23/12/2015 - 18:30
Todo fim de ano é a mesma coisa. Às promessas de perder peso, fazer exercícios, passar mais tempo com os filhos e começar (ou acabar) aquele curso somam-se projetos de poupar para o futuro. Como a grande maioria das promessas do réveillon, os juramentos de guardar dinheiro normalmente não passam de boas intenções. A diferença, em 2016, é que a repetição dessa atitude por parte do investidor vai custar caro. A combinação entre turbulência econômica, alta de juros internacionais e indefinição política provocou um efeito devastador sobre os investimentos durante 2015.
Esse, porém, foi um efeito de curto prazo. Quem investir pensando em períodos mais longos, como cinco ou dez anos, poderá encontrar oportunidades excepcionais no mercado financeiro que vão facilitar muito a formação de um pecúlio para a aposentadoria. Seja ou não usuário dos produtos de previdência privada oferecidos pelos bancos e seguradoras, quem conseguir separar algum dinheiro para aplicar pode auferir lucros polpudos pelos próximos anos. “Os títulos públicos corrigidos pela inflação de prazos mais longos vêm demonstrando ser ativos excepcionais para a acumulação de capital”, diz Felipe Bottino, superintendente de produtos de previdência da Icatu Seguros.
No entanto, assim como nas corridas de longa distância, a preparação para a hora de pendurar as chuteiras vai muito além de escolher esta ou aquela aplicação. “Aposentadoria é um processo em que se estabelece um objetivo e se monta uma estratégia para atingi-lo”, diz Botino. Mais do que aproveitar uma determinada oportunidade de mercado, é preciso definir duas variáveis importantes. A primeira delas é a idade em que se pretende parar de trabalhar regularmente. Só aqui temos uma grande mudança.
Os especialistas são unânimes em afirmar que, daqui a uma ou duas décadas, “aposentado” não será quem deixou de trabalhar, mas quem está começando uma segunda atividade remunerada, frequentemente em uma área totalmente diferente da primeira, menos exigente e menos rentável. A segunda variável a definir é a renda necessária para manter uma qualidade de vida compatível com as necessidades da maturidade. E aqui está o maior desafio. Quando se pensa em renda em um futuro razoavelmente distante, antes de buscar rentabilidade é necessário garantir a preservação do capital.
“O investidor pode até vir a sofrer uma perda momentânea em um ano ou outro, mas o importante é que ele proteja o poder de compra do seu dinheiro ao longo do tempo”, diz Eduardo Castro, superintendente de Investimentos da empresa de gestão de recursos do banco Santander. Desde 2014, a imprevisibilidade da inflação tornou difícil a vida do investidor. Um levantamento da empresa de informações financeiras Economática mostrou que, nos 12 meses findos em 30 de novembro, de 18 indicadores econômicos, apenas quatro superaram a inflação medida pelo IPCA.
Os juros renderam apenas 2,3% em termos reais, o que representa uma remuneração magra para 12 meses de espera. “A defesa contra a inflação deve ser uma das prioridades do investidor nos próximos dois anos, pelo menos”, diz Amerson Magalhães, diretor da corretora Easynvest. Como fazer isso? Uma das boas apostas é a renda fixa de longo prazo, desde que o investidor esteja confortável com a ideia de alguns solavancos. Uma rápida consulta à página do Tesouro Direto na internet mostra a oportunidade de ouro à disposição de quem é paciente.
Na terça-feira, dia 22 de dezembro, os papéis Tesouro Prefixado com vencimento em janeiro de 2021 pagavam juros anuais de 16,57%. No período entre janeiro de 2016 e dezembro de 2020 é possível auferir um rendimento nominal acumulado, sem contar os impostos, de 115,2%. Ou seja, é possível mais que dobrar seu dinheiro em cinco anos sem correr riscos, pois os títulos públicos são considerados a mais segura das aplicações, independentemente das pedaladas fiscais. Quem pensa em prazos ainda mais longos e não se importa com uma volatilidade ainda maior pode optar pelos papéis corrigidos pelo índice de inflação IPCA.
Anteriormente conhecidas como Notas do Tesouro Nacional (NTN) e hoje chamadas de Tesouro IPCA, esses papéis vêm pagando juros que variam de 6,7% ao ano a 7,5% ao ano mais a variação da inflação. Um investidor que tivesse comprado um papel nessas condições teria ganho, dados os estimados 10,7% de inflação para 2015, quase 18% ao longo do ano. “Mas sempre é bom lembrar que, quanto mais distante o vencimento do título, maior a oscilação de seus preços ao longo do período”, diz Altair Cesar de Jesus, Superintendente de Investimentos da BrasilPrev. Aplicações arriscadas, como as ações, são recomendadas apenas para quem tem muita paciência.
Os prognósticos para os próximos meses são ruins. Segundo a pesquisa Focus, do Banco Central, a economia deve encolher 2,8% em 2016, e, mesmo assim, a inflação elevada poderá justificar novas altas da taxa de juros. Economia em queda é devastadora para as empresas, e há poucos sinais de que isso mude. “Estou procurando os sinais do fim da recessão em 2016”, diz Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco. “O problema foi que, até agora, não encontrei nenhum.” Esse cenário vai continuar prejudicando os resultados das empresas no curto prazo, mas, ao reduzir os preços das ações, poderá render bons frutos para quem for paciente.
Segundo Castro, do Santander, o crescimento do interesse de investidores estratégicos de longo prazo deve ser visto como um bom sinal. “Os investidores internacionais, que pensam em horizontes de 10 ou 20 anos, estão comprando empresas brasileiras para se beneficiar dos preços baixos”, diz ele. O mesmo raciocínio vale para o pequeno aplicador. Jesus, da BrasilPrev, avalia que uma alteração da situação econômica pode provocar uma forte valorização das ações devido a um movimento de correção de curto prazo.
“Atualmente ao redor de 44 mil pontos, o Índice Bovespa pode chegar a 60 mil em pouco tempo, e o investidor tem de estar preparado para isso, aplicando em fundos que invistam parte do seu portfólio em ações”, diz ele. Quem optar pelos fundos multimercados para montar sua previdência privada terá mais uma vantagem a partir de maio. O Conselho Monetário Nacional, por meio da Resolução 4.444 aprovou que esses fundos direcionem até 10% de seu patrimônio para investimentos internacionais.
Hoje restritos apenas aos produtos destinados aos investidores qualificados, esses fundos poderão buscar um pouco dos bons resultados auferidos ao longo de 2015 pelas carteiras que investiram em ações no exterior ou em certificados desses papéis negociados na Bolsa, os chamados Brazilian Depositary Receipts (BDR). A transição será suave, mas pode representar uma boa melhora na rentabilidade das aplicações de previdência.
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