Com a taxa básica de juros acima dos 14% em boa parte do ano, muitos brasileiros preferiram brincar de esconde-esconde em vez de correr o risco de investir na bolsa de valores. Não por acaso, o número de investidores registrados pela BM&FBovespa encerrou novembro em 561.285 pessoas, em alta tímida de 0,7% em relação ao fim de 2015, mas longe do ápice de 610.915 registrado em 2010. A expectativa de mais cortes na Selic e a perspectiva de recuperação da economia deve atrair mais investidores em 2017. Pensando neles, DINHEIRO solicitou sugestões de ações para analistas de dez bancos de investimento e corretoras. Eles indicaram nove papéis para 2017 – três de baixo risco, três de risco médio e três de alto risco. Confira as recomendações, em ordem de preferência, e a valorização no ano, até 21 de dezembro:

BAIXO RISCO

1 • Raia Drogasil (RADL3)
Setor: Varejo
Desempenho no ano: 69,29%
Um dos poucos destaques do varejo em 2016, a Raia Drogasil chegou a ser a ação mais valorizada da Bolsa ao longo do primeiro semestre. O envelhecimento da população, somado à forte expansão apresentada pela companhia, fez os olhos dos investidores brilharem. Em setembro de 2016, a rede operava 1.320 lojas em todo o País, e planejava inaugurar mais 200 até o fim de 2017. Para os analistas, as ações ainda têm espaço para valorização. “Em outros tempos, chegamos a pensar que ela estava cara, mas a ação não parou de subir”, diz Pedro Galdi, analista da Upside Investor.

2 • Transmissão Paulista (TRPL4)
Setor: Elétrico
Desempenho no ano: 36,23%
Apostar em empresas que pagam bons dividendos para se defender das intempéries macroeconômicas de 2017 é praticamente uma unanimidade entre os analistas. A Transmissão Paulista é um bom exemplo. Apesar do nome, ela atua em 16 Estados e a demanda por energia é cativa. A companhia também deve se beneficiar da esperada redução na taxa de juros, tem fluxo de caixa previsível e é pouco sensível ao crescimento da economia. “Existem boas oportunidades decorrentes da necessidade do país de mais investimentos em transmissão de energia elétrica”, diz André Carvalho, chefe da área de análise do Bradesco BBI.

3 • Ambev (ABEV3)
Setor: Bebidas
Desempenho no ano: – 6,40%
Tradicional boa pagadora de dividendos, a cervejaria se tornou uma interessante opção defensiva para 2017. Suas ações são consideradas baratas. As cotações caíram 17,2% em dois meses, depois que a companhia anunciou uma queda de 6,6% na receita entre janeiro e setembro de 2016, frente ao mesmo período de 2015. No ano, os papéis amargam uma baixa de 6,40% até o dia 21 de dezembro. Os analistas encaram essa desvalorização como uma oportunidade, pois enxergam na companhia a solidez necessária para enfrentar as crises. “Além disso, é uma geradora de caixa tradicional”, diz Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura.

MÉDIO RISCO

1 • Itaú Unibanco (ITUB4)
Setor: Bancos
Desempenho no ano: 38,77%
A recessão afetou duramente os bancos, que sofreram com a inadimplência em seus empréstimos nos primeiros trimestres do ano. O Itaú Unibanco não foi exceção. No terceiro trimestre, o índice que mede os atrasos e calotes subiu 0,3 ponto percentual, para 3,9% do total de empréstimos. Mesmo assim, o banco continua entregando lucros consideráveis e dividendos gordos aos acionistas. “A internacionalização também vem ajudando o Itaú a ficar menos exposto aos problemas no País”, diz Lenon Borges, analista chefe da Ativa Corretora. “É uma empresa com resultados muito consistentes.”

2 • CCR (CCRO3)
Setor: Concessões 
Desempenho no ano: 26,18%
A empresa de concessões CCR pode se beneficiar, e muito, da retomada da economia. A companhia explora aeroportos, rodovias e linhas de metrô. Para os analistas, o lançamento de um pacote de concessões pelo governo federal, prometido para 2017, deve proporcionar grandes oportunidades de ganho. No entanto, a empresa oferece um risco. Dois de seus controladores, as empreiteiras Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, foram envolvidas nas investigações da Lava Jato, processo que ainda não está concluído. O fato de a CCR estar planejando um aumento de capital para 2017 é mais uma incógnita. “Ela sempre se mostrou independente e com ótima governança”, diz Marco Saravalle, analista da XP Investimentos. “Mas fica a dúvida se os controladores serão capazes de acompanhar o aumento de capital.”

3 • Iguatemi (IGTA3)
Setor: Shopping center
Desempenho no ano: 38,29%
O ano de 2016 não deixará saudades no varejo. Nos shopping centers, o crescimento médio ficará aquém dos resultados pujantes dos últimos anos. Mesmo assim, os analistas enxergam oportunidades nos centros de compras devido às perspectivas de queda nos juros. O preferido é o Iguatemi, devido à taxa elevada de ocupação, que foi de 93,7% em setembro, dado mais recente disponível. Outra vantagem é a preferência das classes A e B como seu público-alvo, e esses consumidores são mais resilientes à crise. “Esse público é menos dependente do crédito”, diz Adeodato Netto, chefe de mercado de capitais da Eleven.

ALTO RISCO

1 • Petrobras (PETR4)
Setor: Óleo e Gás
Desempenho no ano: 114,03%
Pedro Parente, que assumiu a presidência da estatal no dia 30 de maio, conseguiu reverter a visão do mercado sobre a empresa, principal alvo das investigações da operação Lava Jato. Parente adotou medidas duras e iniciou um programa ambicioso de desinvestimentos e venda de ativos. Já vendeu a distribuidora de gás Liquigás, para o grupo Ultra, por R$ 2,8 bilhões, e 90% do gasoduto NTS para a canadense Brookfield por US$ 5,19 bilhões. A BR Distribuidora está na lista, embora a venda tenha sido suspensa no dia 19 de dezembro. “A Petrobras também vai se beneficiar da alta do preço do petróleo que deverá ocorrer em 2017, diz Samuel Torres, analista da Spinelli Corretora. Apesar do cenário positivo, a petroleira continua muito exposta à atual crise política.

2 • Banco do Brasil (BBAS3)
Setor: Bancos
Desempenho no ano: 86,34%
Assim como a Petrobras, o Banco do Brasil também vem sofrendo com a crise política. Para completar o quadro adverso, a nova gestão vem enfrentando um acentuado crescimento na inadimplência. O índice de setembro ficou em 3,51%, ante 2,09% um ano antes – foi o sexto trimestre consecutivo de aumento. Apesar dos problemas, os analistas ainda enxergam o banco como uma empresa de bons resultados. “Por ser do governo, há a possibilidade de se ter uma notícia negativa do banco, o que até agora não aconteceu”, diz Leonardo Ziolli, analista da Magliano Corretora. “Tirando isso, é uma companhia bem estruturada.”

3 • Gerdau (GGBR4)
Setor: Siderurgia
Desempenho no ano: 132,89%
A volatilidade no preço das ações da siderúrgica Gerdau causa arrepios em alguns investidores, mas analistas colocam a siderúrgica como uma boa opção de alto risco para 2017. Com o retorno, mesmo que tímido, do crescimento da economia e o aumento dos investimentos em infraestrutura, a empresa teria melhores resultados. O efeito Donald Trump, que também promete investimentos nos EUA, onde a Gerdau tem boa parte de suas atividades, é outro possível benefício. “A venda de aços é ligada à taxa de juros e estamos observando as vendas do setor caindo cada vez menos”, diz Borges, da Ativa Corretora.

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