04/03/2016 - 19:40
Na quinta-feira 3, os dados do IBGE confirmaram o triste cenário da economia: o País vive a maior recessão dos últimos 25 anos e caminha para o segundo ano seguido de retração, feito não visto desde a crise de 1930. A dramaticidade do PIB – queda de 3,8% – de 2015 não foi suficiente para ofuscar um raro momento de otimismo no mercado. No mesmo dia, a Bolsa subiu 5%, o melhor pregão em seis anos, e o dólar recuou 2,20%. A explicação para tamanho descolamento não estava nos dados econômicos, mas no noticiário político, com a divulgação pela ISTOÉ dos detalhes da delação premiada do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), em que cita a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula.
Nas 400 páginas do documento, o senador, que chegou a ser preso na Operação Lava Jato, descreve como os dois petistas tinham conhecimento das irregularidades na Petrobras e agiram para barrar as investigações em curso. Na leitura do mercado, as denúncias reforçam a hipótese de uma saída antecipada de Dilma e justificam o otimismo por mudanças na economia. Entre os empresários paira hoje um clima de intenso desalento. Mais preocupante do que a queda de quase 4% do PIB no ano passado, é a sensação de que nada foi feito para mudar o cenário de estagnação.
Em 2015, ainda havia a esperança de que o ano estava sendo sacrificado em troca de um ajuste fiscal que poderia colocar o País em uma situação mais favorável. Agora, a avaliação é de que as reformas necessárias se tornam cada vez mais distantes e o governo não consegue reverter a queda generalizada da confiança. Nessa direção, o mercado prevê uma nova retração do PIB neste ano, de 3,5%. Boa parte dessa projeção é explicada pelos próprios dados do ano passado, por uma questão estatística. Quase todos os indicadores do PIB recuaram em 2015. As exceções foram o setor de agropecuária (1,8%) e a exportação de bens e serviços (6,1%).
Nem de longe compensaram os recuos na indústria (-6,2%), nos serviços (-2,7%) e no consumo das famílias (-4%), motor tradicional do PIB na última década. Entre os números, há uma tendência estrutural mais perigosa: a queda de 14,1% nos investimentos. O dado reúne o quanto o País destinou para a compra de máquinas, equipamentos e na construção. Engloba desde aquisições de computadores e caminhões até obras de infraestrutura. “O investimento é o componente do PIB que liga o passado ao futuro”, afirma o economista Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Na prática, significa dizer que o País está perdendo a capacidade de crescer. Representa ainda uma perda de competitividade da economia brasileira, à medida em que os empresários adiam projetos de modernização de fábricas, por exemplo. Para fazer frente ao cenário de queda de demanda e alta de custos, as empresas vêm adotando uma postura defensiva. Sustentam apenas os investimentos necessários para manutenção básica e aqueles que podem redundar em redução de custos. “Como as margens e lucros diminuíram, há uma limitação para investir”, afirma José Ricardo Roriz Coelho, diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia (Decomtec), da Fiesp.
“O que estamos percebendo é que a situação piorou muito, e a decisão de investimento em 2016 vai estar mais sacrificada.” A tendência é visível nos mais diversos setores. Em divulgação de resultados, a Ambev anunciou que irá reduzir os investimentos neste ano. A Usiminas e o Pão de Açúcar também sinalizaram uma redução nos gastos com ampliação e modernização das instalações. A Weg, fabricante de motores, decidiu redirecionar a maior parte dos investimentos do Brasil para o exterior. Somam-se a elas as gigantes estatais Petrobras e Eletrobras, além da Vale.
“Como o mercado está trabalhando com ociosidade, não é o momento de investir em capacidade”, afirma Flavio Donatelli, diretor financeiro da Duratex. “Estamos mantendo um investimento de sustentação, investindo em projetos que nos tragam ganhos de eficiência e produtividade.” Para 2016, a companhia prevê destinar R$ 420 milhões para investimentos, 27% menos do que em 2015 e abaixo dos cerca de R$ 700 milhões aplicados na época em que o grupo ampliava a capacidade. Diante da queda no mercado interno, o foco passou a ser as exportações, que cresceram 50% no ano passado.
“A nossa expectativa é que consiga compensar a maior parte da queda no mercado interno”, afirma Donatelli. Os dados de 2015 mostram a dificuldade do governo federal em reequilibrar a economia para um modelo mais baseado em investimentos e menos dependente do consumo, o inverso do que ocorreu na década de 2000. Com uma nova queda prevista para 2016, de 9,4%, o investimento terá o terceiro ano seguido de marcha a ré. Marcará ainda um patamar mais baixo do nível de investimento em relação ao PIB, hoje em 18,2%. Em 2011, ao lançar o Plano Brasil Maior, voltado para a indústria, a meta do governo era que essa taxa chegasse a 22,4% em 2014. Naquele ano, encontrava-se em 20,6%.
Para mudar esse quadro, será preciso alterar o rumo de deterioração da confiança dos empresários em meio à crise política. Na visão do mercado e de boa parte da iniciativa privada, o caminho mais fácil para que isso aconteça é uma mudança de governo, daí a empolgação com as denúncias de Delcídio do Amaral. “O mercado tem uma expectativa de que se houver uma mudança de governo, poderíamos enxergar uma luz no fim do túnel”, afirma Marcio Cardoso, sócio-diretor da Easyinvest. Um importante termômetro virá das ruas, no dia 13 de março, quando acontecerão manifestações populares, em todo o País, contra o governo Dilma.