13/04/2011 - 21:00
Um país com demanda interna aquecida, pressão inflacionária e câmbio valorizado. Quem pensa que esse tripé econômico é exclusividade do Brasil se enganou. Colômbia, Peru, Uruguai e Chile também estão às voltas com a necessidade de controlar a entrada de capital estrangeiro para proteger suas respectivas moedas, em meio à mudança na ordem econômica global, ao mesmo tempo em que monitoram a inflação e tentam reduzir o ritmo das atividades.
Com os níveis de consumo e investimento ainda deprimidos nos países mais ricos, a América do Sul atrai os fluxos de capitais estrangeiros. “Esse não é um assunto exclusivamente brasileiro, é latino-americano”, diz Ernesto Talvi, diretor acadêmico do Centro de Estudos de Relações Econômicas e Sociais (Ceres) do Uruguai, ligado ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Casa de câmbio em Buenos Aires: forte atração de dólares pressiona cotações
“Há uma abundância de recursos nas nações mais desenvolvidas e o destino natural é a América Latina.” Segundo Talvi, a taxa de poupança subiu nos países europeus e nos Estados Unidos porque tanto as empresas como a população em geral se esforçam para economizar e pagar as dívidas que ficaram pendentes com a crise de 2009. Com menos dinheiro circulando nos países ricos, o sistema financeiro global precisa aplicar seu capital onde há mais oportunidade. A solução é desembarcar por essas bandas onde a remuneração do capital é mais segura.
Com mais dinheiro disponível, a atividade econômica se movimenta e alimenta a alta das moedas locais. Um levantamento do banco Santander mostra que, entre março do ano passado e março deste ano, o peso chileno subiu 9% (passou de 524,4 pesos a 468 pesos por dólar), mais até do que a alta do real, que ficou em 8,4% no período.
Ernesto Talvi: “Há uma abundância de recursos nas nações desenvolvidas
e o destino natural é a América Latina”
A Colômbia teve alta de 2,6% da sua moeda entre março de 2010 e este ano e o Peru, de 1,3%. “Os três países também estão adotando o aumento de juros para atenuar a alta do consumo e da inflação”, afirma o economista Cristiano Souza, do Santander. Já o Uruguai, que cresceu 8,5% em 2010, teve uma valorização um pouco mais modesta da sua moeda na comparação anual, de apenas 1%.
Porém, no primeiro trimestre a alta foi de 3,3%, com a retomada das exportações de commodities agrícolas e a demanda aquecida internamente. “A venda de bens duráveis, como automóveis, e a indústria da construção no Uruguai estão fortíssimas”, diz Talvi, do Ceres. O mercado de trabalho uruguaio também apresenta taxas de crescimento inéditas há sete meses consecutivos, com o fortalecimento de empresas exportadoras e o investimento produtivo de outros países.
A dinâmica desses países mostra que qualquer semelhança com o cenário brasileiro não é mera coincidência. Assim como o Brasil, Colômbia, Uruguai, Peru e Chile são fortes produtores de commodities e se beneficiam da valorização dos preços internacionais. Ou seja, têm para entregar o que o mundo mais quer comprar – alimentos e minérios. Essa forte demanda, ancorada principalmente pela China, já elevou em 20% o preço das commodities, segundo o índice Commodity Research Bureau (CRB), que reúne 19 produtos. O Peru, por exemplo, também usufrui de investimentos chineses como acontece aqui e das exportações de minério (cobre) para o gigante asiático.
A bonança atrai, inclusive, empresas brasileiras para a região. Na Colômbia, a Odebrecht participa de uma das obras mais importantes de infraestrutura daquele país, a Rota do Sol, que vai abrir estradas de Bogotá até o Caribe, numa extensão de mais de 500 quilômetros. Na mesma linha, a gaúcha Gerdau deve investir US$ 600 milhões em três anos na ampliação e modernização de uma siderúrgica no Peru.
O reverso dessa boa fase também está presente no Brasil, Uruguai, Chile e Colômbia, ou seja, o desafio de controlar a inflação e a taxa de câmbio. E o remédio é amargo tanto aqui como nos demais países. “Todos têm de empregar uma política fiscal eficiente, com o controle de gastos do setor público, para reduzir o consumo e melhorar as contas públicas”, diz Talvi. O problema é que, com exceção do Chile, a tendência dos países é gastar mais do que podem. O desafio é evitar a ressaca, que todos conhecem bem.