No ano passado, mais de 280 caixas eletrônicos foram explodidos por bandidos, somente em São Paulo. Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), esse tipo de crime gera um prejuízo anual de R$ 60 milhões às instituições financeiras. Para a americana Diebold, maior fabricante global de ATMs (sigla em inglês para caixas eletrônicos), no entanto, este não é o maior desafio para seu negócio. Criados como uma alternativa dos bancos para reduzir o movimento nas agências, os ATMs ganharam a concorrência das transações pela internet e smartphones.

Somado à violência, que inibe a instalação de novos caixas ou a reposição dos explodidos, isso tem feito o uso dessas máquinas cair de forma acentuada. O cenário está obrigando a empresa a sair de sua zona de conforto e atacar novos mercados e fontes de receita. “Queremos nos posicionar como uma conexão entre o dinheiro digital e o dinheiro físico”, diz Elias Rogério da Silva, presidente da Diebold no Brasil. Trata-se de mais uma transformação na história de 157 anos da companhia, que iniciou sua trajetória produzindo cofres de aço e caixas fortes em Cincinatti, no Estado de Ohio, um dos principais polos industriais americanos.

Nessa jornada, as ofertas de softwares e serviços passam a ter mais peso, o que já se reflete no resultado da fabricante. Em 2015, as duas vertentes representaram 56% do seu faturamento global, que foi de US$ 2,42 bilhões. “Por mais que se invista em inovações, qualquer equipamento é facilmente copiado. Os softwares e serviços, não”, diz Silva. O passo mais ambicioso nessa transição foi dado em agosto, com a compra da rival alemã Wincor-Nixdorf, por € 1,7 bilhão. Rebatizada de Diebold Nixdorf, a nova operação nasce com uma receita de US$ 5,2 bilhões e uma participação de 34% no mercado mundial de ATMs, segundo a consultoria Retail Banking Research.

Com isso, a empresa chegou a um milhão de equipamentos, ultrapassando a americana NCR e assumindo a liderança global do setor. A partir dessa base instalada, o plano é dar escala à diversificação. A cobertura geográfica, o portfólio e as carteiras de clientes complementares reforçam essa visão. Enquanto a Diebold tem maior presença na região nas Américas, a Wincor concentra boa parte de sua atuação na Europa. A aquisição traz clientes estratégicos de software para a Diebold. A lista inclui Santander, Bradesco e Sicredi. Outro ganho é a abertura de um novo campo: a oferta de softwares para o varejo.

A Wincor tem em sua carteira local grandes redes, como o Carrefour. Nessa área, o portfólio inclui, por exemplo, sistemas que integram as lojas físicas e os canais móveis e digitais dos lojistas. “A mobilidade é a corrente mais forte nos projetos do varejo”, diz Zenon Leite Neto, presidente da Associação Brasileira de Automação para o Comércio (Afrac). Segundo a entidade, o o varejo investiu R$ 3,11 bilhões em 2015 no Brasil. Para 2017, a projeção é de uma receita de R$ 3,3 bilhões. Atenta a esse potencial, a Diebold prevê ter entre 15% e

20% da receita local originada no varejo, em cinco anos. “Precisamos reduzir a dependência dos bancos, setor que hoje está restrito a quatro grandes clientes”, afirma Silva. Em 2015, os aportes dos bancos brasileiros em tecnologia recuaram 9,5%, para R$ 19 bilhões, segundo a Febraban. Do total de transações no País, 19% foram feitas via ATMs. Três anos antes, essa fatia era de 25%. A Diebold compensou a queda com a venda de terminais financeiros para lotéricas e com uma licitação do Tribunal Superior Eleitoral para o fornecimento de 100 mil urnas eletrônicas. Os equipamentos são produzidos, respectivamente, nas fábricas da companhia em Manaus (AM) e Santa Rita do Sapucaí (MG).

Por outro lado, a participação dos softwares nos gastos de tecnologia dos bancos subiu de 39%, em 2014, para 44%, em 2015. Na área, a Diebold aposta em um portfólio de inovações. O leque inclui um sistema que integra os ATMs a outros dispositivos. O cliente consegue pré-programar uma transação – um saque, por exemplo – pelo smartphone. A solução foi desenvolvida pelo time brasileiro da Diebold. Para colocar o plano em prática, empresa investe em talentos. Dos 3 mil funcionários no Brasil, cerca de 500 são dedicados à inovação. Para Silva, a relevância nessa área ressalta o papel que a subsidiária exerce no mapa global da empresa. “Não somos apenas um escritório de vendas”, diz. “Tenho total autonomia para definir os rumos.”