22/02/2013 - 21:00
O executivo japonês Hiroyuki Yamaguchi, diretor-geral da Sompo Japan Insurance, não perde a tradicional serenidade oriental ao comentar o investimento de sua corporação, fundada em 1888, na seguradora paulista Marítima Seguros. Por meio de sua subsidiária local, a Yasuda Seguros, a centenária seguradora nipônica acaba de elevar sua participação no capital da Marítima de 50% para 88,2%. A operação, avaliada em R$ 200 milhões, ainda depende da aprovação das autoridades reguladoras, tanto do Brasil, quanto do Japão. “O Brasil é muito promissor”, diz Yamaguchi. No entanto, que ninguém interprete essa fala mansa como uma atitude contemplativa em relação ao mercado. Os objetivos da Sompo são agressivos.
Foco no Brasil: Hiroyuki Yamaguchi (ao centro), diretor-geral da Sompo, e seus executivos,
entre eles Francisco Caiuby Vidigal Filho (à esquerda), que assumirá
a presidência da Marítima Seguros
Na agenda dos controladores está a meta de ampliar o faturamento da Marítima em 20% neste ano, o dobro do crescimento registrado em 2012. Esse objetivo seria impossível de se alcançar na matriz. “Os números do mercado segurador no Japão não são positivos em função da baixa natalidade, do envelhecimento da população e do reduzido índice de vendas de automóveis”, afirma Yamaguchi. “O mercado brasileiro apresenta a maior perspectiva de crescimento em nosso portfólio internacional.” A diversificação geográfica visa compensar a maturidade do mercado nipônico. Além do Japão e de outros países vizinhos, o grupo atua nos Estados Unidos e na Turquia, mas agora a decisão foi concentrar esforços por aqui.
Com a compra, Yasuda e Marítima passam a representar 60% do faturamento internacional da corporação, medido pelo volume de prêmios. Ao contrário do que ocorre no Japão, o mercado brasileiro de seguros, de previdência complementar aberta e de capitalização vem crescendo a taxas de dois dígitos, nos últimos anos, um ritmo de expansão muito superior ao do Produto Interno Bruto (PIB). Nos 11 primeiros meses de 2012, as companhias seguradoras, de previdência privada e de capitalização faturaram mais de R$ 140 bilhões, um crescimento de 33% em relação aos R$ 105 bilhões do mesmo período de 2011. Para 2013, os prognósticos mais conservadores são de um avanço de 15%.
R$140 bilhões - foi o faturamento do mercado brasileiro
entre janeiro e novembro de 2012
Não há sinais de que esse retorno vá diminuir no curto prazo. Segundo a Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg), enquanto nos países desenvolvidos a arrecadação anual de prêmios de seguros se situa próxima aos 10% do PIB, no Brasil, a participação equivale a 3,5%. Teoricamente, há espaço para que o mercado triplique de tamanho. Os vetores dessa expansão são o aumento da renda e um pesado investimento das seguradoras na distribuição de seus produtos, em especial os seguros massificados. O acesso a bens de consumo e à casa própria elevam a demanda por proteção patrimonial.
A maior fatia do mercado ainda é representada pelos seguros automotivos, que responderam por cerca de 42% dos prêmios em 2012, mas a participação dos seguros de vida e das apólices residenciais vem crescendo aceleradamente. Já os seguros massificados – apólices de pequeno valor individual, que protegem contra a inadimplência nas contas ou estendem a garantia dos eletrodomésticos – são a principal aposta das seguradoras para expandir o mercado e familiarizar o consumidor com a proteção. No caso da Sompo, as apólices massificadas ficarão a cargo da Marítima, que já oferece esses produtos.
Já a Yasuda, cuja atuação é mais focada no segmento corporativo, manterá as atividades de seguros para empresas. “Essa é a forma que usaremos para ampliar ainda mais nossa presença no Brasil e para crescermos na região, com duas empresas já consolidadas”, afirma Yamaguchi. As duas empresas vão coexistir. “São dois nomes fortes com perfis diferentes, e não haverá problema em ambos coexistirem no mercado brasileiro”, diz Francisco Caiuby Vidigal Filho, que assumirá a presidência da Marítima, com a aprovação da transação. “Vamos tornar a Marítima e a Yasuda ainda mais relevantes nos segmentos em que elas já atuam.”