01/08/2012 - 21:00
Na terça-feira 24, os 7,2 mil funcionários do complexo industrial da General Motors, em São José dos Campos, no Vale do Paraíba, em São Paulo, encontraram os portões de acesso fechados ao chegar ao local de trabalho. Naquele dia, a montadora resolveu paralisar todas as operações das oito fábricas do complexo. “Considerando as fortes evidências de mobilizações internas, preferimos não expor nossos empregados a eventuais incitações e provocações”, justificou a direção da GM, que reabriu a fábrica no dia seguinte. Está em curso uma verdadeira queda de braço entre o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e a montadora.
Na segunda-feira 16 os operários pararam a produção da fábrica por 24 horas.
Por conta do desgaste no relacionamento com os empregados, nos últimos cinco anos a empresa desviou projetos importantes da unidade, como o do monovolume Spin e dos sedãs Cruze e Cobalt, transferidos para a sede da companhia, em São Caetano do Sul, na região do ABC paulista. O que está em discussão, agora, é exatamente o fechamento da maior das oito fábricas de São José, conhecida como MVA (Montagem de Veículos Automotores), onde até então eram produzidos os modelos Meriva, Zafira, Corsa e Classic. A direção da GM não admite formalmente essa possibilidade aventada pelos dirigentes sindicais, mas deixa claro que a unidade não é mais importante em seu planejamento. “Não temos nenhum novo investimento em vista para São José”, afirma Luiz Moan, diretor de assuntos institucionais da montadora.
O executivo atribui a falta de novos projetos à posição radical do sindicato, que refutaria suas propostas, como a de implantação de um sistema de banco de horas e de uma grade salarial mais baixa para novos funcionários. “São medidas já adotadas em nossas outras fábricas”, diz Moan. O fechamento da unidade MVA causaria a demissão de 1,5 mil trabalhadores. Uma comissão de operários já foi a Brasília pedir a intervenção da presidenta Dilma Rousseff. Uma das cláusulas do acordo entre as montadoras e o governo federal para a redução na alíquota do IPI prevê a manutenção dos empregos. A GM diz que manterá os 43 mil postos de trabalho nacionalmente. O tumultuado relacionamento entre as partes marcou as negociações do último projeto aprovado para o complexo automotivo, em 2008.
O fechamento da linha ameaça 1,5 mil empregos.
A intransigência dos líderes sindicais quase minou o acordo para a fabricação das novas gerações dos utilitários S10 e Blazer, no qual foram investidos R$ 800 milhões. “O projeto da S10 só foi aprovado porque os trabalhadores votaram contra a posição oficial do sindicato”, diz Eduardo Cury, prefeito de São José dos Campos. Na última eleição do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, em março deste ano, a chapa de Antônio Ferreira de Barros, o atual presidente, recebeu apenas 38% dos votos dentro da GM. Segundo Moan, outros três projetos foram propostos para a unidade desde então, mas não houve trégua nem acordo para isso. O sindicato nega que tenha havido essas negociações. “Eles decidiram fechar a linha e estão sem coragem de anunciar isso”, diz Barros. No fundo, todos saem perdendo com a situação.
“É uma briga ideológica que está desviando os investimentos de lá”, afirma Aparecido Inácio da Silva, presidente do sindicato dos metalúrgicos de São Caetano do Sul. “Eles acharam que a GM estava blefando, mas agora viram que a fábrica pode realmente fechar.” Com o fechamento do setor, o município deixaria de arrecadar cerca de R$ 25 milhões em ICMS. As reuniões com o sindicato estão sendo intermediadas por representantes do Ministério do Trabalho e da prefeitura do município. “Nosso papel é proporcionar um clima neutro de negociação”, diz Manoel Messias Melo, secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho. Até a próxima reunião, que acontecerá em agosto, no sábado 4, a GM não tomará nenhuma decisão e os dois lados terão de apresentar propostas para resolver o impasse. Antes tarde do que nunca.