04/02/2016 - 19:00
O banco francês Crédit Agricole reestruturou suas operações no Brasil e alterou sua marca, passando a se chamar Indosuez. Mathieu Ferragut, diretor para as Américas do private bank do Indosuez, falou com exclusividade à DINHEIRO sobre a nova estratégia do banco e sobre a sua visão para o cenário global. Ele diz esperar um cenário de volatilidade nas commodities e de juros em baixa por bastante tempo. Sua recomendação é a diversificação.
Por que mudar a marca?
Isso veio de um processo que se iniciou há três anos, em 2013. Naquele momento o mercado estava muito difícil, por isso tivemos de reestruturar a operação. Enxugamos a estrutura, reduzimos o tamanho do banco e alteramos nosso modelo de negócios. Esse processo veio em linha com uma reformulação global da marca. Agora, vamos adotar o nome Indosuez nas atividades de gestão de ativos e fortunas.
Como vocês veem o mercado brasileiro hoje?
Nossa avaliação é que as condições estão se deteriorando em relação ao ano passado, especialmente na indústria de gestão de fortunas. As margens estão se encolhendo, porque os investidores estão mais conservadores, e produtos conservadores proporcionam margens de lucro menores.
Quanto foi essa redução?
Entre 10 e 15 pontos-base (centésimos de ponto percentual), algo que deverá continuar pelo menos nos primeiros meses do ano.
A situação da economia brasileira hoje é uma fonte de preocupação?
Não. Temos uma longa história no Brasil, atuamos no país há quase um século. Então, temos um entendimento profundo da economia brasileira, compreendemos os eventos econômicos e somos resilientes para enfrentar as crises.
O que vocês pretendem oferecer para ganhar mercado?
Produtos que proporcionem ganhos ao cliente em um ambiente de juros elevados e inflação alta, que, acreditamos, deverão permanecer por mais algum tempo. Além disso, em 2015 todos que investiram em ativos ligados ao dólar ou a títulos internacionais ganharam dinheiro. Para 2016 essa aposta é menos óbvia, então nosso principal esforço será oferecer aos clientes oportunidades de diversificação.
Além da gestão de fortunas, que outras atividades o banco vai realizar por aqui?
O Brasil é um mercado difícil. Além de ser o maior mercado na América Latina e de ter muitos concorrentes capazes, é um mercado com uma regulamentação complexa e cheia de especificidades. Assim, vamos atual em nichos nos quais temos experiência, como financiamento à exportação, securitização e também atender às empresas que precisem de serviços relacionados ao câmbio.
Qual sua expectativa para o mercado?
Somos um banco de médio porte, com cerca de R$ 4 bilhões em ativos sob administração. Em 2015, tivemos um crescimento preliminar de 15%, e nossa meta é obter um resultado parecido em 2016.
E em termos globais?
Em 2014, o segundo maior pólo de riqueza era a Europa, com US$ 39 trilhões em ativos para investir. Em 2019, essa posição terá sido assumida pela Ásia, que terá US$ 55 trilhões. Isso altera os movimentos da economia global. Além disso, percebemos algumas mudanças estruturais no mercado.
Quais?
Nossa avaliação é que os preços das commodities terão um longo ciclo de queda, em um cenário de mais volatilidade. Já as ações tenderão a oferecer mais ganhos do que a renda fixa.
Como isso afeta a estratégia do investidor?
O conceito dos Brics, que durou por mais de uma década, está começando a perder relevância. Os países estão crescendo menos ou em recessão, há uma complicação da situação política e ocorreram ajustes muito fortes nas taxas de câmbio, alguns deles brutais. Tudo isso nos força a mudar a maneira como olhamos para os mercados.