21/10/2016 - 20:00
O magnata americano Donald Trump bem que tentou seguir os conselhos de seus assessores do Partido Republicano de se manter calmo e moderado no terceiro e último debate da corrida presidencial americana, promovido pelo canal CNN no último dia 19, em Las Vegas, no Estado de Nevada. Numa espécie de tudo ou nada, Trump, que enfrenta graves acusações de assédio sexual na reta final da campanha, aparece cada vez mais distante da democrata Hillary Clinton nas pesquisas de intenção de votos. Institutos americanos apontam que a candidata tem até 92% de chances de vencer a eleição presidencial, que acontece em 8 de novembro.
Mas o forte temperamento do empresário e sua falta de papas na língua não evitaram que ele deixasse de trazer à tona polêmicas xenofóbicas contra imigrantes, além de fazer ofensas à sua rival. “Que mulher mais detestável”, disse o empresário, enquanto Hillary discursava sobre suas propostas para a política fiscal e de previdência. “Trump incita a violência”, respondeu a democrata, referindo-se à campanha do adversário. Embora a grande marca dessa eleição tenha girado em torno de polêmicas e escândalos nos dois lados, a principal dúvida, neste momento, é sobre qual será o rumo da economia americana. A preocupação de especialistas aumentou no decorrer das campanhas, por causa das políticas econômicas e comerciais protecionistas elaboradas pelos dois candidatos.
Elas poderão ser colocadas em prática nos próximos quatro anos, seguindo uma crescente onda de desglobalização, que atingiu a Europa com o fenômeno do Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia. A força para esse movimento se repetir nos EUA vem dos cerca de cinco milhões de postos de trabalho industriais que foram fechados no país nos últimos 15 anos, em decorrência da migração de fábricas para países com mão de obra mais barata, como a China. Com a precarização do salário dos americanos de classe média, parte relevante da população tende a amaldiçoar tratados que, com a liberalização de comércio, possam prejudicar a criação de empregos.
É o caso da Parceria Transpacífico (TPP, na sigla em inglês) e o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta). “Apesar de ambos adotarem um discurso contrário a tratados, a minha sensação é a de que, na verdade, isso seja um instrumento retórico para dialogar com o eleitorado”, diz Fernanda Magnotta, coordenadora do curso de relações internacionais da FAAP, que está em Ohio para acompanhar as eleições americanas. “É difícil prever como Trump reagirá se vencer. Porém, não acredito que a Hillary rejeitaria o TPP.” A tendência é que Trump promova o retrocesso nos esforços de Barack Obama para promover uma maior liberalização comercial ao assinar o TPP, principal acordo do tipo no mundo.
Um estudo do Instituto Peterson de Economia aponta que, se o republicano colocar em prática suas propostas econômicas controversas, como tirar os EUA da Organização Mundial do Comércio e promover uma maior taxação para transações comerciais com grandes parceiros, como a China e o México, a economia americana pode enfrentar uma grave recessão em 2019, com queda de investimentos, de consumo e o aumento no desemprego. “O retrocesso em relação à liberalização comercial e ao TPP pode diminuir a influência dos Estados Unidos na bacia do Pacífico, o que, consequentemente, aumentará a relevância da China no local”, diz Marcos Troyjo, diretor do BRICLab da Universidade Columbia, em Nova York.
Mesmo distante de um discurso mais liberal, especialistas indicam que é mais provável que Hillary siga os passos do ex-marido, Bill Clinton, que, durante a campanha presidencial, em 1992, posicionou-se contra o Nafta. Ao assumir a Casa Branca, ele aderiu ao tratado. “Se ela for eleita presidente, haverá um ajuste com relação ao que foi praticado por Obama”, diz Fernanda. “Sempre há uma adaptação de agendas e práticas, mas não esperamos nenhuma radicalização.” Nessa parte final, o duelo só não pode pender para o lado mais radical.