O dia 12 de junho, Dia dos Namorados, é sempre uma data marcada pelo romantismo. Em todo o País, as floriculturas são sobrecarregadas com entregas, os restaurantes ficam lotados de casais em clima de lua de mel e milhares de namoradas são pedidas em casamento. Na semana passada, no entanto, enquanto os pares comemoravam o seu dia e faziam planos para o futuro, o Brasil se tornava, na avaliação dos mais apressados, uma noiva rejeitada. Isso porque os papéis brasileiros, alheios ao clima de comemoração dos casais de todo o País, sofriam os efeitos da recuperação da economia dos Estados Unidos (leia reportagem AQUI), a qual acabou por estimular a venda de ações de companhias de países emergentes, incluindo nacionais. 

 

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A caminho da lua de mel: ao contrário do que os críticos de plantão afirmam, o Brasil

não é uma noiva rejeitada pelos investidores

 

Trata-se de um exagero. O dote da noiva pode não ser tão atraente para quem esperava as pechinchas do passado, quando o País remunerava o dinheiro dos pretendentes a taxas muito acima do mercado. O Brasil mudou e cansou das relações fugazes. Agora, só fica quem quer uma relação duradoura e não busca apenas vantagens imediatas. Um episódio que colaborou para as dúvidas sobre o poder de sedução brasileiro foi a perspectiva de rebaixamento de estável para negativa do rating brasileiro pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s, no dia 6. A agência citou o baixo crescimento econômico e a política fiscal expansionista como razões para a revisão. 

 

Um movimento que assustou alguns investidores, apesar da pouca credibilidade das agências desde que elas falharam em alertar o mercado antes da crise de 2008. Na contramão dos pessimistas, o economista Bernardo Stuhlberger Wjuniski, responsável pela América Latina na consultoria americana Medley Global Advisors, avalia que o interesse pelo Brasil ainda é grande, embora eventos como a maior intervenção do governo na economia, a tolerância com a inflação e a percepção de piora na gestão fiscal tenham gerado apreensão. “O fim dos estímulos nos EUA atingiu todo o mundo, mas quem está pior nos fundamentos sofre mais”, diz Wjuniski. 

 

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Luiz Fernando Furlan, ex-ministro do desenvolvimento: “é exagero

dizer que os investidores perderam a atração pelo Brasil”

 

Empresas brasileiras com papéis no mercado sentiram esse movimento, com a necessidade de aumentar um pouco a rentabilidade oferecida em alguns dias, mas nada de grande monta. “Nenhum investidor estrangeiro acredita que o Brasil vai entrar em colapso, embora tenha havido uma perda de atratividade”, afirma o economista. Seja como for, a entrada de investimento direto estrangeiro, que vem se recuperando depois da queda no início do ano, acumula um saldo de US$ 64 bilhões nos últimos 12 meses, praticamente o mesmo volume do ano passado. Mark Mobius, presidente-executivo da Templeton Emerging Markets, especialista em mercados emergentes, diz que, apesar das dificuldades atuais, a economia brasileira ainda é atraente. 

 

“Agora não está em seu melhor momento, mas, no longo prazo, é claro que ela voltará a ter um bom desempenho”, afirmou em entrevista à DINHEIRO (leia a reportagem AQUI) De qualquer forma, o País não ficou alheio à volatilidade que tomou o mundo na semana passada. O dólar chegou a ultrapassar os R$ 2,15, o que alarmou alguns investidores, e fez o governo reduzir o IOF para a entrada de dólares. Apesar dos pesares, o Brasil teve uma boa notícia para os pretendentes a relações estáveis. Um estudo divulgado na quarta-feira 12, pelo Global Trade Alert, uma entidade baseada em Londres que monitora o livre comércio no mundo, mostrou que o mercado brasileiro não é tão fechado ao comércio internacional quanto tem sido aventado. 

 

O protecionismo, que aumentou em todo o mundo depois de 2008 e vinha caindo, voltou a crescer desde o fim do ano passado. “Desde o início da crise, os governos foram muito criativos em burlar as regras da OMC”, diz o economista Simon Evenett, autor do estudo. Entre os países do G20, grupo das 20 maiores economias do mundo, o Brasil é o menos protecionista quando se consideram medidas de restrição e de estímulo ao comércio internacional. A lista é liderada pela Argentina. O status do vizinho não é propriamente uma surpresa para o Brasil, que também é vítima dessa blindagem da nação presidida por Cristina Kirchner. Além de comprometer as exportações brasileiras, a proximidade com a Argentina acaba desvalorizando o dote do País para futuros compromissos com outras nações. Quem casar com o Brasil terá que levar junto o Mercosul, uma espécie de tia intrometida que incomoda nas festas de família. 

 

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Oportunidade em alto-mar: leilões de exploração de petróleo estão atraindo

investidores do mundo inteiro

 

O empresário Luiz Fernando Furlan, que foi ministro do Desenvolvimento durante o primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, usa uma expressão gaúcha para ilustrar o peso do Mercosul para o Brasil. “É como rabo de burro: só cresce para baixo”, afirma Furlan. Ainda assim, o ex-ministro acredita que há excessos quando se fala que os investidores perderam a atração pelo Brasil. Ele cita, por exemplo, a emissão feita no mês passado pela BRF, da qual foi copresidente até 2011. “Foram emitidos papéis de dez anos, com rendimento de 4,3%”, diz Furlan, que é atualmente conselheiro independente da empresa. “No ano passado, houve uma emissão com rendimento de quase 6%, o que já era um luxo em relação às taxas cobradas pelo mercado no passado.” Por ora, o governo brasileiro tenta afastar os ruídos no mercado internacional, mantendo a estratégia de estimular o mercado interno. 

 

Na quarta-feira 12, a presidenta Dilma Rousseff lançou o programa Minha Casa Melhor, que oferece R$ 18,7 bilhões em crédito subsidiado para beneficiários do Minha Casa, Minha Vida comprarem eletrodomésticos e móveis. “É fundamental que essa parcela da população tenha acesso ao crédito”, afirmou a presidenta. Por mais críticas que receba pela política econômica adotada até aqui, Dilma tem defendido com unhas e dentes a manutenção do poder de compra da população, que foi ameaçado neste ano pela alta da inflação. O governo sabe que o controle da alta de preços é fundamental para manter a atratividade do Brasil perante os candidatos, uma vez que o mercado de consumo cresceu exponencialmente nos últimos anos e é um dos setores que mais atraem – e continuam atraindo – pretendentes ao País. 

 

A presidenta agora tenta valorizar ainda mais o passe brasileiro buscando aperfeiçoar os marcos regulatórios para aumentar os investimentos, principalmente em infraestrutura. Em outubro, o País terá um grande teste, com os leilões de petróleo. E na sequência, as concessões de aeroportos, ferrovias, rodovias… Além de capital, as obras de infraestrutura devem multiplicar a oferta de empregos – só a cadeia de óleo e gás deve gerar dois milhões de postos de trabalho até 2020, segundo a Organização Nacional da Indústria do Petróleo –, o que tende a fortalecer ainda mais a renda dos brasileiros. Por isso, ainda que os mais afoitos desdenhem do Brasil, quem seria capaz de deixar essa noiva sozinha no altar…

 

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Colaborou: Carla Jimenez