Além do futebol, o Brasil se destaca no ranking dos países com maior incidência de raios. A cada ano, nada menos que 50 milhões de descargas elétricas atingem algum ponto de seu território. O verão brasileiro também é conhecido pela intensidade das pancadas de chuvas e pelas ventanias que causam estragos como a derrubada de árvores. Apesar de se tratar de eventos climáticos, de certa forma, previsíveis, a direção da AES Eletropaulo culpa exatamente esses fatores como responsáveis pela sequência de apagões que vêm atormentando a vida de quem vive na Grande São Paulo, sua área de jurisdição.

Procurados pela DINHEIRO, os dirigentes da AES, comandada por Britaldo Soares, não quiseram dar entrevista, limitando-se a divulgar um comunicado no qual falam das ações em curso e elencam o que têm feito. “No dia 29 de dezembro houve a queda de 286 árvores na cidade, o maior número já registrado em um único dia”, diz a nota enviada pela assessoria de imprensa da AES. Ainda segundo a assessoria, apenas após a ação dos bombeiros, encarregados de remover as árvores, e de agentes da prefeitura é que os técnicos da concessionária podem entrar em ação.

Independentemente de quem seja o responsável, o certo é que os usuários da energia fornecida pela AES Eletropaulo estão à beira de um ataque de nervos. Cerca de 250 mil paulistanos tiveram o fornecimento de energia interrompido por até 48 horas. Nem mesmo hospitais escapam. Na terça-feira 13, o Procon-SP multou a empresa em R$ 3,7 milhões, por conta das falhas no atendimento a um chamado feito pelo Hospital Municipal Amador Aguiar, em Osasco, cidade vizinha à capital. A unidade permaneceu por mais de oito horas às escuras. Desde a virada do ano, o Procon recebeu mais de mil reclamações contra a empresa. Muitas devem ser convertidas em multas.

Desde 2006, já foram dez autuações, totalizando R$ 28,7 milhões. Além de “culpar a natureza”, a nota da Eletropaulo também menciona os investimentos feitos na melhoria do sistema. Foram R$ 3 bilhões, nos últimos cinco anos, e a perspectiva é desembolsar outros R$ 3 bilhões, no período 2015-2018. Trata-se de um desafio e tanto para uma empresa que opera no vermelho. No acumulado janeiro-setembro, o prejuízo foi de R$ 407,3 milhões. Para efeito de comparação, a Light, concessionária do Rio de Janeiro, que tem um porte semelhante ao da AES Eletropaulo, obteve lucro de R$ 141,7 milhões, no mesmo período.