Palestrante e professor universitário, o indiano Raj Sisodia se tornou um guru de líderes empresariais, reconhecido como mais credenciado porta-voz do capitalismo consciente.  Em suas pregações, ele enfatiza a defesa do lucro. Não daquele obtido a qualquer custo, mas sim do que resulta de uma atuação empresarial revolucionária. No dia 25, Sisodia desembarca no Rio de Janeiro para participar da conferência Sustainable Brands. “Para ocupar espaço no cenário global, o Brasil precisa fazer ajustes, especialmente na área de educação”, afirma.

Seria correto dizer que o capitalismo não conseguiu dar uma resposta satisfatória às demandas das pessoas, especialmente na área social?
É preciso não perder de vista que existe uma grande diferença entre as empresas dirigidas por gestores e acionistas que veem seus negócios apenas como uma fonte de lucro e aquelas que enxergam o negócio como uma forma de gerar valor para as pessoas que estão à sua volta e não apenas para os acionistas.

E quais seriam as diferenças objetivas entre essas duas visões?
Quando se está preocupado apenas com o lucro, a tendência é de que haja uma deterioração das relações, tanto com empregados, quanto com fornecedores. Isso acontece a partir de uma política de supressão de direitos trabalhistas, além da pressão sobre fornecedores em busca de preços menores. Mas isso não é sustentável no longo prazo.

Quais são os países que reúnem o maior número de empresas com essa nova visão sobre a maneira de fazer negócios?
De um modo geral, diria que são os Estados Unidos. É onde o capitalismo está mais maduro e a competição é mais ferrenha. Também temos exemplos na Coreia do Sul, na Austrália e em Israel.

O Brasil não entrou no seu radar?
Sei pouco sobre o Brasil. Mas, de um modo geral, posso dizer que a Embraer, a Natura e a Azul são empresas que se guiam por estes conceitos.

Não seria uma visão romântica, e até ingênua, imaginar que as empresas devam se converter ao capitalismo consciente?
É uma questão de sobrevivência e de evolução. Cerca de 80 empresas já operam, no mundo, a partir desses valores e seus resultados não diminuíram. Pelo contrário, continuam ganhando dinheiro, só que de um jeito melhor.

Mas isso não seria uma forma socialista de gerir os negócios?
Nada disso. O socialismo nasceu como uma reação a um capitalismo que abandonou os valores iniciais e se fixou apenas no lucro como uma expressão de valor. A partir daí, surgiram os sindicatos e as disputas entre capital e trabalho. Mas já sabemos que o socialismo não funciona. O que as pessoas desejam é liberdade e oportunidades para desenvolver sua veia empreendedora.

O Grameen Bank, de Bangladesh, e outras iniciativas criadas por Muhammad Yunus seriam um exemplo de projetos que têm essa visão?
Trata-se de uma iniciativa que traz benefícios positivos para as pessoas. Contudo, seu alcance é bastante limitado, pois Yunus aposta em empresas sociais de alcance limitado e nas quais não existe o lucro. E, como sabemos, o lucro é o motor do desenvolvimento e da prosperidade dos países.

Nesse contexto, o Brasil, por ser uma economia madura, poderia levar vantagem em relação aos demais emergentes, na atração por investimentos?
Creio que sim. Na China, o que vigora é o capitalismo de Estado que é perigoso a longo prazo. Um exemplo prático disso é o que está acontecendo no mercado imobiliário chinês. Para ocupar espaço no cenário global o Brasil precisa fazer ainda alguns ajustes.

Em quais campos?
O principal deles é na qualidade da educação. Também é importante não repetir os erros do passado.

Como o consumidor pode diferenciar as empresas éticas daquelas que praticam a maquiagem verde, também conhecida como greenwashing?
Em um mundo no qual as informações circulam com grande velocidade, está cada vez mais fácil desmascarar quem usa este tipo de expediente. As empresas vêm adquirindo consciência de que devem tomar atitudes em favor do planeta. Mas, de um modo geral, creio que aquelas que não criam problemas já ajudam bastante.