28/01/2016 - 18:36
O pequeno município cearense de Aquiraz, capital do Estado até a fundação de Fortaleza, em 1726, conquistou nas últimas duas décadas um lugar de destaque no rol dos destinos turísticos mais cobiçados do Nordeste. No ano passado, mais de 1,2 milhão de visitantes – cerca de 15 vezes a população local – desembarcaram na cidade atraídos pelas praias tranquilas de areia branca e pelos tobogãs do Beach Park, o maior parque aquático do País. Muito em breve, no entanto, Aquiraz poderá se tornar também a capital nacional da energia eólica.
Isso porque a dinamarquesa Vestas, fabricante de turbinas e a única empresa do mundo dedicada exclusivamente à indústria da energia gerada pelos ventos, inaugurou sua primeira fábrica no Brasil. A unidade, que recebeu R$ 100 milhões em investimentos e emprega 500 funcionários, começou a produzir o aerogerador V110-2.0MW, eleito o mais eficiente do mundo pela revista britânica Windpower Monthly. “Com um dos melhores ventos do mundo, o Brasil é uma das grandes apostas da Vestas para os próximos anos”, disse o presidente da Vestas, Rogério Zampronha.
“O mercado de energia eólica, atualmente a principal fonte de energia limpa, tem um grande potencial de expansão.” A afirmação do executivo da Vestas endossa as mais recentes estatísticas da indústria eólica, que coloca o Brasil na lista de maiores produtores desse tipo de energia no mundo. O levantamento “Energia Eólica no Brasil e Mundo”, do Ministério de Minas e Energia, aponta que o País foi em 2014 (dado mais recente disponível) o quarto colocado no ranking mundial de expansão de potência eólica, com 2.686 megawatts, atrás apenas da China (23.149 megawatts), Alemanha (6.184 megawatts) e Estados Unidos (4.854 megawatts).
Um ano antes, o País ocupava a décima posição. Esse mesmo estudo revelou que o potencial eólico brasileiro é de 160 gigawatts (GW). Apenas como comparação, a Usina de Itaipu gera 14 GW anualmente. A hidrelétrica de Belo Monte terá capacidade para 11 GW. Não por acaso, os investimentos na indústria dos ventos devem superar R$ 28 bilhões neste ano, acima dos R$ 22 bilhões registrados em 2015. Os recursos virão de mais de uma centena de empresas, incluindo gigantes como GE e Siemens.
Com toda essa dinheirama a caminho, estima-se que a força dos ventos responda por 12% da matriz energética brasileira em 2024, o dobro da participação atual. “Não há, atualmente, uma indústria mais promissora do que a de energia eólica”, afirma Elbia Gannoum, presidente da associação do setor, a Abeeólica. “A energia eólica é uma espécie de oásis de prosperidade no Brasil, especialmente em uma economia em profunda crise e com necessidade de ampliar a geração de energia elétrica.” O horizonte promissor para o mercado eólico no Brasil não seduziu apenas a Vestas entre as empresas dinamarquesas, mas dezenas de outras dedicadas à energia limpa naquele país.
Se o Brasil possui a maior constância de ventos do mundo, atualmente, a Dinamarca – onde 30% da eletricidade é gerada por cataventos em terra e no mar – tem se consolidado com o país que mais avança no desenvolvimento de novas tecnologias em energia limpa. “A ambição da Dinamarca e de suas empresas é liderar a redução dos impactos ambientais em todo o mundo, seja por meio da incorporação de novas tecnologias, seja por meio de negociações de tratados climáticos”, disse Finn Mortense, diretor executivo da State of Green, uma agência independente que representa empresas dinamarquesas.
Nessa mesma sintonia, a capital Copenhague trabalha para se tornar, até 2030, a primeira cidade do planeta a ter o título de carbono zero, mesma meta estabelecida para todo o país, para 2050. “Ao contrário do que pensa a maioria, gerar energia limpa é mais barato do que queimar combustíveis fósseis e, em pouco tempo, retorna aos países em forma de dividendos financeiros e sociais”, garante o dinamarquês Peter Rathje, que comanda o ProjectZero, uma espécie de órgão que coordena a implementação de boas práticas ambientais no país escandinavo.
No caso do Brasil, a cadeia da indústria da energias limpas já está em estágio considerado avançado. A Danfoss, fabricante de equipamentos voltados à eficiência energética, com sede em Nordborg, também na Dinamarca, produz no Brasil desde 1968. O presidente da companhia na América Latina, o argentino Julio Molinari, afirma que a empresa está preparada para o salto ambiental no setor energético do País. “O potencial aqui é fabuloso”, garante o executivo.
“As oportunidades vão muito além da energia eólica, mas estão também na solar, na biomassa, no gás.” Até pouco tempo atrás, parte dos 350 parques eólicos em operação no Brasil sofria com a falta de linha de transmissão – os cataventos produziam energia, mas a eletricidade não chegava à rede do sistema elétrico nacional. A presidente da Abeeólica, no entanto, afirma que esse problema ficou para trás. “Agora, qualquer parque eólico que quiser participar de um leilão de energia precisa ter as linhas já construídas. Os erros do passado foram superados”.