“Nunca aposte contra os Estados Unidos.” A célebre frase do megainvestidor Warren Buffett sobre a capacidade de recuperação da economia americana pós-pandemia, e por vezes questionada em todo o mundo, tem se mostrado profética. Na semana passada, a Agência de Análises Econômicas do Departamento do Comércio dos EUA (BEA, na sigla em inglês) revelou que a maior economia do mundo avançou 2,5% em 2023, acima do resultado de 1,9% de 2022 e muito acima das projeções — em junho, o Banco Mundial estimava +1,1%.

Melhor ainda: a aceleração ocorreu na segunda metade do ano, com altas de 4,9% e 3,3% no terceiro e quarto trimestres, respetivamente. Ou seja, a economia começou 2024 no embalo do bom resultado de 2023.

A notícia foi recebida com euforia não só no campo econômico, mas também para a ala democrata da política americana. Nas últimas semanas, a ascensão do ex-presidente Donald Trump na corrida eleitoral deste ano vem preocupando os apoiadores do presidente Joe Biden.

A economia tem sido uma das principais bandeiras de Trump na ofensiva contra Biden. Mas os argumentos de enfraquecimento da indústria e do consumo ficaram mais fracos. Especialistas consultados pela DINHEIRO reforçaram o que já se previa no segundo semestre de 2023: que os números mostram que o risco de recessão está cada vez mais distante e o país caminha para um pouso suave.

Além da conjuntura favorável para a economia americana, os gastos do governo, com alta de 3,3%, ajudaram a puxar para cima o crescimento do PIB, segundo Guilherme Camara, especialista em economia internacional. “Isso é natural, já que o governo Biden precisa investir em diversas áreas para ter mais chances de vencer a eleição de 2024, que deve ser a mais disputada dos últimos anos, especialmente se for contra Donald Trump”, afirmou Camara.

O economista Julio Franco concorda com Camara sobre os gastos públicos terem influenciado o resultado do PIB acima das expectativas. Para ele, foi grande a contribuição do consumo das famílias e dos gastos do governo. Isso mostra que a economia americana está mais resiliente, afastando o risco de recessão, o que tem sido chamado de soft landing pelo mercado.

O efeito colateral desse aumento de gasto, segundo ele, é o crescimento considerável na dívida pública e no déficit fiscal, que nos próximos anos podem impactar negativamente a economia global se não forem controlados brevemente. Por outro lado, houve também um aumento nos gastos das famílias e uma queda nos índices de inflação, o que colaborou com esse crescimento do PIB acima do esperado.

O consumo das famílias, com alta de 2,8% no ano passado, puxou para cima a produção industrial e o PIB do país (Crédito:Charly Triballeau )
(Bill Pugliano)

ALÍVIO

O consumo das famílias foi, de fato, uma das locomotivas do crescimento. Anualizada, a taxa de crescimento foi de 2,8% no quarto trimestre, o que contribuiu em 1,91 ponto percentual para a variação do PIB americano. Já os investimentos privados, especialmente do setor industrial, tiveram avanço de 2,1%, na mesma base de comparação.

O resultado do PIB americano ajudou o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), na reunião da quarta-feira (31), a manter estável a taxa básica de juros entre 5,25% a 5,50% ao ano.

Todos esses dados mostram a economia rodando bem e a inflação comportada. A inflação americana está em torno de 3%, bem abaixo do pico de 9,1% em julho de 2022. A trajetória de queda veio com o aperto monetário.

Diante desses números, por enquanto está descartada qualquer crise econômica em curto prazo nos Estados Unidos. O que está em aberto é a corrida pela Casa Branca.