A BRF, maior processadora de alimentos do Brasil, anunciou a compra da turca Banvit, por US$ 470 milhões, na segunda-feira 10. Com capacidade para abater 600 mil frangos por dia, em seus cinco abatedouros, a compra adiciona uma importante estrutura para os planos internacionais da empresa brasileira. Mas não é só isso. O negócio, feito em parceria com o fundo soberano do Qatar, abre a possibilidade de atrair ainda mais dinheiro árabe para a BRF, em especial uma parte dos US$ 2 trilhões que o Public Investment Fund (PIF), o fundo soberano da Arábia Saudita, dispõe para investir, globalmente.

“Quero ter o PIF como sócio”, afirmou Alexandre Borges, vice-presidente de finanças da companhia, ao jornal Valor Econômico. Abocanhar uma fatia da fortuna saudita seria possível com o IPO da OneFoods, subsidiária da BRF que concentra as operações da empresa em países mulçumanos. As cinco unidades de produção da Banvit se somarão às fábricas da companhia em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, e na Malásia, além de outras oito unidades brasileiras sob controle da subsidiária. Segundo Borges, a abertura de capital poderá acontecer no segundo semestre.

O executivo afirma que essa é a melhor maneira de financiar a compra da empresa turca, ainda que a BRF tenha dinheiro em caixa para a transação. Indiretamente, a BRF já possui negócios com o PIF. Em dezembro de 2015, o fundo saudita adquiriu uma participação de 20% no frigorífico brasileiro Minerva, por R$ 750 milhões. A BRF é dona de uma fatia de 12% no frigorífico. O apetite saudita pela carne brasileira tem dois motivos. O primeiro é um plano de diversificação de negócios anunciado pelo rei da Arábia Saudita, Salman Bin Abdulaziz Al Saud, em abril.

O país tem, hoje, 90% do seu PIB atrelado ao petróleo. A ambição é se ver livre dessa dependência até 2020. O segundo motivo é uma questão de segurança nacional. “Nosso objetivo é ganhar dinheiro, mas há um aspecto estratégico no negócio com o Minerva, que é trazer maior segurança alimentar ao país”, afirmou Abdullah Aldubaikhi, CEO da Salic, braço de agronegócio do PIF, em maio, quando esteve no Brasil para assumir uma cadeira no conselho do Minerva.

Antes de negociar com o frigorífico, a Salic chegou a iniciar conversas para entrar no capital da BRF, que não avançaram. Enquanto o dinheiro árabe não vem, a companhia deverá aproveitar o bom posicionamento da Banvit na Turquia, maior mercado de comida halal (que segue as tradições islâmicas) no mundo, onde a empresa detém 13% de participação. Com a aquisição, a OneFoods passará a faturar US$ 2,5 bilhões, mas esse voo de balão pela Capadócia pode se mostrar mais lucrativo do que aparenta.