A sociedade está com muita ânsia por coisas e causas que melhorem a própria situação. A reação natural, em momentos de crise, é pedir ajuda a quem pode ou, pelo menos, deveria. São pedidos de todos os tipos, até o transporte gratuito. Em primeiro lugar, vamos falar de uma instituição bem conhecida de todos, o vale-transporte (VT). Depois, vamos falar sobre geração de emprego e renda. Por que a mídia, quando cobre o fatídico aumento do preço das passagens do transporte, não fala com os empregadores sobre o que eles acham desse aumento de custo? Por que o vale-transporte é “esquecido”?

As pessoas empregadas formalmente recebem vale-transporte. Há um desconto do benefício, de 6% do salário, limitado ao valor recebido. Aqui deveria se concentrar a verdadeira reivindicação: a fiscalização, pelos órgãos competentes, para que se cumpra a lei. 
Há empresas que ainda se colocam à margem da lei e deixam de oferecer o benefício na sua forma correta. E quando o fazem em dinheiro (incorporando o benefício no salário dos trabalhadores, geram evasão de recursos da Previdência Social), deixam que os funcionários usem aqueles recursos como bem quiserem.

Outra fiscalização que não se dá na forma correta é a verificação da formalização do emprego. O Brasil já passou por esse processo e viu como é benéfico para a economia. O emprego formal mostra o real poder financeiro de uma sociedade, não oculta renda e nem impostos, faz com as regras e leis sejam cumpridas por todos. Por isso, o protesto não deveria ser em função do aumento e, sim, da falta de fiscalização e do cumprimento das leis e regras com relação ao emprego e à concessão do benefício do vale-transporte.

Mas temos também que usufruir da cidade, não exclusivamente para se trabalhar, e cada vez mais usar o transporte coletivo faz sentido. E aí que temos outra inversão na ordem dos protestos. Como podemos, num momento, exigir que o Estado cumpra com seu papel e, no outro, fazer com que o mesmo Estado entre em colapso? O que deveria ser alvo de protesto, principalmente pela juventude, é a capacidade do Estado de prover oportunidades de emprego, seja o Estado como investidor, ou dando à iniciativa privada condições de ampliar seus investimentos e manter a capacidade de se gerar empregos e renda.

A única forma de um país se desenvolver é com emprego e renda, esses dois componentes são condições necessárias para o desenvolvimento. Com emprego e renda, ninguém estaria nas ruas brigando por um aumento que está abaixo da inflação, como agora acontece em várias cidades do país. E com uma economia mais desenvolvida, a inflação irá para patamares ínfimos. Ou seja, sempre olhamos o lado imediatista e achamos que “de graça” é mais barato. Estamos pagando essa conta hoje, ao ver nosso país aos frangalhos economicamente.

Quem vai investir em máquinas, empresas e pessoas quando se ganha 14% ao ano de juros sem o risco de perder o dinheiro? Vamos brigar, todos, por uma sociedade que crie capacidade de desenvolvimento e não por um país “de graça”. Não existe nada grátis. Nenhuma sociedade se desenvolveu com gratuidades. Temos que nos colocar como força motora do país e não viver às custas da obsolescência e relegados a ser uma republiqueta.