O economista carioca Alexandre Póvoa, de 45 anos, foi titular do time de basquete do Flamengo entre 1981 e 1991. Na equipe, ele atuou como ala e também como pivô. Aos 22 anos, depois de uma década de dedicação que lhe rendeu o título de bicampeão brasileiro, Póvoa decidiu trocar o suor das quadras pela adrenalina do mercado financeiro. Um dos motivos que o fizeram mudar de ramo foi a limitação de sua altura: “apenas” 1,91 metro. “Eu tinha de fazer o dobro do esforço dos demais jogadores”, diz. Agora, Póvoa está suando a camisa em outra empreitada, a gestora de fundos Canepa, de origem italiana.

Desde setembro de 2012, ele dedica-se a expandir a filial brasileira da Canepa, uma empresa que administra US$ 10 bilhões em mercados como Holanda, Luxemburgo, Espanha, Inglaterra e Estados Unidos. Fundada em 2007, a partir de um family office criado pela tradicional família Canepa, da região da Ligúria, na Itália, a gestora passou a administrar fundos de terceiros após dois anos de atuação e também se aventurou pelo mercado de private equity, investindo em companhias de energia, telecomunicações e infraestrutura.

A internacionalização foi rápida, a partir de uma ampla rede de parcerias com empresários e executivos europeus e americanos. Um de seus associados é o executivo espanhol Juan Villalonga, que comandou o Grupo Telefónica no mundo entre os anos de 1996 e 2000 e foi o estrategista da participação dos espanhóis na privatização da Telebrás, em julho de 1998. Atualmente, Villalonga define a presença da Canepa nas telecomunicações.

Nos Estados Unidos, a companhia tem participações em empresas de saúde como a Knome, especializada em pesquisas genéticas. No ano passado, ela passou a atuar no continente africano, investindo em projetos de infraestrutura. Quando chegou ao Brasil, a gestora fez um investimento inicial de US$ 30 milhões e criou dois fundos de ações. Atualmente, ela gerencia R$ 230 milhões, sendo R$ 60 milhões alocados em fundos abertos e o restante em carteiras administradas. Póvoa prepara-se para lançar mais um fundo nos próximos meses. “Será um fundo long-short.

Pretendemos começar a captar até o fim deste ano.” A meta do executivo é usar o País como uma plataforma para viabilizar os investimentos na América Latina. “Ainda estamos consolidando nossa operação local, mas o próximo passo é levar a gestora para países vizinhos”, diz. Na rota estão Chile e México, que oferecem boas oportunidades para investimento, tanto diretas quanto no mercado de capitais. “Estaremos com a operação regional em funcionamento até 2015.” De início, Póvoa pensou em partir para a ofensiva, mas a desaceleração da economia obrigou a empresa a jogar na retranca.

“Imaginávamos que o negócio se desenvolveria mais rápido por aqui, mas tivemos que rever nossos prazos”, afirma. Experiente, Póvoa tem uma longa trajetória no mercado financeiro. Começou atuando em pequenas gestoras e, em 1997, foi estudar nos Estados Unidos, onde se tornou analista do banco de investimentos Morgan Stanley. Em 1998, retornou ao Brasil para atuar como responsável pelos investimentos da gestora de recursos do banco holandês ABN Amro, que havia adquirido recentemente o controle do Banco Real.

Ficou no cargo até 2003 e então partiu para estruturar a gestora de recursos do carioca Modal, onde permaneceria até 2011, quando o banco foi vendido para o Brasil Plural. Naquele ano, Póvoa decidiu conceder-se um período sabático para desengavetar o longamente adiado projeto de escrever três livros sobre investimentos. Lançou “Valuation. Como precificar ações”, editado pela Elsevier, mas não ficou muito tempo fora do mercado financeiro. O gestor-escritor também voltou a atuar na direção do Flamengo.

Em 2013, após a conturbada e disputada eleição que tirou a nadadora Patrícia Amorim da presidência do clube carioca e a substituiu pelo administrador e empresário Eduardo Bandeira de Mello, Póvoa assumiu uma vice-presidência não remunerada, a de Esporte Olímpico. Afinal, a Olimpíada de 2016 está chegando. “O clube tem de voltar a ser uma potência esportiva, não apenas no futebol, mas também em outras modalidades olímpicas”, diz ele. “O esporte foi a melhor escola para a minha vida, e temos de garantir essa oportunidade para as gerações futuras.”