Nas últimas duas décadas, a Unimed Paulistana se impôs como uma das potências no setor privado de saúde  do País. No ano passado, obteve faturamento de R$ 2,19 bilhões graças a uma carteira composta por 744 mil clientes. Os números superlativos,no entanto, não foram suficientes para garantir sua saúde financeira. Na quarta feira 2, a empresa foi intimada pela Agência Nacional de Saúde (ANS) a interromper a comercialização de planos novos e repassar sua carteira de segurados em um prazo de até 30 dias, prorrogáveis por mais 15.

A medida, na prática, significa o fim da cooperativa e coloca um ponto final na agonia iniciada em 2009, quando a agência estatal fez a primeira “intervenção” diante da incapacidade da Unimed de honrar os compromissos financeiros e os prazos de atendimento. É que sem sua principal fonte de renda, será difícil para a Unimed Paulistana quitar os débitos fiscais, faturas com fornecedores e as pendências bancárias. Apenas com tributos, o débito é de R$ 276 milhões, enquanto as dívidas de curto prazo somam cerca de R$ 300 milhões,  segundo estimativas de executivos da empresa, que pediram para não ter seus nomes revelados. Como a reserva técnica da operadora está na faixa de R$ 110 milhões, a conta não fecha. “Tudo indica que houve má gestão”, afirma o consultor especialista em administração hospitalar, Marino Alves de Faria Filho, professor do Ibmec, de São Paulo. 

Nesse contexto, surge a seguinte questão: quem se interessaria em assumir o espólio da Unimed? De acordo com a ANS, a prioridade é das demais 349 cooperativas que compõem o sistema Unimed e que, apesar de usarem a mesma razão social, são personalidades jurídicas independentes. Uma delas, a Federação das Unimeds do Estado de São Paulo (Fesp), já aceitou assumir os 160 mil clientes da Qualicorp que possuem planos ligados à Unimed Paulistana. Trata-se de um alívio para os segurados que convivem com a dificuldade de encontrar hospitais e laboratórios dispostos a atendê-los, em função de dívidas não pagas. No início da noite de quinta-feira 3, a empresa emitiu nota repudiando a atitude de parte da rede conveniada. “A empresa, com vistas a continuar a prestar um atendimento de qualidade ao usuário, vem adotado as medidas administrativas e judiciais que a situação requer.”

Apesar dos problemas vividos pela Unimed Paulistana, sua  carteira de clientes é vista como um ativo estratégico para quem pretende entrar na Região Metropolitana de São Paulo ou mesmo fortalecer sua musculatura no maior mercado do País. As especulações se voltam para o empresário Edson de Godoy Bueno, fundador da Amil, vendida à americana UnitedHealth Group em 2012, que possui uma fortuna de US$ 1,86 bilhão. Procurado pela DINHEIRO,  Bueno não quis opinar sobre o tema. O certo é que a lista de possíveis pretendentes tende a ser pequena, graças ao fato de Unimed Paulistana ser uma das poucas do setor a atuar com clientes individuais. No total, são 160 mil contratos com este perfil. Faz tempo que as gigantes do setor deixaram de comercializar esta modalidade, optando por planos empresariais e coletivos, nos quais o reajuste de mensalidade é mais flexível.

O que, no passado, ajudou a Unimed Paulistana a crescer de forma acelerada (em 2003 eram apenas 100 mil segurados), acabou se tornando parte de seus problemas. “Para atrair os clientes, a operadora oferecia um preço relativamente baixo em relação à qualidade da rede de atendimento, composta por hospitais de primeira linha”, diz o consultor Faria Filho. De acordo com um executivo da Unimed Paulistana, boa parte  dos clientes terá de migrar para empresas menores. Uma das opções é a Prevent Senior, de São Paulo, que se especializou na faixa etária acima de 50 anos, um público normalmente colocado de lado pelo setor. Como atende apenas na rede própria, a Prevent consegue ter uma equação de custos melhor. Em 2014, suas receitas atingiram R$ 1,09 bilhão, em alta de 30% em relação ao ano anterior.