13/12/2013 - 21:00
Quando se está pilotando um barquinho a vela, é fácil alterar a rota; mas fazer isso com um cargueiro exige planejamento e tempo.” A analogia de Filipe Cerqueira Caldas, vice-presidente da gestora Hamilton Lane, explica o momento vivido pelos fundos de private equity no Brasil. Essas instituições financeiras compram participações em empresas fechadas para depois revendê-las por um preço mais alto e devem captar US$ 450 bilhões em 2013. Elas estão virando o leme em direção às economias desenvolvidas, depois passar anos atracados em países emergentes.
Wander Pinto, sócio da Grant Thornton: “Os gestores que conhecem o País vão buscar
ativos brasileiros, atraídos pelos bons retornos”
A mudança de foco, segundo uma pesquisa junto a 156 gestoras globais realizada pela consultoria americana Grant Thornton e obtida com exclusividade por DINHEIRO, é resultado da melhora no mercado na América do Norte e da retomada da Europa. “Aumentamos a exposição aos Estados Unidos e o principal foco são os projetos de energia”, diz Juan Delgado-Moreira, principal executivo da Hamilton Lane. No entanto, embora o acrônimo BRICS, que representa Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul não seja mais a bola da vez, o Brasil não vai sair do radar.
“Os gestores de fundos que conhecem o País vão continuar buscando ativos brasileiros, atraídos pelos juros altos e pelos bons retornos atrelados aos riscos”, diz Wander Pinto, sócio da Grant Thornton. “A diferença é que a enxurrada de capital de investidores ansiosos por fazer sua primeira aplicação no Brasil provavelmente não vai chegar.” O cenário ruim para a bolsa tem dificultado a saída dos fundos, que em geral ocorre por meio de aberturas de capital, o que funciona como mais uma barreira à entrada. A estimativa da Hamilton Lane é que os fundos de private equity que já investem no Brasil levantem mais
US$ 14 bilhões em 2014 para investir por aqui.
Se confirmado, esse valor vai representar um avanço de 20% em relação a 2013. “Os anos de 2014 e 2015 serão interessantes para a compra de ativos, diferentemente dos dois últimos anos”, diz Caldas. A explicação é a famosa lei da oferta e da procura. Com a vinda em massa dos fundos em 2010 e 2011, as empresas brasileiras passaram a ser negociadas, em média, a 11 vezes o valor do potencial de geração de caixa, chamado de Ebitda. Os números fracos de 2012 e de 2013 reduziram o interesse dos investidores, o que baixou o preço para cerca de 6 vezes. “Os empresários achavam que suas companhias valiam mais que o dobro da nossa avaliação, e demorou para esses dois valores convergirem”, diz Piero Minardi, sócio da Gávea Investimentos.
O cenário também mudou. “No ano que vem, com a mudança na política monetária nos Estados Unidos, deve vir menos dinheiro para o Brasil, o BNDES deve emprestar menos e os juros vão aumentar. Com isso, os private equities voltarão a ter destaque”, acrescenta. No momento, a Siguler Guff, que administra US$ 10 bilhões globalmente, está captando R$ 300 milhões para um fundo local. A rodada deve ser encerrada ainda no primeiro trimestre de 2014, diz César Collier, diretor da gestora para o Brasil. Entre os potenciais investidores estão fundos de pensão de médio porte que ainda não investem nesse segmento.
“Já visitamos 40 fundos e ainda vamos nos encontrar com outros 30”, diz. Atualmente, a gestora investe R$ 1 bilhão no Brasil por meio de 11 fundos de investimento em participação (FIP). O movimento de levantar recursos junto a investidores brasileiros tem se tornado cada vez mais comum. De acordo com o Centro de Estudos em Private Equity e Venture Capital da Fundação Getulio Vargas (GVCepe), investidores domésticos são responsáveis por 65% das captações da indústria, percentual que deve aumentar nos próximos anos. Segundo Cláudio Furtado, diretor do GVcepe, os fundos de pensão têm planos de mais do que dobrar a alocação em private equity até 2016. “A vantagem é que ao captar dentro de casa não existe risco cambial”, diz Furtado.