23/10/2015 - 20:00
O ano de 2008 ficará na História como um momento de redefinição do capitalismo internacional. Foi quando a prosperidade aparentemente interminável advinda de duas décadas de expansão monetária ininterrupta chocou-se com a realidade. Houve pranto e ranger de dentes tanto nos Estados Unidos quanto na Europa. No entanto, passados cabalísticos sete anos, as conseqüências são bastante diferentes dos dois lados do Atlântico. A economia americana recuperou um razoável grau de dinamismo.
Os níveis de emprego ainda estão longe da euforia da década passada, mas o mercado imobiliário se recuperou em boa parte, as ações sobem e o Federal Reserve, o banco central americano, há mais de um ano cancelou as injeções de dinheiro na economia e começa a discutir, cautelosamente, se não é hora de começar a elevar os juros para impedir a expansão de outra bolha de ativos. Já no continente europeu, as notícias são bem menos auspiciosas. Com exceção da Alemanha, que manteve sua máquina econômica em funcionamento graças às exportações para a Ásia, os principais países da Europa ainda se debatem para sair da crise.
O melhor exemplo é o da Grécia, que não conseguiu costurar medidas para sanear as finanças públicas e ainda flerta com a tentação de políticos populistas e suas soluções heterodoxas. Da Polônia a Portugal, não houve, nos últimos anos, um movimento consistente e bem-sucedido para sair da crise. Há várias causas para explicar a diferença entre os cenários. Uma delas pode ser a demografia: com uma população mais velha, a Europa teria menos dinamismo para colocar mudanças em prática. Outra justificativa é a fragmentação política: os Estados Unidos são uma federação de estados com língua e objetivos comuns, ao passo que a Europa é um conjunto de países que não se entendem.
Obstáculos grandes, mas contornáveis com algum esforço. No entanto, há outra explicação para a diferença na forma de tratamento da crise: a diferença de mentalidade entre europeus e americanos. O europeu médio é alguém que preza a estabilidade e a previsibilidade. Vários executivos brasileiros que trabalharam na Europa notam uma falta de ambição. O estado de bem-estar social garante saúde, educação e segurança públicas de boa qualidade, sem falar na previdência.
Ou seja, é possível obter uma qualidade de vida razoável sem a necessidade de abrir mão das férias longas e das jornadas previsíveis de trabalho. Não há grandes incentivos para acumular patrimônio e a opção preferencial é pela segurança. A conversa muda deste lado do Atlântico. O americano médio vive em uma sociedade de consumo e seu sucesso pessoal é medido e mediado por ele. Isso garante um dinamismo econômico maior. Em crise, o europeu busca segurança, e o americano busca oportunidades.
E cá no Brasil? Geográfica e psicologicamente, somos muito mais americanos do que europeus. O brasileiro médio quer prosperar cada vez mais e, da mesma forma que o americano, mede seu sucesso pessoal pelo resultado econômico e pelo seu patrimônio. Daí ser possível esperar que a solução da crise atual seja muito mais parecida com a saída rápida encontrada pelos nossos vizinhos do que pelos nossos ancestrais do lado de lá do Atlântico.