A principal dificuldade para a reciclagem do vidro é articular uma rede de coleta. Como não há cadeias de reciclagem do material no País, os catadores têm problemas em identificar o  que pode ser reaproveitado para a perfumaria. Afinal, não são todos que podem ser usados para embalar uma substância tão refinada como o perfume – ele precisa ser transparente e livre de contaminações. Além disso, os catadores ganham o triplo coletando plástico, que não precisa passar por nenhuma triagem. Entre o certo e o duvidoso, eles ficam com a primeira opção. A Natura sempre tentou mudar essa realidade, mas não conseguia vencer os obstáculos. Até convencer a SGD Vidros, a única que topou o desafio de quebrar o paradigma da reciclagem de vidro do mercado de cosméticos.

No começo deste ano, o Grupo SGD, que foi criado em 2007 com o desmembramento de uma divisão de negócios da francesa Saint-Gobain, conseguiu reunir uma quantidade suficiente de vidros usados para ser levada ao forno e testar como seriam os produtos finais. Ao contrário do plástico reciclado, a vidraria exige processo contínuo de fusão, com temperatura média de 1.200oC e capacidade aproximada de 70 toneladas. O risco era perder toda essa enorme fornada. Deu certo, inclusive com alguns avanços tecnológicos. A inclusão de caco de vidro no processo normal de fabricação reduziu o gasto com energia. Estima-se que para cada 10% de caco de vidro na mistura economiza-se 2,5% da energia necessária para a fusão nos fornos.

A partir de agora, o desafio da Natura é convencer os catadores a enxergar valor na procura de vidros usados. Como o processo foi bem-sucedido, a empresa prepara campanhas de orientação e incentivo à caça de embalagens incolores. As primeiras produzidas em 2015 têm cerca de 20% de sua massa composta de vidro reciclado pós-consumo. As marcas comercializadas que estrearam os frascos mais verdes são “Natura Humor”, “Kaiak Clássico” e as linhas principais da fabricante. A companhia estima que vai mais que dobrar, para 2,6%, até o final de 2015, o uso do vidro reciclado nos principais produtos de sua linha. A ambição da empresa é utilizar, pelo menos, 10% de material reciclado pós-consumo em suas embalagens, até 2020. “Não é possível atingir 100% porque são necessárias outras matérias-primas. Mas, com o tempo, teremos uma cadeia melhor estruturada para a coleta de vidro incolor e poderemos melhorar essa taxa de aproveitamento”, diz Melissa Ferraz Barbosa, pesquisadora de Tecnologias Sustentáveis da Natura. A estimativa é que com as três produções feitas até agora foi possível reduzir a emissão de CO2 em 357 toneladas ao ano. Com o reaproveitamento de 472 toneladas de vidro reciclado nessa etapa, deixou-se de descartar 1,36 milhão de garrafas. 

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