Poucas horas depois do acidente que quase dizimou a equipe da Chapecoense, na madrugada da terça-feira 29, na Colômbia, uma mobilização sem precedentes na história do esporte no País uniu empresas e clubes de futebol na internet, nas redes sociais, nos estádios e nos centros de treinamento. Embalados pela onda de solidariedade de torcedores brasileiros, que lançaram campanhas de apoio ao time catarinense e às famílias das vítimas – com a hashtag #ForçaChape ­–, times como Corinthians, Cruzeiro, Fluminense, Palmeiras, Portuguesa, Santos,  São Paulo e Vasco apresentaram propostas para garantir a reconstrução da equipe catarinense.

Entre as ideias estão empréstimos gratuitos de atletas, um pedido formal à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para que a Chapecoense fique imune ao rebaixamento pelas próximas três temporadas e a antecipação do pagamento dos direitos de transmissão por parte das emissoras de televisão. “Estamos tristes, sentidos com essa tragédia, mas temos de ajudar”, disse o presidente do Cruzeiro, Gilvan de Pinho. “Trabalhando unidos, nós, dirigentes de clubes do futebol brasileiro, queremos ver o time voltar com galhardia a disputar as competições.”

Embora ainda não tenha definido um plano de auxílio ao clube, a CBF sinalizou que apresentará uma proposta na próxima semana. “Ainda não sabemos como será a ajuda, mas ela virá, com certeza”, disse Marco Polo Del Nero, presidente da entidade. “Estamos vivendo uma das mais trágicas páginas da história do esporte brasileiro e lamento, profundamente, a perda de jogadores, profissionais da imprensa, dirigentes e tripulação.” O sentimento de solidariedade não se restringiu aos clubes brasileiros.

Na Espanha, a diretoria do Barcelona cancelou o treino do time ao saber da tragédia com a delegação brasileira, e os jogadores fizeram um minuto de silêncio em homenagem aos colegas de profissão da Chapecoense. Na Inglaterra, o Manchester United, o Arsenal e o Chelsea, onde jogam os brasileiros David Luiz, Oscar, Willian e Diego Costa, prestaram homenagens em seus sites oficiais e nas redes sociais. No jogo entre Liverpool e Leeds, no estádio Anfield lotado, os jogadores vestiram uma faixa preta na manga e fizeram um minuto de silêncio, logo depois de os anfitriões cantarem a tradicional You will never walk alone.

A comoção que tomou conta de clubes, torcedores e jogadores refletiu, durante toda a semana, o sentimento de solidariedade que se espalhou também pelas empresas brasileiras – patrocinadores da Chape ou não. Na quinta-feira 1º, mesmo dia em que a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) anunciou que pretende dar à equipe catarinense o título de campeã da Copa Sul-Americana, o que garantiria o time na Taça Libertadores da América e na Recopa 2017, a marca britânica de artigos esportivos Umbro antecipou que irá renovar o contrato com o clube brasileiro, que venceria em 2018.

Uma fonte da empresa, que pediu para não ter o nome revelado neste momento de luto pelas vítimas, afirmou à DINHEIRO que o acordo será “melhorado financeiramente e renovado”. A Caixa, que também estampa a camisa da Chapecoense e mantém um contrato de patrocínio anual de R$ 4 milhões, garantiu que iniciará as conversas com a diretoria do clube, assim que possível, para estender o apoio. Com esse mesmo sentimento, a Aurora, cooperativa chapecoense que patrocina a equipe da cidade desde 2007, e considerada uma das principais responsáveis pela ascensão rápida do time à elite do futebol, garantiu que irá ampliar o apoio ao clube.

“Vamos renovar por mais um ano e valores serão discutidos com a diretoria quando for mais oportuno”, disse à DINHEIRO o presidente da Aurora, Mário Lanznaster. Neste ano, a cooperativa investiu R$ 3 milhões para ter sua marca estampada nas mangas e no ombro dos jogadores da Chape, valor que deverá ser aumentado. “Essa parceria precisa continuar nesse momento tão desafiador”, garantiu. A pedido de Lanznaster, funcionários ajudaram nas preparações do funeral coletivo na Arena Condá, estádio da Chape. Mesmo empresas que não têm relação direta com o clube, como a Adidas e Ambev, declararam apoio ao processo de recomposição do time catarinense.

No caso da Adidas, todos os times patrocinados pela companhia poderão, se quiserem homenagear a equipe de Chapecó, vestir seu uniforme verde e não estampar o logo da Adidas na camisa. “A Adidas está sensibilizada com o trágico ocorrido envolvendo o time da Chapecoense e entende que em um momento como esse, marcas e cores ficam em segundo plano”, informou a Adidas, em comunicado. “Em solidariedade, vamos apoiar e participar de todas as homenagens planejadas pelos clubes patrocinados pela marca.”

Já a Ambev, que desde 2010 mantém o programa “Gestão de Campeão”, que premia os clubes mais bem administrados, estuda conceder o título à Chapecoense, principalmente por ser, antes da tragédia, um dos exemplos nesse quesito. Não haverá premiação em dinheiro. A ideia é que boas práticas de gestão atraiam novas parcerias e investimentos. “A Ambev está em contato com o clube para oferecer todo o suporte possível, disposta a tentar colaborar com o que for preciso”, informou a cervejaria, por meio de nota. Ao que tudo indica, se depender da solidariedade dos torcedores, do suporte dos clubes e do apoio das empresas brasileiras, a Chape conseguirá se reerguer.

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Unidos pela chape

Saiba o que os principais patrocinadores do clube catarinense farão após o trágico fim da equipe

• Aurora
A cooperativa investiu R$ 3 milhões neste ano para patrocinaro time deverá aumentar o valor do contrato

• Umbro
A marca de artigos esportivos anunciou antecipadamente a renovação do contrato que venceria em 2018

• Caixa
O banco estatal, que desembolsou R$ 4 milhões para patrocinar o time neste ano, também pretende estender o apoio

Colaboraram: André Jankavski e Moacir Drska

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Confira as demais matérias do Especial – O Brasil em luto pela Chapecoense:

• A força da Chape
• Tragédia inestimável
• Bola fora