24/03/2016 - 19:00
A queda do avião monomotor que vitimou, aos 56 anos, Roger Agnelli e outras seis pessoas, incluindo os seus familiares mais próximos, no dia 19, em São Paulo, não tirou de cena só um dos mais importantes executivos brasileiros. Agnelli estava se tornando um empreendedor de grande potencial. Seu lado executivo era bem conhecido. Ele foi eleito em 2013, pela revista Harvard Business Review, como o quarto melhor executivo do mundo, atrás apenas de Steve Jobs, da Apple, Jeffrey Bezos, da Amazon, e Yun Jong-Tong, da Samsung. O reconhecimento veio graças à sua atuação de 10 anos à frente da Vale, que fez a empresa, entre 2001 e 2011, ampliar o seu valor de mercado em 15 vezes, para R$ 264 bilhões, se tornar a segunda maior mineradora do mundo e empregar 14 vezes mais pessoas, ao chegar aos 150 mil funcionários. Já o empresário Agnelli ainda estava em início de trajetória, mas era acompanhado com atenção por sua grande capacidade de realização.
Depois de deixar a Vale em 2011, devido a um desgaste com o governo federal, que, por meio dos fundos de pensão e do BNDESPar, influenciava na empresa, Agnelli fundou a AGN Participações para criar negócios nas áreas de mineração, logística e bioenergia. Por meio dela, firmou sociedade com o BTG Pactual, criando a B&A Mineração. O choque da perda de seu líder e fundador, no entanto, prejudica os planos da empresa. Agnelli já enfrentava dificuldades para fazer o negócio decolar. A principal delas estava relacionado às históricas baixas cotações do minério. Agnelli reconhecia que a recuperação dos preços estava demorando mais do que imaginava. Entretanto, acreditava na demanda de médio e longo prazo, apostando na urbanização de China, Vietnã, Indonésia, Malásia, Índia, Oriente Médio e, em especial, no potencial da África.
A B&A nasceu há quatro anos com a promessa de investir US$ 520 milhões, o equivalente R$ 1 bilhão na época– boa parte desse valor vinha do BTG. Mas, até agora, cumpriu apenas US$ 150 milhões do total. Cerca de US$ 60 milhões foram destinados às operações no Pará, para um projeto de produzir 150 mil toneladas de fertilizantes no município de Bonito, a 150 km da capital, Belém. Com nova previsão de produção apenas para 2017, o projeto, na verdade, estava congelado, aguardando melhores condições de preço. Agnelli também negociou por algumas vezes a entrada na África, um mercado que conheceu bem durante no seu período na Vale. No entanto, as tratativas no continente não avançaram.
Em uma entrevista concedida em 2014 para o site da corretora Guide, de seu amigo de juventude e sócio na AGN Jair Ribeiro, o empresário comentou que estava diminuindo o ritmo. “Agora estou aprendendo a ter liberdade. De fazer o que você quer, com as pessoas com quem gostaria de fazer”, disse, na ocasião. Parecia que depois da veloz ascensão profissional e da agressividade na forma de atuar, sua marca nos 30 anos de carreira, Agnelli estava disposto a fazer tudo com mais calma. A ponto de alguns executivos mais jovens da equipe B&A reclamarem do ritmo lento do desenvolvimento dos projetos.
Outra dificuldade estava no relacionamento com o BTG. O banco de André Esteves demonstrava cada vez menos interesse em investir em mineração. Situação piorada com a detenção de Esteves como parte das investigações da Operação Lava-Jato. No fim do ano, o BTG já buscava vender os ativos. O banco nega os rumores. Procurado, ele preferiu não se pronunciar. E Agnelli, pela primeira vez, em novembro de 2015, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, admitiu que os projetos no Pará e no Chile poderiam contar com novos sócios.
Cabe agora aos sócios e executivos de sua confiança, trazidos de seus tempos de Vale, continuarem as operações que tinham tanto o perfil de Agnelli. E, assim, manter o seu sonho vivo. “Eu quero deixar um legado”, disse Agnelli, na entrevista de 2014. “Legado é mudar a vida de uma sociedade, de uma comunidade, gerar emprego e oportunidade de trabalho.” A holding tem como sócios, além de Ribeiro, o dono da operadora de comércio exterior Sertrading, Alfredo de Goye e Carolina Menezes, ex-Goldman Sachs. Como CEO da B&A, está Fernando Freitas, ex-Telefônica. “A AGN Participações informa que após o trágico acidente atua para a continuidade de seus projetos e negócios”, informou em comunicado à DINHEIRO.