11/07/2012 - 21:00
Há cerca de cinco anos, o empresário gaúcho João Paulo Sattamini, 29 anos, resolveu dar uma guinada em sua vida. Em todos os sentidos. Vendeu sua parte em uma editora na qual era sócio, em Porto Alegre, e foi fazer um MBA de gestão empresarial em Barcelona. “Foi como voltar à estaca zero”, diz. A inspiração para a nova tacada empresarial, no entanto, surgiu apenas em 2008, nos meses finais de seu período sabático de dois anos, enquanto cumpria uma rotina diária de 14 horas de meditação em Kerala, na Índia. “Decidi desenvolver um energético orgânico, por ser um produto saudável e porque era um segmento ainda inexplorado no Brasil”, afirma Sattamini. A BrasilBev nasceu naquele mesmo ano, mas somente há três meses é que o sonho se tornou realidade.
Explosão criativa: Sattamini, dono da BrasilBev, idealizou o Organique
quando morava na Índia, em 2008.
Foi quando chegou às gôndolas das redes de produtos naturais o Organique. Feito de erva- mate, guaraná e açaí, a bebida é a primeira desse nicho totalmente natural, de acordo com o empreendedor. Ela será a ponta de lança de uma estratégia que prevê um vasto portfólio de alimentos e bebidas que deverão gerar, ao final de 2017, uma receita de R$ 30 milhões para a BrasilBev. Sattamini integra uma legião cada vez maior de empreendedores que, a cada dia, apostam as fichas em um segmento que movimenta R$ 1,1 bilhão e deverá crescer de forma exponencial nos próximos anos. Um grande impulso nesse sentido foi a criação, em janeiro, do selo nacional de alimentos orgânicos, pelo Ministério da Agricultura.
Com o selo, o consumidor terá mais segurança para identificar os itens que realmente são fabricados com ingredientes naturais e, por isso, custam até 30% mais que os convencionais. “Quem compra produtos orgânicos não são os consumidores com mais dinheiro no bolso, mas os que têm maior nível cultural”, diz Ricardo Cruz, sócio-fundador da rede de lojas Nação Verde. “O brasileiro está descobrindo agora que, pagando um pouco mais, pode ter acesso a versões mais saudáveis dos itens que ele está habituado a consumir”, afirma Ming Chao Liu, coordenador-executivo da Organics Brasil, associação criada para promover, no Exterior, os produtos orgânicos do Brasil. Pelas contas de Liu, o setor cresce cerca de 40% ao ano no País. Outra que está se preparando para tirar partido desse novo cenário é a curitibana Jasmine Alimentos, que há 15 anos trabalha com orgânicos.
“Nosso foco passou a ser os itens mais elaborados e de consumo instantâneo”, diz Damian Allain, diretor de marketing da empresa. Desde então, cookies, linhaça e papinha engrossaram o catálogo da companhia e devem responder por 25% da oferta e do faturamento de R$ 110 milhões projetado para 2012. Outra que vem seguindo a mesma tendência é a paulista Mãe Terra, que há cerca de dois anos incluiu no portfólio macarrão instantâneo, cookies e salgadinhos. “Com a profissionalização da cadeia produtiva, a oferta de orgânicos aumentará e o preço deverá cair”, afirma Alexandre Borges, sócio-diretor da Mãe Terra. É nessa tendência que aposta o gaúcho Sattamini, da BrasilBev.