23/12/2015 - 18:30
Para boa parte dos investidores em infraestrutura que operam ou demonstram interesse no Brasil, 2015 é um ano para ficar para trás. Engolido pela maior recessão em 25 anos e por uma crise política sem precedentes, o País pouco avançou em projetos necessários para tirar o atraso logístico. A virada do ano traz de volta a esperança de que o cronograma de leilões não realizados possa, de fato, sair do papel e reanimar o apetite para os investimentos. Os analistas preveem ao menos sete concessões em 2016 e torcem para uma nova fase de planejamento logístico nacional, virando a página do que consideram o período de “arrumação” dos últimos meses.
Ajuste fiscal, elevação dos juros, perda do grau de investimento, dólar em alta e crédito restrito pesaram sobre a perspectiva dos projetos ao longo de 2015. Apenas no primeiro semestre, a queda no volume de investimentos em infraestrutura foi de 36,5%, segundo a consultoria Inter B., que prevê um desempenho pior para o segundo semestre. “Dentro do cenário temeroso deste ano, tivemos alguns sucessos que garantiram certo volume de bilhões de reais para os próximos anos”, diz Mauricio Endo, responsável pela área de infraestrutura da KPMG.
“Tendo isso em vista, 2016 deve ser melhor.” Entre os leilões previstos para o próximo ano, há quatro rodovias, com trechos importantes, como a BR-163, que liga o porto de Miritituba, no Pará, ao Mato Grosso; quatro aeroportos, 21 terminais portuários e uma disputa na área de energia. Os especialistas ainda veem com ressalva o potencial de ferrovias, que continuarão enfrentando dificuldades. Uma das grandes mudanças percebidas em 2015 foi a redução da participação do BNDES nos processos diante das restrições fiscais.
A participação passou de 70% para 50%, exceto em ferrovias. Medidas como redução de burocracia para empresas internacionais participarem de leilões, estímulo à entrada de médias empresas e sinalização da criação de um novo modelo de financiamento por meio de debêntures padronizadas fazem parte das alterações que os especialistas consideram essenciais para o desenvolvimento da infraestrutura. “Houve um grande esforço por parte da equipe econômica de tentar reverter os danos da crise”, diz Cláudio Frischtak, presidente da InterB.
Embora tenham ficado abaixo do esperado, alguns resultados chamaram a atenção. O governo conseguiu tirar do papel a primeira rodada de arrendamento de portos públicos, após três anos de espera. Além de gerar R$ 430 milhões de retorno para os cofres do governo – via outorgas – e R$ 1 bilhão em investimento, criou a expectativa de inaugurar uma sequência de outras disputas previstas no Plano de Investimento em Logítica. Outra ponta de esperança aos investidores foi observada no setor de petróleo, com a 13ª rodada da Agência Nacional de Petróleo, que colocou à venda 266 blocos para exploração.
Sem áreas do pré-sal, o resultado ficou aquém do esperado. Porém, com apenas 37 blocos concedidos, atendeu a uma constante reivindicação das petroleiras: a importância da periodicidade de leilões. “Nas circunstâncias que nos encontramos, todo investimento é positivo”, diz Frischtak. “Estamos em uma situação muito difícil, tudo conspira contra as oportunidades de investir.” Sinalização semelhante tiveram as empresas com interesse na área de energia. O governo concedeu 29 hidrelétricas, concentradas majoritariamente no Estado de São Paulo.
Na época, o ex-ministro Joaquim Levy afirmou que a rodada representou um marco ao novo cenário de infraestrutura no Brasil. “Conseguimos fazer um leilão que teve investimento estrangeiro, disposição de botar R$ 17 bilhões e, pela primeira vez, sem ter de pegar dinheiro do BNDES”, disse Levy, após a disputa. Consideradas as joias raras da rodada, as usinas de Ilha Solteira e Jupiá foram arrematadas pela gigante chinesa Three Gorges por R$ 13,8 bilhões e mostraram como a presença do parceiro asiático poderá contribuir para a execução dos investimentos em todas as frentes da infraestrutura.
“O mundo inteiro continua olhando e considerando o Brasil relevante no longo prazo”, diz Endo. Com projetos amadurecidos em 2015 e a retomada de ciclos antes considerados distantes, a probabilidade é que em 2016 o governo consiga ampliar os investimentos. O gargalo na infraestrutura e inúmeras oportunidades de melhorias fazem com que o Brasil se mantenha no foco, mesmo em crise. “Não sabemos os rumos que 2016 tomará, mas existem chances e oportunidades para prosperar”, diz Frischtak. É o que esperam também os empresários que dependem dos aeroportos, estradas e portos para seus negócios.