A forte alta do dólar no ano passado foi inesperada e atrapalhou as férias de muita gente que planejava uma viagem internacional. Com um salto de quase 50%, a moeda americana passou de R$ 2,65 para R$ 3,90. E, neste início de ano, já ultrapassou os R$ 4,00. O balanço das contas externas, divulgado pelo Banco Central na terça-feira 26, mostra uma clara mudança de comportamento. Houve queda de 32% nos gastos dos brasileiros no exterior, totalizando US$ 17,4 bilhões em 2015, ante US$ 25,6 bilhões registrados em 2014.

É uma redução de US$ 8,2 bilhões. Dado que o novo patamar do câmbio encarece as passagens aéreas e as diárias dos hotéis, além dos produtos e serviços pagos lá fora, seria natural supor que o turismo interno se transformará na bola da vez, certo? Depende. O ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, rapidamente veio a público para salientar que “as viagens nacionais são uma grande aposta do turismo brasileiro”. E concluiu que parte dos US$ 8,2 bilhões (cerca de R$ 32 bilhões) que deixaram de ser gastos lá fora, no ano passado, pode ficar aqui, no País, e movimentar a economia turística doméstica.

“É uma oportunidade de atrair e cativar um público diferenciado para todos que trabalham no setor”, afirma Alves. O ministro tem razão, mas é preciso reconhecer que a crise econômica vem derrubando negócios e encolhendo a renda das famílias, através da inflação elevada e da alta do desemprego. Portanto, o brasileiro que deixou de ir ao exterior não está necessariamente com o bolso cheio para desfrutar das maravilhas brasileiras. Afinal de contas, a nova classe média também conseguiu conhecer o Pato Donald, na Disney, nos tempos de vacas gordas, crescimento da renda e crédito farto.

Quanto ao “público diferenciado” mencionado pelo ministro, trata-se de turistas mais exigentes. Entendo aqui que o ministro se refere a uma elite endinheirada acostumada a ser bem servida no exterior. Para convencer esse turista de que uma viagem ao Nordeste, por exemplo, pode ser tão gratificante quanto ir à Califórnia – de fato, pode ser –, é preciso oferecer serviços de qualidade e, principalmente, segurança. No primeiro item, o setor evoluiu muito por conta da realização da Copa do Mundo, em 2014, e dos Jogos Olímpicos, neste ano.

Houve uma mudança considerável na infraestrutura dos aeroportos, na qualidade de hotéis e no serviço prestado pelos trabalhadores. Gentileza sempre foi uma marca do nosso turismo. O Nordeste, mais uma vez citado como exemplo, é referência em calor humano. Com um pouco de treinamento, a nossa mão de obra jamais será inferior à de nenhum país. Já o segundo item, a segurança, depende do poder público. E como tudo que depende dos governantes neste País… Além de convencer o brasileiro a viajar mais pelo Brasil, há outra missão para os agentes e as empresas ligadas ao turismo interno: atrair os gringos.

Afinal de contas, o mesmo câmbio que prejudica as nossas viagens ao exterior barateia a vinda do estrangeiro. Com os Jogos Olímpicos batendo à porta, teremos mais uma chance de carimbar a imagem verde e amarela nas mentes e nos corações mundo afora. O governo federal estima receber 350 mil fãs do esporte e alcançar uma audiência global de cinco bilhões de pessoas. O turismo brasileiro não terá outra oportunidade deste tamanho tão cedo. Talvez nunca mais. Só falta perdemos a batalha para o zika vírus.