16/08/2013 - 21:00
Há dois anos, a BlackBerry era tão poderosa que foi considerada a principal ferramenta dos manifestantes que ocuparam as ruas de Londres após um jovem negro ser morto pela polícia. As autoridades inglesas cogitaram pedir que a empresa desligasse o BBM, serviço de mensagem dos celulares da marca. Poderio semelhante já era conhecido no mundo corporativo. O sinal vermelho piscante dos aparelhos significava Trabalho, com T maiúsculo. Ao lembrar desse cenário, os atuais números da companhia parecem inacreditáveis: sua participação de mercado, que em 2009 oscilava na casa dos 50%, hoje é de menos de 3%. Um ano antes, em junho de 2008, seu valor de mercado chegara a US$ 80 bilhões. Hoje, esse número está abaixo de US$ 6 bilhões.
A companhia liderada por Thorsten Heins agora estuda soluções drásticas para sair da crise, incluindo a retirada de seus papéis da bolsa e a venda da marca. A empresa bem que tentou, antes de cogitar essas alternativas, valer-se de remédios caseiros. No começo deste ano, lançou um sistema novo, o BlackBerry 10. A recepção aos aparelhos, porém, foi tímida. Isso foi confirmado pelo balanço do segundo trimestre deste ano, que registrou prejuízo de US$ 84 milhões. A receita ficou em US$ 3,1 bilhões, aquém dos US$ 3,3 bilhões esperados pelo mercado. “Vemos oportunidades de longo prazo com o BlackBerry 10”, disse Heins, durante a divulgação do balancete.
Menos dispostos a esperar, os acionistas da BlackBerry resolveram criar um comitê para apontar saídas urgentes. O grupo vai analisar desde novas parcerias e joint-ventures até o fechamento do capital ou a venda da empresa. A notícia animou os investidores. A ação subiu 12% nos dois dias posteriores ao anúncio. O burburinho cresceu ainda mais depois que Prem Watsa, dono da Fairfax Finantial Holdings, maior acionista da BlackBerry, pediu o boné e saiu do conselho de administração. A renúncia de Watsa, chamado de “Warren Buffett do Canadá”, foi entendida como um sinal de que ele poderia ser um dos interessados em fazer uma oferta pela empresa. Ele, no entanto, nega.
“A BlackBerry pode continuar contando conosco”, afirmou. Outra alternativa, a da venda para uma empresa de tecnologia, arrepia o mercado. Desde o começo do declínio da empresa especula-se sobre interessadas. Gigantes como Microsoft e Samsung têm sido citadas, assim como a chinesa Lenovo, líder mundial do segmento de PCs. Essa hipótese, por sinal, deve preocupar os EUA, já que boa parte dos aparelhos usados por funcionários do governo são BlackBerry. Como dona da empresa que produz o celular de Barack Obama, a China teria uma oportunidade de dar o troco nos americanos, execrados por fazerem espionagem na internet. Isso, é claro, se Obama não trocar seu celular por outro, como o mundo inteiro já fez.