30/04/2015 - 19:00
Em dos países mais visitados do mundo por alpinistas e amantes de esportes de aventura, o Nepal se tornou, na última semana, o foco de dezenas de empresas. Arrasado por um terremoto de 7,8º de magnitude no último dia 25, o pobre país de quase 30 milhões de habitantes, encravado no Himalaia, perderá cerca de 10 mil pessoas – até agora, cerca de cinco mil corpos foram encontrados nos escombros. Outros oito milhões de pessoas terão de reconstruir suas vidas. É nesse esforço que dezenas de empresas, como Google, Facebook, AT&T, Apple, Hyatt, Nestlé e Pepsico estão unidas para amenizar a maior catástrofe no país desde os anos de 1930.
“É num momento como esse que poder se comunicar realmente importa”, escreveu Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, em sua rede social, ao anunciar um serviço gratuito para facilitar a comunicação entre os sobreviventes com familiares e amigos. As operadoras de telecomunicações AT&T, Sprint e T-Mobile informaram que não vão cobrar por ligações feitas do país. Já a Apple ativou a possibilidade de se fazer doações para a Cruz Vermelha com apenas um clique, para os usuários cadastrados no iTunes Store. Todo socorro tem sido bem recebido. Os prejuízos financeiros com o terremoto deverão trazer impactos negativos para o país por muitos anos.
As perdas estão estimadas em US$ 10 bilhões. Isso representa quase metade do PIB de US$ 19,3 bilhões do país. Algumas estimativas mais pessimistas antecipam prejuízos maiores. Um estudo do Serviço Geológico dos Estados Unidos prevê que existem 42% de chances das perdas superarem os US$ 10 bilhões, e que elas podem se aproximar dos US$ 100 bilhões. É muito para um país que, se fosse uma companhia, não estaria nem entre as 100 maiores dos Estados Unidos. Ficaria um pouco abaixo do faturamento anual da empresa de documentos Xerox e um pouco acima da fabricante de pneus Goodyear.
O Nepal ainda se coloca na triste posição de 145º no ranking de Desenvolvimento Humano e é considerado o 16º mais pobre do mundo, com uma renda per capita de US$ 730. Após a tragédia, as Nações Unidas liberaram US$ 15 milhões de seu fundo de emergência. Mas o Programa Alimentar da ONU prevê que serão necessários muito mais recursos: US$ 116,5 milhões apenas para uma parcela de 1,4 milhão de pessoas mais necessitadas, durante os próximos três meses. E é aí que entra a participação da iniciativa privada. Companhias de alimentação estão ajudando a partir da Índia.
A Nestlé está enviando pacotes de noodles (um tipo de macarrão instantâneo). Já a Pepsico doou 60 mil garrafas de um litro de água. Até no Brasil há quem esteja ajudando. A By Kamy, marca brasileira de tapetes, anunciou que 5% do valor de todos os tapetes feitos por artesões do Nepal e vendidos por seu site será convertido em doações. A companhia promete fazer um depósito em nome do comprador para qualquer uma das quatro instituições que já ajuda no país asiático. A empresa paulista de 40 anos de existência utiliza fornecedores nepaleses desde a abertura econômica do país, há três décadas. “Tentamos contato com nossos seis fornecedores do Nepal.
Cinco deles estão bem e um não respondeu”, diz a empresária italiana Francesca Alzati. “O Nepal faz parte do mundo da tapeçaria. Tem um povo muito sofrido, mas que coloca muita fé nos produtos que faz.” Um dia depois de anunciar a ajuda, a empresa vendeu um tapete nepalês de R$ 9 mil. A indústria do turismo também está se movimentando. A rede de hotéis Hyatt anunciou a doação de US$ 100 mil e a sua unidade em Katmandu está recebendo desabrigados e representantes da ajuda internacional. As companhias aéreas American Airlines e United Airlines estão oferecendo milhas em troca de doação.
E as organizações Associação do Comércio das Viagens de Aventura e a Associação da Indústria Outdoor se uniram para analisar como poderá ser feita a reconstrução da infraestrutura turística. Afinal, o setor turístico é um dos que mais serão prejudicados com a tragédia. Uma escalada ao Monte Everest custa milhares de dólares. A temporada de subida deste ano estava apenas no começo quando foi interrompida pela tragédia. Os atrativos turísticos do país também foram fortemente afetados. No vale de Katmandu, quatro dos seis locais protegidos pela Unesco foram severamente destruídos. Entre eles, está o templo Kastha-mandap, reconhecido por ter sido todo esculpido, no século XII, com a madeira de uma única árvore e por ter inspirado o nome da capital do país.