O ano de 2016 virou meme nas redes sociais. Para muitos usuários, o bordão é “acaba, 2016”, citando as razões para que o famigerado período fique para trás. A lista de motivos é extensa e incluem mortes de personalidades icônicas, como a do cantor David Bowie, a do boxeador Muhammad Ali, do líder Fidel Castro ou do cardeal D. Evaristo Arns. Há ainda acidentes trágicos como o do voo da Chapecoense e atentados terroristas, como o de Berlim, na semana passada. Não custa lembrar do caos humanitário em Aleppo, na Síria, e da crise econômica, que está dizimando empregos em todas as áreas no Brasil.

Sinto muito em desapontar a todos. Acredito que estamos longe de renovar os votos para um novo ano que surge, como fazemos a cada 12 meses, numa repetição tola que nos dá esperança e alívio de que tudo vai mudar a partir de janeiro. Se tiver que entoar uma canção no dia 31 de dezembro, perto da meia noite, cantaria – desafinado, evidentemente: “Adeus Ano Velho, Feliz Ano Velho”. Explico. Em minha opinião, ainda vivemos o ano de 2014. A vitória de Dilma Rousseff, em 26 de outubro de 2014, abriu feridas que até agora não foram cicatrizadas.

Os eventos que se sucederam a partir de então ainda não terminaram e, com o desenrolar da crise, estão ganhando novos contornos. Vamos a eles. Em primeiro lugar, o candidato Aécio Neves (PSDB) não reconheceu a derrota e buscou uma auditoria nas urnas eletrônicas. Posteriormente, entrou com uma ação no TSE, que pode culminar com a cassação da chapa Dilma/Temer, em 2017. A crise econômica ganhou cores vivas, contrariando o discurso da candidata vitoriosa, que pintou um Brasil que não existia durante a campanha.

O discurso fictício encontrou a dura realidade. A ascensão de Eduardo Cunha como presidente da Câmara dos Deputados foi o estopim para a ruína da base de sustentação de Dilma e que culminou com o impedimento da presidente. Não se pode esquecer que um impeachment é um processo traumático em qualquer lugar do planeta. Não seria diferente no Brasil. O sucessor de Dilma, o peemedebista Michel Temer, nomeou também um gabinete com vários nomes envolvidos e investigados em casos de corrupção. Muitos dos ministros foram citados em delações da operação Lava Jato, um fator de desestabilização constante na política e na economia para qualquer governo de plantão.

Esses eventos ficaram ainda mais graves ao longo de 2016, com uma crise institucional entre os três Poderes, chegando ao ápice quando o presidente do Senado, Renan Calheiros, não recebeu um oficial de Justiça com a intimação de que deixasse a presidência da Casa. Um dia depois, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que Calheiros poderia ficar onde estava, mas não poderia assumir a presidência da República. Quando os juízes usam a mangueira, e não caneta, estão agindo como bombeiros da crise – a lei, neste caso, é um mero detalhe.

Como colocar um ponto final em 2014? Essa é uma resposta difícil. Cada um terá sua visão, evidentemente. A minha passa por uma reforma política, que restrinja o número de partidos. Hoje, são 35, o que torna a governabilidade um fator complicadíssimo para qualquer político que sente na cadeira de presidente. Dessa forma, o fisiologismo do “é dando que se recebe” torna-se a moeda de troca para a aprovação de projetos no Congresso Nacional. Tão importante quanto essa discussão é debater a proposta de eleições diretas já para presidente e para o Congresso Nacional. Para riscar 2014 do mapa, precisamos recomeçar de onde paramos.