A sala de Toshifumi Murata,  presidente do Banco de Tokyo no Brasil, é um ambiente amplo e suntuoso, com imponentes móveis de madeira escura, confortáveis sofás de couro, obras de arte brasileiras e japonesas. Também é o melhor lugar do banco para se esconder do presidente. Murata só usa a sala para reuniões com clientes. Seu dia a dia transcorre quatro andares abaixo, em uma mesa bem mais simples situada ao lado da maioria dos funcionários. 

Não é um gesto  de desprendimento,  motivado pela filosofia oriental, mas necessidade de eficiência. “O fato de estarmos ao lado dos outros executivos torna as decisões muito mais ágeis”, diz Murata, em seu português fluente e com um leve sotaque, exercitado durante os anos em que representou o banco japonês UFJ em sua parceria com o Bradesco, no Brasil. “Antes de eu me mudar para cá, as decisões demoravam para chegar à minha mesa e não podemos mais perder esse tempo.”

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“Meu trabalho é no campo” Toshifumi Murata, na sala luxuosa usada só para receber visitas de clientes 

Agilidade é a nova palavra de ordem na representação brasileira do banco de Tokyo. Depois de um longo tempo apresentando um desempenho modorrento, a subsidiária  recebeu, no fim de maio, uma injeção de R$ 660 milhões da matriz. O dinheiro elevou o patrimônio líquido para R$ 850 milhões e abriu espaço para o banco turbinar os empréstimos. Os chefes de Murata também garantiram uma linha de crédito de US$ 1 bilhão, com um custo bem camarada – juros internacionais medidos pela Libor mais 0,25% ao ano. 

A contrapartida para toda essa generosidade foi a ordem expressa de acertar um ippon na concorrência e avançar depressa no mercado. O fato de a economia japonesa vir crescendo pouco há duas décadas e a excessiva concentração de negócios na Ásia – na China em particular – fizeram os principais executivos, em Tóquio,  ampliar as apostas por aqui. “Antes da crise, fomos um dos maiores bancos estrangeiros em atividade no Brasil”, afirma Murata. “Agora vamos voltar a ser relevantes nesse grupo.” 

A meta, diz ele,  é figurar entre as dez maiores instituições financeiras de origem internacional, que inclui  gigantes de varejo como Santander e HSBC, e concorrentes de respeito, como o Citibank. Para isso, Murata passa boa parte de seu tempo fora do prédio da avenida Paulista, cuja entrada se inspira em uma máquina fotográfica antiga. “Meu trabalho é em campo, visitando clientes.”

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A nova orientação representa uma ruptura com a estratégia das duas últimas décadas. Durante os anos 1970 e 1980, os vários bancos japoneses que atuavam por aqui se dedicavam, principalmente, a atender às necessidades de financiamento e câmbio das empresas nipônicas. Esse modelo se esgotou com a crise nas matrizes. Vinte anos antes da crise do subprime nos Estados Unidos, eles foram afetados por uma bolha especulativa, que elevou à estratosfera os preços dos imóveis no Japão. 

Quando a euforia passou, essas instituições financeiras, antes consideradas as maiores do mundo, tiveram de fazer ajustes violentos, encolher e se fundir. “O ajuste do sistema financeiro japonês foi rigoroso e profundo”, diz Alcino Leite, professor da Trevisan Escola de Negócios. Não por acaso, o nome oficial da instituição financeira é Banco de Tokyo-Mitsubishi UFJ, representando a união de três concorrentes.

Um regime tão severo debilitou as atividades da turma. Fora o banco de Tokyo, apenas os bancos das montadoras Honda e Toyota e o concorrente Sumitomo mantêm atividades no Brasil. Os demais deixaram de operar há anos. O desafio de Murata é romper com essa inércia. Para isso, ele quer ir além da atuação tradicional de servir às empresas da comunidade. “Queremos emprestar dinheiro e montar operações de câmbio e de tesouraria para a Petrobras e a Vale”, diz.  Os clientes tradicionais, porém, não saíram do foco. “Vamos abrir um escritório em Manaus para atender as empresas de eletrônica que têm fábricas lá.”

Não será um caminho fácil. As grandes empresas são o alvo preferencial dos bancos de atacado e costumam negociar duramente cada centésimo de ponto percentual do capital que tomam emprestado. Por isso, o banco vai depender pesadamente do capital da matriz. “Crescer nesse nicho vai exigir muito esforço”, diz Leite, da Trevisan.