15/09/2010 - 21:00
Nos últimos cinco anos, a indústria de cruzeiros navegou na onda de um dos maiores crescimentos do mercado. O número de passageiros saltou de 139,4 mil para 720 mil, a quantidade de navios cresceu de seis para 18 e o faturamento pulou de US$ 68 milhões para US$ 534 milhões. Essa expansão, é verdade, se deve a ingredientes fundamentais: os navios percorrem vários pontos turísticos numa mesma viagem, os preços dos pacotes são mais acessíveis e conseguiram abocanhar boa parte dos integrantes da classe C, ávidos por viajar.
Porto no Rio de Janeiro: poucos terminais brasileiros conseguem atender vários navios ao mesmo tempo
Mas, justamente agora que a indústria se prepara para bater recorde de passageiros transportados, as companhias terão de reduzir a velocidade. “O crescimento desse segmento do turismo vai parar.
Isso porque a capacidade dos terminais de desembarque está esgotada”, diz Carlos Eduardo Bueno Netto, presidente da Brasil Turis, a associação dos pequenos terminais turísticos, e dono de um terminal em Búzios, o Porto Veleiro.
“Os grandes portos são feitos para carga e os pequenos terminais turísticos não suportam o aumento da demanda”, diz. Atualmente, diz Bueno, o Brasil conta com 18 terminais turísticos mais os portos nas grandes capitais, mas seria necessário construir mais dez terminais para atender à demanda no mercado nacional. Isso faria com que o número de passageiros saltasse dos atuais 720 mil para dois milhões por ano.
“Não houve outro país no mundo em que o número de passageiros crescesse como no Brasil nos últimos anos”, diz Ricardo Amaral, presidente da Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Abremar).
Com esse movimento, o País já se tornou o quinto do mundo no ranking das viagens de navio (leia quadro). Nem o surto de norovírus, causador de infecções intestinais em dezenas de passageiros na temporada passada, foi capaz de derrubar esse fluxo.
A clientela brasileira continua lotando os cruzeiros, cujas taxas de ocupação são de 95%. Nesta próxima, espera-se um crescimento de 20%, mas poderia ser mais. “Esse fato já foi o desespero dos donos de resorts, diz Rubens Régis, presidente da associação Resorts Brasil.
“Cinco anos atrás, eles nos tiravam clientes por causa do preço, mas hoje felizmente estamos em faixas diferentes”, afirma. Atualmente, o cruzeiro marítimo ficou barato, já é acessível até à classe C.
Mas não adianta ter clientes e faltar estrutura para atendê-los. E isso pode fazer com que haja um êxodo do País. “As companhias podem buscar outras rotas mais preparadas como os Emirados Árabes e países asiáticos”, diz Amaral, da Abremar.
“Eles têm clientes com boa renda e operação com menores custos em lugares como Dubai ou a Ásia, por exemplo”, diz. Enquanto por aqui os terminais só recebem um navio por vez, nesses lugares é possível atracar até quatro embarcações ao mesmo tempo.
“Em Porto Belo, Santa Catarina, os navios fazem o desembarque usando o iate clube”, diz Dóris Ruschmann, diretora técnica da Ruschmann Consultores. “Isso não é apropriado.”