O banco holandês Rabobank resumiu bem a situação. O título do relatório divulgado na sexta-feira 25, logo após o anúncio dos resultados do referendo, explicava os ocorrido em uma palavra: “carnificina”. A inesperada decisão inglesa de desligar-se da União Europeia trouxe  pânico ao mercado. A libra esterlina fechou em queda de 8% em Londres. Foi a maior baixa desde setembro de 1992, quando George Soros ganhou um bilhão de libras apostando contra o Banco da Inglaterra pela primeira vez. O euro caiu 2,2%, para US$ 1,1127. 

A decisão deverá afetar a classificação de risco britânica. Moritz Kraemer, responsável pelos riscos soberanos da S&P, disse que a atual classificação britânica AAA é “insustentável”. A S&P é a única agência a conceder o grau máximo ao país. Em 2015, Fitch e Moody’s haviam rebaixado a Inglaterra para a segunda melhor nota. E a Fitch afirmou, na sexta-feira, que novas baixas podem ocorrer.

As bolsas repetiram o pânico causado pela quebra do banco Lehman Brothers, em setembro de 2008. O índice inglês FTSE 100 caiu 3,2%. Frankfurt recuou  6,3% e Paris despencou 8,1%. A maior baixa foi na Espanha: o Ibex recuou 12,4%. O outro lado do Atlântico  também sofreu. Em Wall Street, o S&P 500 abriu em baixa de 2,8%. O investidor daqui também pagou a conta: o Índice Bovespa caiu 3%. O custo do Brexit foi alto. O valor dos mercados acionários globais encolheu US$ 2 trilhões  apenas na sexta–feira, e os 15 britânicos mais ricos viram suas fortunas encolher US$ 5,5 bilhões.

O maior impacto foi sobre os bancos, que perderam 100 bilhões de libras em valor de mercado em poucas horas. As ações do Lloyds caíram 20%. Para evitar quebras, o Banco da Inglaterra liberou 250 bilhões de libras (US$ 330 bilhões) em créditos, mas os bancos  não precisaram de socorro na sexta-feira. 

Eles serão os mais afetados pela decisão. Ao deixar a União Europeia, a Inglaterra perde o “passaporte bancário”, que permite aos bancos atender clientes nos 27 países da Comunidade sem precisar abrir filiais locais. Sem essa cláusula, parte dos negócios poderá migrar para Frankfurt ou Paris. “A Inglaterra vai virar um paisinho, ela já não tem mais siderurgia e só sobrou um sistema financeiro sofisticado, que pode migrar”, diz o ex-ministro da Fazenda, Delfim Netto.

O impacto sobre o Brasil será negativo, mas não totalmente. A possível redução do comércio entre Inglaterra e os países da UE deve desacelerar as transações globais, afetando as exportações brasileiras. Porém, Francisco Giffoni de Andrade, da gestora Forpus Capital, avalia que há um ponto positivo. Para ele, o resultado abre espaço para que o Federal Reserve adie uma nova alta de juros nos EUA,  pois alguns indicadores de crescimento vieram abaixo do que se esperava. “Isso abre uma janela para que o Banco Central reduza os juros no Brasil”, diz Andrade. “Isso é benéfico, porque o mercado financeiro global fica mais líquido”, diz.