17/11/2010 - 21:00
O luxuoso escritório de Robert John van Dijk, executivo responsável pela área de gestão de fortunas do Banco Votorantim, localiza-se em um moderno prédio na zona sul de São Paulo. De sua sala, no sétimo andar do edifício envidraçado, ele pode desfrutar de uma vista privilegiada da cidade.
Frequentemente, suas jornadas prolongam-se até bem depois do pôr do sol. Ele está encarregado de colocar em marcha o mais recente movimento estratégico do Votorantim: uma aposta pesada no mercado de private bank, os serviços voltados para o cliente de altíssima renda, com mais de US$ 1 milhão para investir. A iniciativa será conduzida em conjunto com o sócio Banco do Brasil.
Odair Abate: ex-Lloyds, ele será o economista-chefe da instituição,
que atuará em private bank, gestão de fundos e mercado de capitais
Seguindo essa estratégia, con duzida com a habitual discrição do Votorantim, foram contratados vários profissionais do mercado, como o executivo Francisco Di Roberto Júnior, que comandou o private do ABN Amro durante mais de 15 anos, e o economista Odair Abate, especializado em traçar estratégias de investimento para clientes de alta renda e que já passou por bancos focados nesse segmento, como Lloyds, BankBoston e Itaú.
Além deles, o Votorantim recrutou mais de 20 gerentes de relacionamento e alterou sua estrutura de produtos, oferecendo aplicações mais sofisticadas. Procurados, os executivos do Votorantim não falaram com DINHEIRO. A aposta nos clientes muito ricos é acertada. “Esse é o segmento de mercado que mais cresce”, diz Erivelto Rodrigues, sócio da consultoria Austin Ratings, especializada em bancos.
O aumento dos negócios de private bank deve avançar 15% em 2010, e, segundo uma pesquisa da empresa PriceWater-houseCoopers, existem hoje 200 mil brasileiros com mais de US$ 1 milhão disponíveis para investir. Os empresários que venderam suas empresas, os executivos que participaram das aberturas de capital e os profissionais que souberam surfar nas ondas de prosperidade dos últimos anos, todos eles são clientes em potencial dos private banks.
Robert John Van Dijk: o Votorantim pode representar
para o BB o mesmo que o BBA significou para o Itaú
A estratégia do Votorantim é buscar esses milionários, tanto os que são clientes do Banco do Brasil quanto os eventuais descontentes com as recentes associações de bancos de varejo, como Itaú com Unibanco e Santander com ABN Amro. Para o Banco do Brasil, que comprou 49,99% do capital do Votorantim no início de 2009 por R$ 4,2 bilhões, a atuação por meio do banco dos Ermírio de Morais faz todo o sentido.
“O BB tem o código genético de um banco de varejo e, nesse caso, é muito mais difícil atuar no atacado, por isso faz todo o sentido usar a placa do Votorantim, que é muito respeitado nesses segmentos”, diz Rodrigues. Procurados, os executivos do Votorantim não falaram com DINHEIRO.
O private bank não será a única iniciativa no segmento de alta renda. Além do private bank, estão sendo recrutados profissionais para a gestão de fundos e para as atividades de banco de investimentos. “O Votorantim será para o Banco do Brasil aquilo que o BBA foi para o Itaú”, diz um executivo do setor.
Quando comprou o BBA no fim de 2001, o Itaú aproveitou-se do conhecimento de seus profissionais para alavancar suas atividades de atacado, usando sua força como grande banco de varejo. O BB fez um movimento parecido, aproveitando-se do impacto da crise financeira sobre o grupo Votorantim, que perdeu bilhões de dólares em 2008 com a súbita valorização do dólar que vitimou empresas como Aracruz e Sadia.
Depois de comprar quase metade do banco e realizar uma integração bastante lenta, o BB está se preparando para colocar as máquinas do Votorantim em funcionamento. “O BB vai se aproveitar da placa do Votorantim, e construir um banco de investimentos completo”, diz o executivo.