12/01/2011 - 21:00
Firmeza, agilidade, destreza nos movimentos e manobras certeiras são características de um exímio malabarista. Também são as habilidades necessárias para os gestores de fundos multimercado. A meta desses investimentos é oferecer um rendimento maior que o dos fundos de renda fixa, obtido por meio da diversificação das aplicações. Os gestores podem investir em ativos de renda fixa e de renda variável.
Incerteza: ativos financeiros oscilaram muito em 2010, panorama que deve continuar neste ano
Valem títulos públicos, papéis indexados à inflação, Certificados de Depósito Bancário (CDB), ações, derivativos e câmbio. A maior ou menor agressividade varia de acordo com os princípios de gestão dos fundos, que são recomendados para quem busca rentabilidade, está disposto a correr um pouco de risco e não precisa dos recursos no curto prazo.
Em 2010, os gestores de fundos multimercado tiveram de exercitar ao máximo sua capacidade de manter várias peças no ar ao mesmo tempo.O ambiente foi desafiador: dos cerca de dois mil fundos desse tipo, apenas 144 apresentaram um desempenho superior ao da valorização dos juros de mercado, medidos pela taxa dos Certificados de Depósito Interfinanceiro (CDI), segundo os dados do sistema Economática.
A grande maioria sofreu devido à falta de direção clara da bolsa, dos juros e do câmbio. “Os preços dos ativos foram marcados por fortes oscilações, sem tendência definida, o que dificultou o trabalho dos gestores”, diz o consultor André Luiz Oda, especialista em fundos.
Os multimercado são os mais versáteis da indústria, por isso possuem uma classificação tão diversificada: estratégia específica, juros e moeda, macro, multiestratégia e multigestor.
Neles, os gestores têm bastante liberdade para traçar as estratégias mais adequadas a seus prognósticos de mercado, podendo, por exemplo, apostar na alta ou na baixa das ações e dos juros, na apreciação ou na desvalorização do dólar e até arriscar um pouco em outros ativos, como derivativos, ouro e commodities agrícolas.
Todos esses mercados apresentaram desempenhos bastante incertos ao longo do ano e as mudanças abruptas de posição pelos gestores custaram preciosos pontos de rentabilidade.
Não por acaso, a reação dos investidores ao comportamento dos multimercados foi marcada por dois momentos bem diversos. Até agosto, as carteiras sofreram com os fortes resgates, num dos piores desempenhos da indústria. As perdas chegaram a R$ 6,3 bilhões.
A partir do mês seguinte, porém, a melhora do desempenho dos fundos voltou a atrair o dinheiro dos cotistas. Até novembro, data final da pesquisa, essas carteiras vinham apresentando uma captação líquida de recursos de R$ 28,2 bilhões, a segunda melhor do setor, perdendo apenas para a categoria de renda fixa.
A necessidade de competência extra ao lidar com os malabares derivou das incertezas do mercado internacional, cujas oscilações afetam em cheio o fluxo de recursos para o Brasil.
Problemas como a recuperação incerta da economia americana e as pesadas crises fiscais na Europa, em especial na Grécia e Irlanda, obrigaram os gestores a manter mais objetos no ar.
“A avaliação do cenário ficou muito mais difícil”, afirma Eduardo Castro, superintendente executivo de gestão de fundos da Santander Asset Management. No cenário interno, a preocupação foi com relação à inflação.
O excesso de liquidez no mercado financeiro e o aquecimento da economia turbinaram os preços, e a eleição ajudou a tornar mais incerta a trajetória dos juros. “Ambientes desse tipo apresentam muitas oportunidades, mas também são ricos em riscos”, diz Castro.
Os prognósticos para 2011 não são diferentes. “O mercado permanecerá volátil e desafiador para as diferentes classes de ativos”, diz Vicente Carvalho, gestor da Mcap, cujo fundo Mcap Mach ficou em primeiro lugar entre os fundos multimercado macro no ranking elaborado pela DINHEIRO.
O resultado derivou de uma estratégia disciplinada de gestão e gerenciamento de risco. “O cenário foi difícil de analisar e não apresentou tendências claras”, diz Carvalho.
Tradicionalmente, as ações caem quando os juros ameaçam subir e, inversamente, a bolsa avança quando os juros diminuem. Agora, diz Carvalho, esses movimentos serão menos automáticos.
“Haverá menos correlação entre os juros, a bolsa e o dólar este ano”, diz ele. Será preciso manter a atenção em mais variáveis. Com mais malabares no ar, a vida de quem administra fundos multimercado vai ficar mais difícil.
Márcio Correia, da administradora de fundos independente JGP, avalia que neste ano gestores – e investidores – terão de lidar com um cenário que permanecerá difícil. “A Europa é uma grande incerteza. Países como Grécia, Espanha, Irlanda e Portugal ainda podem provocar sobressaltos no mercado”, diz ele.
Os profissionais já se armam para enfrentar o desafio. A gestora de recursos do Itaú Unibanco vem colocando os multimercados como um dos principais pilares de sua estratégia desde 2005.
“Temos um projeto ambicioso”, diz o superintendente Marcello Siniscalchi. Ele lidera uma equipe de 17 pessoas que trabalham na gestão desses produtos para garantir os melhores ganhos para os clientes.
“Não conseguiremos um bom desempenho se não tivermos foco”, diz. O desafio é ser ágil dentro de uma instituição tão grande. “Nós funcionamos como uma empresa de gestão independente, com a vantagem de estarmos ligados a um grupo forte.”
O trabalho compensa. Diante de tanta complexidade, esses produtos costumam ter taxas de administração em média de 2% ao ano, mais elevadas que as dos fundos de renda fixa ou dos referenciados DI.
Os multimercado são adequados para você? Antes de olhar para a rentabilidade, avalie seu perfil de risco. Se você não tem estômago para as fortes emoções do malabarismo financeiro, evite esses produtos e reduza o risco de sua carteira. Mas não se esqueça de que os prêmios maiores estão no longo prazo.
“O investidor não deve perder a paciência porque os últimos 12 meses foram ruins. Não foi a primeira vez que isso aconteceu, nem vai ser a última”, diz Bruno Lembi, sócio da M2 Investimentos.
“Quem aplica em fundos multimercados deve traçar sua estratégia pensando no longo prazo, pelo menos três anos.” Nas tabelas desta reportagem, você também pode conferir o desempenho dos fundos em 24 meses, o que pode ser revelador. E não se intimide: peça ao seu gestor os números relativos a prazos mais longos.