20/06/2014 - 20:00
Mesmo antes da origem da Amazon, o empresário Jeff Bezos, fundador e atual CEO da companhia de comércio eletrônico americana, pensava em criar uma loja virtual com um catálogo e uma seleção de produtos infinitos. Ela seria a maior do mundo, assim como o brasileiro rio Amazonas, que dá nome à ambição de Bezos. Desde então, o empreendedor de 50 anos, nascido no Novo México, nos EUA, que iniciou a operação da Amazon com a oferta de livros, trabalhou incansavelmente para alcançar sua meta. Hoje, a empresa é a maior operação de comércio eletrônico do mundo, com faturamento de US$ 74,5 bilhões registrados em 2013 e valor de mercado de US$ 153,8 bilhões.
E, assim como queria Bezos, vende quase de tudo, de livros e eletroeletrônicos a roupas, sapatos e joias. Nos últimos anos, a Amazon passou a disputar mercados impensáveis para uma operação de comércio eletrônico. Ela presta serviços de computação em nuvem, lançou um tablet, desenvolveu um serviço de música digital e outro de vídeo online. O número de adversários da companhia de Seattle cresce na mesma proporção em que entra em novos mercados. Com isso, Bezos, aos poucos, está se transformando em uma espécie de inimigo público número 1 de uma série de empresas, como IBM, Google, Apple e Netflix.
Explica-se. A Amazon tem obsessão por preços baixos e por prestar um bom serviço ao consumidor. Nos mercados em que atua, ela força os competidores a reduzir preço e a melhorar o atendimento. Bom para o consumidor, não há dúvida. Nem tanto para os seus rivais. Na quarta-feira 18, Bezos ampliou o leque de competidores ao lançar um smartphone que será vendido, inicialmente, apenas nos Estados Unidos. Sua ideia é desafiar e pôr em xeque a hegemonia de empresas como Apple, Samsung, LG e Lenovo num mercado que vendeu um bilhão de aparelhos em 2013.
O Fire Phone, como foi batizado o produto, tem tela de 4,7 polegadas. Seu sistema operacional é o Fire OS, uma versão bastante alterada do Android, do Google. Ele conta, ainda, com um processador potente, com quatro núcleos, e câmera de 13 megapixels. A maior inovação, contudo, são as imagens com profundidade, que dão impressão de terceira dimensão. O celular inteligente apresenta ainda cinco câmeras em sua parte frontal, uma em cada um dos quatro cantos e uma no centro da tela. Elas mapeiam o rosto do usuário e organizam a exibição da imagem, conforme o ângulo e a distância entre os olhos e a tela.
O celular de Bezos, no entanto, não chega para ser mais um corpulento e extravagante dispositivo na competição por desempenho e tamanho de tela. O Fire Phone tem uma nova proposta de uso, focada no cliente que consome os produto da Amazon. Ele é uma espécie de caixa registradora móvel, pensada para melhorar a experiência de consumo. “Os usuários vão consumir como nunca”, afirmou Bezos, durante o lançamento do aparelho, em Seattle. No evento, a maior parte do tempo de palco foi dedicada à apresentação do aplicativo Firefly.
Com ele, o dono do celular inteligente da Amazon aponta a câmera para um livro, um televisor ou um quadro e é automaticamente redirecionado para uma página com informações sobre o produto, só podendo, obviamente, adquiri-lo na Amazon. A plataforma também registra sons, permitindo que se reconheça músicas, filmes e séries de televisão. O usuário, é claro, pode comprar esses conteúdos na loja de Bezos.
“A principal missão do Fire Phone não é competir com Apple e Samsung”, afirma Jeff Kagan, fundador da consultoria de tecnologia americana que leva seu nome. “Seu objetivo é fidelizar o cliente.” Ganhar participação no mercado de smartphones não será uma missão fácil. O setor conta com concorrência acirrada e dois competidores com larga vantagem: Apple e Samsung. Além disso, transformar um celular em um dispositivo que abre as portas da empresa já fracassou no passado.
O Facebook, por exemplo, desenvolveu, em parceria com a taiwanesa HTC, o One, smartphone que rodava com uma versão do Android totalmente centrada na rede social mais famosa do mundo. O aparelho, no entanto, conseguiu cativar apenas um milhão de usuários em dois meses. O próprio Google tentou um voo solo com a aquisição da Motorola, pela qual pagou US$ 12,5 bilhões, arrematada com um brutal desconto no início deste ano, por apenas US$ 2,9 bilhões. A Amazon acredita que sua estratégia vai dar certo, sem temer um eventual fracasso. Afinal, a empresa de Bezos está fechando um ciclo de consumo.
Ela é dona do mais popular leitor de livro digital, o Kindle, conta ainda com boa participação no mercado de tablets, com o Kindle Fire, e entrou com força na disputa pelo mercado de televisão com o Fire TV, lançado em abril deste ano. O smartphone entra nessa equação como uma espécie de controle remoto para todos esses dispositivos. Quem leu o livro A Loja de Tudo, de Brad Stone, que conta a história da Amazon, sabe que falhar não é um dos medos de Bezos. Quando ainda estava traçando a estratégia de sua empresa, ele leu que grandes companhias fracassam por temer abraçar novos rumos e serviços. Receio que Bezos, ao que tudo indica, parece não ter.