais companhias, e vai pagar uma parte em outubro e outra em abril do ano seguinte.
Em 2015, a companhia amargou um prejuízo de R$ 44,2 bilhões e o dividendo proposto para 2016 será zero. O mesmo vale para a Petrobras, que não deverá pagar dividendos referentes ao exercício de 2015. No entanto, ainda é possível encontrar alguns papéis que vão trazer alegria às viúvas do mercado. Segundo um levantamento da empresa de informações financeiras Economatica, tradicionais pagadoras como as empresas de eletricidade reduziram seus dividendos, mas os bancos continuam distribuindo proventos generosos.
Isso contenta tradicionais investidores, como o bilionário Luiz Barsi. Basta ver sua reação ao susto da terça-feira 24, quando uma das medidas econômicas divulgadas pelo presidente Michel Temer causou um terremoto no mercado. Temer anunciou a extinção do fundo soberano, que tem um patrimônio de R$ 2 bilhões. Com isso, as 105 milhões de ações ordinárias do Banco do Brasil que estão em sua carteira serão vendidas. A notícia de que 3,67% do capital do banco viria a mercado fez as cotações caírem 5,25%. Foi apenas um susto, um movimento rápido, parcialmente compensado pela alta de 3% no pregão seguinte.
O tranco deixou quase todos os acionistas do BB de péssimo humor na terça-feira. Quase todos: Barsi não se incomodou. “Quando os preços caem, eu normalmente aproveito para comprar mais um pouquinho”, diz ele, sem confirmar se aproveitou o solavanco para reforçar sua posição. E continua recomendando as ações do BB como uma boa fonte de dividendos. Seu raciocínio é simples. O controlador do BB, o Tesouro Nacional, vai precisar de dinheiro. Então, é bastante provável que o fluxo de dividendos continue correndo em direção aos bolsos dos acionistas. Barsi diz não se incomodar com o controle estatal. “O BB é melhor gerido do que a Petrobras, por exemplo”, diz ele.
Com meio século de experiência no mercado, o economista, de 74 anos e hábitos simples, construiu sua fortuna à maneira do americano Warren Buffett. Barsi compra ações de empresas que pagam bons dividendos quando as cotações baixam, e as deixa rendendo tranquilamente – de preferência para sempre. Reinveste os proventos com cuidado. E, nesse passo, amealhou um patrimônio superior a R$ 1 bilhão. E a boa notícia é que a estratégia de Barsi pode ser replicada por qualquer investidor com paciência e disciplina. Os bancos estão no topo da lista de recomendações. “São empresas que possuem uma tradição de remunerar bem seus acionistas”, diz Galdi.
A pesquisa realizada para a DINHEIRO mostra que, dos cinco maiores pagadores, quatro pertencem ao setor financeiro: três bancos e a BB Seguridade, seguradora ligada ao banco estatal. Algumas ações apresentaram desempenhos surpreendentes no ano passado, como o frigorífico JBS, cujos dividendos foram os que mais cresceram, com um avanço de mais de 950%. No entanto, Galdi e Barsi avaliam que esse resultado foi excepcional. Como a empresa de proteínas obtém a maioria de suas receitas fora do Brasil, o lucro de 2014, distribuído em 2015, foi turbinado pela alta do dólar.
Outro papel recomendado é, surpreendentemente, Vale, apesar do dividendo zero deste ano. “O investidor não pode pensar em apenas um exercício”, diz Barsi. Segundo ele, a mineradora aproveitou as notícias ruins, como a tragédia ambiental em Minas Gerais, para reconhecer perdas e sanear o balanço. “Com a entrada em operação das novas jazidas em Carajás Sul, a Vale vai ganhar dinheiro apesar de o preço do minério estar mais baixo do que estava há alguns anos”, diz ele. O segredo é não ter pressa, comprar ações quando os preços caírem e reinvestir sempre os dividendos. E aproveitar a isenção fiscal para os proventos.